Tábata Bergonci
22/12/2020
Estamos quase no final de 2020 e a notícia do ano, ninguém tem dúvida, é a pandemia do Covid-19. Como relatado em meu último artigo para o Saense, desde março temos visto esforços gigantescos dos cientistas do mundo todo para tentar entender o Sars-Cov-2 e todos os aspectos infecciosos causados nos seres humanos pelo vírus. Mas o que ainda não sabemos?
Talvez a maior dúvida que ainda persista é: por que algumas pessoas ficam doentes e outras não? Já sabemos que existem fatores de risco que agravam os sintomas da Covid-19. Os cientistas também já mostraram que os homens têm um maior risco de desenvolver sintomas que as mulheres [2]. Mas ninguém tem resposta do porquê existem variados sintomas experimentados por diferentes pessoas: uns não sentem nada, alguns não respiram direito, outros têm ataque cardíaco ou falência de órgãos.
Um artigo publicado na Nature, com dois brasileiros compartilhando a coautoria, mostrou que pessoas desenvolvem sintomas graves para o Covid-19 quando o processo inflamatório de resposta contra o vírus é muito forte [3]! Uma explicação para isso foi publicada na revista Nature Medicine [4], mostrando que pacientes com altas taxas das proteínas Interleucina-6 e TNF alfa, ambas componentes do nosso sistema imune e responsáveis pelo processo inflamatório, podem ficar muito doentes e possivelmente morrerem.
Uma outra importante questão que ainda não sabemos: quais são as consequências da infecção para a saúde ao longo do tempo? Essa é uma resposta que será analisada ao longo dos anos. Por enquanto, já temos estudos mostrando que algumas pessoas continuam com sintomas semanas após testarem negativo para o coronavírus [5]. Na Itália, um estudo mostrou que após dois meses da infecção, 32% dos pacientes relatam ter um ou dois sintomas presentes; e 55% relatam ter três ou mais sintomas ainda persistentes.
Sabendo que vacinas não são geralmente 100% eficientes, um questionamento que ainda temos é: teremos tratamentos melhores para os possíveis doentes? A corrida dos testes dos mais variados medicamentos não para! Mas, ainda, não temos nenhuma droga cientificamente comprovada que pode ajudar a frear a progressão da doença. Por enquanto, a vacina é a melhor opção!
[1] Crédito da imagem: Noelia, Flickr, CC BY-NC-ND 2.0.
[2] R. Channappanavar et al. Sex-based differences in susceptibility to SARS-CoV infection. Journal of Immunology. Vol. 198, May 15, 2017, p. 4046.
[3] C. Lucas et al. Longitudinal analyses reveal immunological misfiring in severe COVID-19. Nature. Published online July 27, 2020. doi: 10.1038/s41586-020-2588-y.
[4] Del Valle, D.M., Kim-Schulze, S., Huang, HH. et al. An inflammatory cytokine signature predicts COVID-19 severity and survival. Nat Med 26, 1636–1643 (2020). https://doi.org/10.1038/s41591-020-1051-9.
[5] DOI:10.1001/jama.2020.12603.
Como citar este artigo: Tábata Bergonci. A corrida na pesquisa sobre o coronavírus, parte 2: o que ainda não sabemos sobre a Covid19 e o que já temos certeza? Saense. https://saense.com.br/2020/12/a-corrida-na-pesquisa-sobre-o-coronavirus-parte-2-o-que-ainda-nao-sabemos-sobre-a-covid-19-e-o-que-ja-temos-certeza/. Publicado em 22 de dezembro (2020).