Jornal da USP
22/10/2020
Atualmente, o tabagismo é fortemente combatido pelos médicos, com o respaldo de várias campanhas que defendem o abandono desse vício que, comprovadamente, é prejudicial à saúde. Para além do uso do cigarro convencional, tem crescido uma outra modalidade de tabagismo: o narguilé, conhecido popularmente como “cachimbo d´água”. Um artigo publicado na Revista de Medicina buscou identificar a prevalência, a frequência e os malefícios do uso do narguilé entre estudantes universitários da área da saúde de Curitiba, no Paraná.
A prática secular da antiga Pérsia e da Índia rompeu fronteiras e hoje é comum em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. No Oriente Médio, o uso do narguilé ultrapassa o do consumo de cigarro convencional. E nos Estados Unidos, França, Reino Unido e Brasil responde pela segunda forma mais consumida de tabaco. O preparo do fumo é feito com o tabaco sendo aquecido pela água, gerando uma fumaça que é carregada pela mangueira do narguilé até o fumante.
O artigo descreve uma pesquisa que foi realizada com 106 estudantes de Medicina, Biomedicina e Enfermagem de uma faculdade em Curitiba. Entre os resultados, “33,8% se considerava tabagista, com utilização regular; 92,8% consumiam narguilé; 61,5% acreditavam que o cachimbo d’água não causaria danos quando comparado ao cigarro; e 89,75% nunca foram aconselhados a abandonar o vício”.
O consumo crescente desse tipo de tabagismo levou o Ministério da Saúde, em 2012, a escolher o tema Alerta para os malefícios do narguilé no Dia Nacional do Combate ao Fumo. Fazer parte de um grupo, integrar-se e ser aceito é o motivo principal de os jovens aumentarem seu interesse por esse tipo de prática que seria “aparentemente mais leve que o cigarro”, mas não é.
O ditado “as aparências enganam” cabe perfeitamente ao narguilé, pois seus perfumes e seus variados sabores disponíveis no mercado estimulam e atraem fortemente os consumidores, camuflando os efeitos nocivos da fumaça. De acordo com o artigo, “uma sessão de narguilé, de 60 minutos, equivale a um consumo médio de 119 litros de fumaça, o que corresponde a 4 vezes mais nicotina, de 60 a 100 vezes mais alcatrão e 15 vezes mais monóxido de carbono quando comparado ao cigarro tradicional”.
A pesquisa Prevalência do uso de narguilé entre universitários da área da saúde mostrou ainda que 92,1% dos jovens entrevistados acreditam que o narguilé é menos prejudicial que o cigarro e não se consideram dependentes de um vício. Estudos evidenciam que o narguilé está associado com o câncer de pulmão e doenças respiratórias – “uma única sessão de fumo (45 minutos) causa disfunção transitória da regulação cardíaca autonômica, o que eleva os riscos de eventos cardíacos”, aponta o artigo.
O narguilé não causa menos efeitos negativos à saúde do que o cigarro, daí a urgência da intervenção de órgãos da saúde na conscientização da população, sobretudo dos jovens, da verdadeira natureza desse tipo de prática e a “importância do papel dos profissionais da saúde na abordagem e repasse de informações aos pacientes usuários”, afirmam os autores.
O artigo cita a Pesquisa Nacional de Saúde, que mostrou que “dentre os 212 mil usuários de narguilé no país, 112 mil (53%) fumam esporadicamente; 27,5 mil (13%) fazem uso uma vez por mês; 57,2 mil (27%), semanalmente, e 14,8 mil (7%) consomem diariamente”.
O uso do narguilé pode causar infertilidade, herpes, tuberculose, hepatite, gripe e até H1N1. A Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio de Janeiro atesta que a fumaça por ele expelida contém quantidades superiores de nicotina, monóxido de carbono, metais pesados e substâncias cancerígenas “se comparadas ao cigarro”. E pode causar, além de dependência, “taquicardia, elevação da pressão arterial e aumento do risco de aterosclerose; por isso os índices de alterações cardíacas são mais elevados entre os fumantes”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, “o tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o planeta”, alertam os autores. Para eles, os estudantes das áreas médicas necessitam de “medidas de conscientização e conhecimento” que possam diminuir o uso de narguilé, na “prevenção e promoção em saúde” não só nos hospitais e unidades ambulatoriais, mas que sejam difundidas amplamente na sociedade.
Como conclusão, os autores ressaltam a relevância da existência de cursos para os profissionais da área, criando capacitação daqueles na orientação da população, no sentido de gerar programas de sensibilização na busca da “eficácia e efetividade das ações em saúde”.
Artigo
PAIVA, Michelle Oliveira; LIMA, André Brito de; VAZ, Rogério Saad; GRANEMANN, Priscila. Prevalência do uso de narguilé entre universitários da área da saúde. Revista de Medicina, v. 99, n. 4, 2020. ISSN: 1679-9836. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v99i4p335-341. Disponível em https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/163543
Contato
Michelle Oliveira Paiva – Estudante de Medicina – Faculdades Pequeno Príncipe, Curitiba, Paraná. E-mail michelle_mop@ymail.com. [1]
[1] Texto de Margareth Artur – Portal de Revistas USP.
Como citar esta notícia: Jornal da USP. Os males do narguilé e seu uso por alunos da área da saúde. Texto de Margareth Artur. Saense. https://saense.com.br/2020/10/os-males-do-narguile-e-seu-uso-por-alunos-da-area-da-saude/. Publicado em 22 de outubro (2020).