Fiocruz
06/08/2020

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O campo da educação sofreu um dos maiores impactos com a pandemia de Covid-19. O fechamento de escolas, que afeta 1 bilhão de estudantes em 160 países, já é considerado a maior interrupção da educação da história pela Organização das Nações Unidas (ONU). Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) coordenaram a elaboração de uma Nota Técnica que tem o objetivo de subsidiar ações de gestores e profissionais da educação para a reestruturação do espaço escolar no contexto do pós-pandemia.

O texto foi elaborado por integrantes de um grupo de trabalho (GT), que conta com a participação de docentes e discentes do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Ensino em Biociências e Saúde (PG-EBS) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), Fundação Cecierj, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e profissionais de escolas públicas do Estado do Rio, que atuam como mestrandos e doutorandos da PG-EBS. Também participaram professores que são diretores pedagógicos do Colégio Pedro II, gestores do Programa Saúde na Escola e do Núcleo Interdisciplinar de Apoio Profissional do Município do Rio de Janeiro, e de profissional da subsecretaria de educação de Itaguaí. Confira a íntegra da Nota e os documentos complementares nº1 e nº2.

Tendo em vista que não há uma solução comum que se adeque a todas as escolas, e nem solução que atenda a todos os segmentos diferenciados de uma mesma escola, a Nota Técnica sugere a construção, em cada unidade escolar, de um Plano Integrado e Intersetorial Local de ações para o enfrentamento e convívio com a Covid-19, com ações sanitárias e educacionais, em sintonia com o planejamento de instâncias regionais e macrorregionais e respeitando a singularidade local.

“É no momento anterior ao processo de abertura presencial das escolas que os atores locais podem se apropriar dos conceitos de um protocolo sanitário adequado à realidade local para a sua correta implementação. O Plano Integrado Local é uma oportunidade para a implementação da vigilância epidemiológica na escola, conceito novo e necessário. Com ele, é possível organizar na escola a prevenção à transmissão do SARS-CoV-2 e de outros agentes infecciosos. E mais que tudo, tem que ser um plano que aproveite esse momento para repensar a própria escola, o ensino necessário, avançar na formação continuada dos educadores e da comunidade escolar, na inclusão digital da comunidade e no nascimento da escola do século XXI”, frisa Tania Araújo-Jorge, pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC e coordenadora da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde.

As sugestões da Nota Técnica incluem estratégias que, se realizadas com a participação efetiva da comunidade escolar, antes da abertura física da escola e antes do retorno de qualquer atividade presencial, trariam benefícios ímpares para toda a comunidade, como: Reconexão (ações para conectar alunos, famílias, professores e setores como assistência social e programa de saúde na escola); Acolhimento em saúde emocional e/ou mental da comunidade escolar (essencial e preliminar, garante o equilíbrio emocional e mental da comunidade); Ambiência da escola (reconstrução do vínculo afetivo do aluno com o espaço da escola, que permite o reconhecimento de pertencimento e de segurança da comunidade com a escola e a prevenção da evasão escolar); Organização do cotidiano escolar (reconfiguração do espaço escolar e do processo de aprendizagem); e criação da Comissão Interna de Saúde e Ambiente (instância de integração comunitária responsável por manter ativa as ações anteriores).

O material sugere que as medidas sejam implementadas de acordo com as recomendações estabelecidas pelas autoridades sanitárias. “Apresentamos a sugestão de que os governos locais possibilitem que cada escola planeje e faça as adaptações necessárias para o retorno seguro das aulas presenciais e híbridas, de acordo com a realidade de cada unidade de ensino. Além disso, é fundamental que cada escola faça uma autoavaliação, com base nas recomendações das autoridades sanitárias e análise dos dados epidemiológicos atuais, para a tomada de decisão em retomar ou não as aulas presenciais”, diz o documento.

O texto também ressalta a importância da implementação definitiva do ensino híbrido, como forma de estimular a criação de novos métodos didático-pedagógicos. O cerne do ensino híbrido, com atividades assíncronas e síncronas que atendam às singularidades e diversidade das escolas públicas do país, está pautado na personalização do conhecimento, respeitando a cultura, a diversidade, as singularidades, quebrando o paradigma do “conteudismo” e prevalecendo a “ação-reflexão-ação” e as pedagogias ativas de aprendizagem.

Segundo os especialistas, neste tipo de ensino ocorre o resgate das pedagogias crítico-reflexivas de ensino, integrando as atividades remotas de aprendizagem, podendo ou não utilizar as tecnologias digitais. Como alternativas, a Nota cita opções mais tradicionais, como a produção de roteiros de estudos ou estudos dirigidos, e até mesmo alternativas, porém viáveis, como o uso de rádio comunitário para o engajamento da comunidade do processo de aprendizagem dos alunos, bem como o aproveitamento de programas de televisão aberta, em canais diversos que dediquem horário à educação através de parcerias com as redes de ensino.

“Pesquisadores do campo da filosofia e da sociologia têm comentado que o século XXI está iniciando de fato na crise e nos pós-crise da pandemia de Covid-19. Desta forma, surge a proposta de reflexão e construção da ‘Escola Inovagora’, que se inova e se renova agora, a partir da necessidade desse movimento, com a incorporação der um ensino híbrido e tendo os alunos como os reais protagonistas de seu aprendizado e os professores como mediadores desse processo e dessas descobertas”, completa a coordenadora do Programa.

A Nota finaliza com um compromisso da PG-EBS e do próprio IOC/Fiocruz de abertura permanente para o diálogo sobre os desafios educacionais desse momento. “Reforçamos com essa Nota Técnica que o Instituto Oswaldo Cruz atua também em pesquisa, diagnóstico laboratorial e qualificação de quadros técnicos do SUS, colaborando intensamente para a resposta institucional à pandemia. Reiteramos o compromisso do Instituto em apoiar firmemente as ações para o controle da pandemia, no sentido de mitigar as iniquidades sociais. Colocamos nossos pesquisadores e comunidade acadêmica à disposição das autoridades educacionais para debater e contribuir na proposição de estratégias focadas na resolução do problema representado pela Covid-19. A PG-EBS manterá um grupo consultor permanente que estará disponível para dialogar com instâncias e organizações educacionais para viabilizar as soluções identificadas ou desenvolvidas para que possam ser adequadamente aproveitadas. Além disso, a PG-EBS se compromete a construir uma frente de cooperação com instituições públicas para a construção coletiva das soluções necessárias”, enfatizam os especialistas na Nota. [2]

[1] Imagem de Wokandapix por Pixabay.

[2] Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Como citar esta notícia: Fiocruz. Nota técnica aborda ambientes escolares no pós-pandemia. Saense. https://saense.com.br/2020/08/nota-tecnica-aborda-ambientes-escolares-no-pos-pandemia/. Publicado em 06 de agosto (2020).

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