CCS/CAPES
15/01/2021
Rodrigo Henrique Geraldo é engenheiro ambiental, mestre e doutor em engenharia civil pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do Centro Universitário Facens (Sorocaba/SP) nos cursos de graduação em Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo. Seu trabalho recebeu o 1° lugar na categoria Pesquisa Acadêmica do 23° Prêmio de Inovação e Sustentabilidade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Fale
sobre sua pesquisa.
Em minha tese de doutorado apresentei um novo cimento para a construção civil.
Ele tem menor impacto ambiental e propriedades técnicas aceitáveis para
diversas aplicações no setor. Esse novo cimento, totalmente em pó, é conhecido
como aglomerante álcali-ativado de parte única, sem necessidade de fração
líquida. isso facilita aspectos logísticos relacionados à sua distribuição e
também à sua comercialização, bastando adicionar água para a mistura e
moldagem.
Como
surgiu interesse em pesquisar sobre o assunto?
O cimento Portland é um material de elevada demanda no Brasil e no mundo,
estando presente em praticamente todas as etapas das obras. Entretanto, a
produção do cimento Portland ocasiona uma emissão considerável de dióxido de
carbono (CO²), um gás de efeito estufa. Como o setor construtivo precisa
alcançar maiores níveis de sustentabilidade, a demanda por materiais de
construção civil de menor impacto ambiental é crescente. Nesse contexto surgiu
o meu interesse em contribuir com a sociedade, pesquisando um material
aglomerante que fosse isento de clínquer, um produto-base do cimento Portland
que, durante a produção, é responsável por grande parte da emissão de CO²
derivado das indústrias cimenteiras.
Quais
foram os resultados?
Os resultados mostraram que o método proposto foi eficiente na geração de um
fino pó que, em mistura com a água, poderia ser moldado, adquirindo resistência
mecânica. O produto misturado com areia produz argamassa e, se misturado com
areia e britas, resulta na obtenção de concreto. As argamassas preparadas com
este novo cimento apresentaram elevada aderência com o substrato, considerável
resistência ao fogo e ao ataque por sulfato ou ácido. Tais resultados abrem
possibilidades técnicas para diversas aplicações na construção civil, como exemplo,
argamassa armada, de revestimento, de assentamento, além de usos para produção
componentes para a construção civil, como placas, tijolos e blocos.
Quais
são as vantagens?
Destaca-se, primeiramente, a vantagem ambiental em comparação com o cimento Portland,
devido a menor emissão de gases poluentes. Estudos na literatura indicam faixas
consideráveis de diminuição na emissão de CO² que, segundo algumas fontes, pode
ser até 90% menor quando comparado ao cimento Portland. Outra vantagem está
relacionada ao fato dele ser cimento em pó. Chamado na literatura de “parte
única”, ele evita o uso do aglomerante em duas partes – fração pó mais fração
líquida – que usa líquidos corrosivos que poderiam causar ferimentos nos
trabalhadores durante o manuseio. Com isso, facilita-se toda a logística,
comercialização e aceitação do produto no setor de construção civil.
Quais
contribuições a sua pesquisa traz para a área?
No mundo, os trabalhos sobre o aglomerante álcali-ativado de parte única são
recentes e há um interesse crescente sobre o tema. Este fato é identificado
pelo aumento considerável de pesquisas publicadas sobre o assunto no ano de
2020. No Brasil, o tema é ainda mais incipiente. A pesquisa desenvolvida na
minha tese mostra ser possível gerar um material aglomerante por meio de um
processo facilmente reprodutível, usando como materiais precursores apenas o
hidróxido de sódio (NaOH), o metacaulim (argila calcinada), as cinzas de casca
de arroz (resíduo gerado por meio da queima da casca de arroz) e a água. Oferece,
por fim, um novo material cimentício para a indústria da construção civil.
Qual
a aplicabilidade da pesquisa no Brasil?
Há grande aplicabilidade do aglomerante álcali-ativado de parte única no
Brasil. O material pode ser replicado com facilidade por indústrias
cimenteiras, por exemplo, que já possuem todo o aparato tecnológico necessário
para a produção. Seria um cimento alternativo, visto não como um substituto,
mas sim como uma nova opção de material aglomerante ambientalmente mais
amigável. O cimento poderia ser aplicado em qualquer obra onde atendesse os
critérios técnicos requeridos. Por empregar as cinzas de casca de arroz, um
resíduo agrícola gerado a partir da queima da casca de arroz para geração de
energia, o aglomerante álcali-ativado de parte única poderia ainda ser
reproduzido em diferentes regiões do Brasil, considerando que o País é um
importante produtor de arroz.
Qual
a importância da CAPES no desenvolvimento do seu projeto?
O fomento da CAPES para o desenvolvimento desta pesquisa foi de vital
importância. Além da bolsa de demanda social, participei de várias atividades e
missões de estudo pelo Programa de Cooperação Acadêmica (PROCAD) que
proporcionaram um intercâmbio entre a Unicamp e as Universidades Federais do
Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Bahia (UFBA).
Como citar este texto: CCS/CAPES. Pesquisador desenvolve cimento sustentável. Saense. https://saense.com.br/2021/01/pesquisador-desenvolve-cimento-sustentavel/. Publicado em 15 de janeiro (2021).