CCS/CAPES
13/04/2021
Uma pesquisa inédita conduzida pelo cientista Mário Moura, doutor em ecologia e professor visitante do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), acaba de revelar que o Brasil lidera a lista de países com maior potencial para descoberta de novas espécies de animais vertebrados terrestres. Publicado na Revista Nature Ecology and Evolution, em 22 de março, o artigo Shortfalls and opportunities in terrestrial vertebrate species discovery , foi produzido junto com Walter Jetz, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Yale (EUA).
Moura, biólogo e ex-bolsista da CAPES, explica que os resultados do trabalho indicam que a vantagem do Brasil está no fato de o País abrigar duas grandes das florestas tropicais do planeta: a Amazônia e a Mata Atlântica. Estes dois biomas da América Latina, em conjunto com outros localizados no continente Africano e na Indonésia, podem abrigar quase metade de todas as futuras descobertas do planeta. “Isso indica o quão rica e diversa é a biodiversidade de florestas tropicais no planeta todo”, observa o pesquisador.
Para fazer a lista os professores valeram-se de banco de dados sobre fauna de anfíbios, répteis, aves e mamíferos do planeta, dentre os quais o MapOfLife (https://mol.org/) e o IUCN (https://www.iucnredlist.org/). O estudo fez um mapeamento dos países com maiores probabilidades. “Após termos calculado o potencial de descoberta para diferentes regiões do planeta, nos mapeamos a quantidade de futuras descobertas que sobrepunham cada país para ranquear as diferentes nações conforme potencial de descoberta. Os resultados também indicam como as futuras descrições de nova espécies podem ser separadas conforme diferentes grupos animais”, relata Moura.
Desde 1758, ano em que foi iniciada sua catalogação formal, cerca de 1,8 milhão espécies foram descritas em todo o planeta. Estimativas mais conservadoras apontam a existência de aproximadamente 10 milhões ainda por descobrir. “Por isso, a descoberta deste potencial desconhecido é essencial para impedir que as espécies não descritas sejam extintas e que o conhecimento sobre elas desapareça. Sem a descrição formal, nós permanecemos ignorantes sobre os possíveis valores ecológicos, serviços ecossistêmicos, e a relevância econômica delas”, destaca o cientista.
O conhecimento sobre espécies ainda não identificadas de uma região pode ser útil em diversas esferas, explica Moura: “Cientificamente, os resultados servem para orientar novas investigações de outros cientistas e acelerar a formalização de novas descobertas; socialmente, o estudo pode fortalecer e empoderar comunidades locais que busquem reconhecimento nacional e internacional sobre a biodiversidade das áreas onde vivem. A humanidade depende do planeta, e devemos buscar uma relação harmoniosa”.
O pesquisador da UFPB acentua que o artigo publicado na Nature Ecology and Evolution é um alerta de que investimentos em ciência e biodiversidade são cruciais para proteger a biodiversidade do planeta, e com isso, a nossa própria existência”. E conclui: “É preciso mudança, é preciso planejamento, e para isso, é preciso ter informação. Sem as descrições das espécies, não temos informações sólidas que nos permitam planejar e guiar a relação da humanidade com o planeta”.
Como citar este texto: CCS/CAPES. Brasil pode ter 20 mil espécies desconhecidas. Saense. https://saense.com.br/2021/04/brasil-pode-ter-20-mil-especies-desconhecidas/. Publicado em 13 de abril (2021).