Fiocruz
07/12/2021

Carlos Machado de Freitas [1]

Na opinião do coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz, Carlos Machado de Freitas, a chegada da variante Ômicron ao Brasil na iminência das festas de fim de ano ainda não é motivo de alarme para a sociedade; mas deve, sim, deixar todos em estado de alerta. Apesar de reconhecer que o vírus continuará circulando, e novas variantes surgirão no mundo mesmo com o aumento da cobertura vacinal, a tendência é de que a pandemia esteja cada vez mais sob controle na medida em que formos capazes de ampliar e acelerar a vacinação para os diferentes continentes, países e regiões, bem como grupos populacionais ainda não vacinados mesmo em países com acesso às vacinas.

O coordenador de uma das principais plataformas de formulação de análises e produção de informação da Fiocruz sobre a pandemia afirmou que ainda é cedo para fazer projeções sobre o carnaval e o surgimento de uma terceira onda da Covid-19 no país. Em uma rápida conversa com o Informe ENSP, ele falou sobre o surgimento da nova cepa, as festas de fim de ano, o avanço da vacinação no Brasil e antecipou que o Observatório lançará uma nova edição da cartilha com o conjunto de recomendações que orientam sobre formas mais seguras de passar o Natal e o réveillon. Confira.

Variante Ômicron

Devemos estar atentos a alguns pressupostos sobre a nova variante. Apesar de o processo de cobertura vacinal à população estar em estágio intensificado, o vírus circulará no mundo inteiro. Uma coisa é clara: quanto mais gente vacinada, mais reduzida a circulação e a transmissão; o vírus, porém, vai continuar, pois é necessário considerar não só a desigualdade relacionada ao acesso à vacina no mundo, como também a própria diferença entre os estados brasileiros, e novas variantes irão surgir.  

Agora, temos que ter vacinas regulares até que a situação esteja sob controle. O mais importante é: A vacinação leva a quadros mais graves? Não. As vacinas disponíveis hoje em dia dão conta dessas novas cepas? Até o momento, sim. Devemos estar atentos. Não há motivo de alarme, e sim motivo de alerta.

Natal e réveillon 

Em relação às festas de fim de ano, temos dois pontos. O Natal é uma multiplicidade de pequenos eventos. Teremos milhões de reuniões familiares ou entre amigos que, certamente, causarão preocupação naquelas famílias que possuem pessoas não vacinadas ou com mais idade que não tomaram a dose de reforço. Nesse caso, há um cuidado adicional porque o uso de máscara faz-se necessário, assim como as medidas de distanciamento físico.

A segunda questão é o réveillon. De acordo com as análises do Observatório Covid-19, por exemplo, ainda não temos condições de afirmar se as festas de réveillon, principalmente as que reúnem milhares de pessoas, irão gerar uma explosão de casos. Mas podemos considerar que o princípio da precaução deve orientar as medidas para evitar que isto ocorra, ou seja, mesmo na ausência de evidências ações preventivas devem ser adotadas. Por um lado temos a vacinação que tem resultado em efeitos amplamente positivos na redução de casos, internações e óbitos, devendo ser acelerada e ampliada para todos estados e municípios, pois ainda temos desigualdades importantes entre os mesmos.  Por outro, a manutenção das medidas de proteção, como uso de máscaras e distanciamento físico e social. Ambas devem ser reforçadas com a exigência do “passaporte vacinal” para ambientes fechados ou de grande concentração de pessoas como política pública. 

Estamos avançando no Brasil, inclusive em relação a terceira dose. E essa é uma conquista importante. O país está reduzindo a mortalidade e temos uma tradição na vacinação, com exceção de pequenos grupos. Neste contexto e considerando os ganhos adquiridos até aqui não há como projetar uma terceira onda da Covid-19 no país. Muito pelo contrário. 

Vacinação

A vacinação está trazendo muitos ganhos, e não há nada que indique uma tendência de mudança. Temos alertas vindos da Europa sobre o vírus, mas que são chamados de “pandemia dos não vacinados” afetando países com baixa cobertura vacinal, como Romênia e Bulgária, ou populações com maior cobertura vacinal, como Alemanha e Áustria. Temos agora, com a identificação da Ômicron, com alertas vindo da África, que possui uma cobertura vacinal média de 7%, com alguns países muito abaixo desse percentual. Por isso, reforçamos sua importância e o princípio da equidade do SUS, não havendo proteção para uns se não houver proteção para todos.

Além disso, devemos ressaltar que Estados e prefeituras estão avançando. Aprendemos muito no Brasil. Aqui, vivemos um contexto de polarização política que trouxe desconfiança no enfretamento coordenado da pandemia nos diversos níveis nacionais, de forma conjunta. Isso trouxe receio em determinado momento, mas, de modo geral, Estados e prefeituras vêm cumprindo seu papel. O que precisamos agora é garantir vacinas para todos, incluindo doses de reforço, além de manter ou ampliar medidas de proteção sempre que novos alertas surgirem.

Carnaval?

Em primeiro lugar, ainda não estamos falando de carnaval. Só poderemos falar depois do Ano Novo. No momento, principalmente em virtude do surgimento da nova variante, devemos recomendar alguns cuidados. É importante defender o controle da entrada de pessoas no país; não o bloqueio. Exigir o certificado de vacinação, os testes, promover quarentena, enfim, as recomendações possíveis e necessárias de cuidado já recomendadas pela Anvisa. 

Como já observado, consideramos pouco provável uma terceira onda por estarmos em outro patamar com os avanços na cobertura vacinal. Porém, o momento é de cautela e precaução, exigindo o monitoramento contínuo em um estado permanente de atenção, estando alertas ao que ocorre no mundo, pois não somos uma ilha, e acionando o alarme quando mudanças bruscas nas tendências atuais de controle da pandemia forem identificadas.  

Recomendações para o fim de ano

O Observatório produzirá uma nova cartilha com o conjunto de recomendações para as festas de fim de ano. Tivemos muitos ganhos. A redução da mortalidade é boa, a redução das taxas de ocupação de leitos são positivas, assim como a redução de casos, mas não temos garantias de até quando isso permanecerá. E essa situação exige total atenção neste momento. Quando vivenciamos o colapso do sistema de saúde e uma segunda onda com grande número de mortes era relativamente mais fácil dizer para as pessoas ficarem em casa, pois os sinais da crise eram muito evidentes.  Agora estamos em um momento em que todos estão tentando voltar à vida normal e não há sinais de uma crise, sendo um desafio estratégias de comunicação que estimulem as pessoas que façam isso com segurança.

E repito. Devemos avançar na vacina para reduzir a transmissão, apesar de sabermos que o vírus continuará a circular. Talvez não seja possível fazer réveillon como sempre foi, ou, quem sabe, uma festa menor. Ainda não há respostas, mas tudo deve ser feito com cuidado e precaução, considerando, inclusive, o cenário de realizar de modo reduzido ou mesmo não realizar, conforme decisão de muitas prefeituras e como ocorreu no último ano. [2]

[1] Foto: Informe ENSP / Fiocruz.

[2] Texto de Filipe Leonel.

Como citar esta notícia: Fiocruz. ‘Até o momento, não há como projetar uma terceira onda da Covid-19 no país’.  Texto de Filipe Leonel. Saense. https://saense.com.br/2021/12/ate-o-momento-nao-ha-como-projetar-uma-terceira-onda-da-covid-19-no-pais/. Publicado em 07 de dezembro (2021).

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