UnB
21/02/2020

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Isaac Roitman

Estamos em plena era da sociedade do conhecimento, onde a produção do saber e a inovação representam o principal fator estratégico para o desenvolvimento social e econômico. Atualmente, cada vez mais o trabalho físico é feito pelas máquinas, e o mental, pelos computadores. No entanto, cabe ao homem a tarefa de ter ideias e ser criativo.

Galileu Galilei (1564–1642) é considerado o fundador da ciência moderna. Estabeleceu os alicerces do método científico e da autonomia da pesquisa científica. Rapidamente a ciência moderna espalhou-se pelo planeta.

No Brasil, a ciência é uma atividade relativamente recente. Foi institucionalizada, em 1951, com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nos últimos anos, tivemos grandes conquistas.

Foi criado um sistema modelar de formação de cientistas: os programas de iniciação científica, para estudantes do ensino básico e universitário, preparam e estimulam um número considerável de jovens para o sistema de pós-graduação. Construímos em pouco tempo um robusto sistema de pós-graduação.

Em algumas áreas, como doenças tropicais e pesquisas agronômicas, estamos na fronteira da ciência mundial. Na história da ciência brasileira podemos destacar cientistas de renome internacional, como Santos Dumont, Oswaldo Cruz, Ruth Nussensweig, Celso Furtado, Joana Dobereiner, Milton Santos, Cesar Lattes, Luiz Hildebrando Pereira da Silva e outros/as.

Por outro lado, inovamos pouco e estamos em posição não confortável na obtenção de patentes, em comparação com os países centrais. Para superar essa realidade, é preciso uma interação mais próxima entre as universidades e centros de pesquisas com o setor produtivo. É preciso também que as empresas privadas invistam em pesquisas. Os recentes cortes de recursos públicos no fomento à pesquisa têm interrompido muitos projetos importantes para o desenvolvimento social e econômico no país e estimulam a fuga de cérebros.

Para termos uma inflexão nessa área, precisamos, urgentemente, garantir um ensino básico de qualidade para todos os jovens brasileiros com uma formação cultural de respeito ao próximo e a diversidade. Eles representam o futuro e serão os cientistas do amanhã. Sem isso, não teremos capital humano para enfrentar os grandes desafios das próximas décadas.

As agências de fomento federais e estaduais necessitam estar em permanente sintonia com as fronteiras da ciência e com as inovações que possam proporcionar uma melhoria da qualidade de vida para toda a sociedade, principalmente por meio das inovações nas tecnologias sociais.

É também fundamental que os auxílios à pesquisa sejam adequados e liberados com regularidade. É imperativo que os pesquisadores brasileiros possam trabalhar nas mesmas condições daqueles que desenvolvem pesquisa e inovação em países com tradição em inovação tecnológica.

Ou seja, não basta o governo disponibilizar recursos. Aliás, é um engano associar a nossa pouca inovação somente à falta de recursos. É preciso, acima de tudo, facilitar o uso deles para importação de insumos e equipamentos, contratação dos melhores profissionais com salários diferenciados, remuneração de acordo com a capacidade científica e o pleno intercâmbio científico nacional e internacional.

Uma maneira de acelerar esse processo seria o estímulo às pesquisas nas Universidades e a expansão de institutos e centros de pesquisa financiados pelo poder público com mais autonomia científica e financeira. Os atuais marcos regulatórios, que dificultam a aquisição de insumos e equipamentos, precisam ser urgentemente revisados e simplificados, assim como os marcos que impedem o acesso à biodiversidade. Os pesquisadores e as empresas precisam ser parceiros, desenvolvendo projetos de riscos.

Sem isso, a qualidade da ciência não melhorará, a inovação tampouco avançará e certamente perderemos a batalha da competitividade. Assim fazendo, poderemos comemorar, no futuro, o pleno desenvolvimento científico e tecnológico e colocar o Brasil na vanguarda científica internacional. Se continuarmos nesse passo de tartaruga, continuaremos a ser um país exportador de matérias primas e ser um país periférico. Isso não queremos. [2]

[1] Imagem de Harish Sharma por Pixabay.

[2] Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro (n.Futuros/CEAM/UnB), membro tiular de Academia Brasileira de Ciências. Ex-decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, ex-diretor de Avaliação da CAPES, ex-coordenador do Grupo de Trabalho de Educação, da SBPC, ex-sub-secretário de Políticas para Crianças do GDF. Autor, em parceria com Mozart Neves Ramos, do livro A urgência da Educação.

Como citar este artigo: UnB. Sem ciência forte seremos um país periférico. Texto de Isaac Roitman. Saense. https://saense.com.br/2020/02/sem-ciencia-forte-seremos-um-pais-periferico/. Publicado em 21 de fevereiro (2020).

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