Fiocruz
13/12/2021

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Avaliar as concentrações de BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos) no ar em postos de revenda de combustíveis no município do Rio de Janeiro e calcular o risco de câncer associado a essas exposições é o objetivo do artigo elaborado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e divulgado na revista Cadernos de Saúde Pública. Essas são algumas das substâncias que compõem a gasolina, cuja amostragem foi de seis postos de revenda de combustíveis da cidade, próxima às bombas de combustível, e também por meio da coleta do ar na zona respiratória dos frentistas. “As concentrações ambientais para a maioria dos compostos BTEX foram abaixo dos limites preconizados, menos para o benzeno, carcinogênico que apresentou concentrações muito acima dos limites, levando a altos valores de risco de câncer”, alertam.

Segundo os autores do trabalho, Victor Oliva Figueiredo, Leandro Vargas Barreto de Carvalho, Renato Marçullo Borges, Isabele Campos Costa-Amaral, Marcus Vinicius Corrêa dos Santos, Ana Cristina Simões Rosa, Marco Antônio Carneiro de Menezes, Rita de Cássia Oliveira da Costa Mattos, Paula Novaes Sarcinelli, Sergio Rabello Alves, Ariane Leites Larentis e Eline Simões Gonçalves, os postos de revenda têm grande potencial contaminante causado pelos tanques de armazenamento, cujo vazamento pode gerar um passivo ambiental, assim como pela manipulação diária e ininterrupta dos combustíveis aos quais estão expostos trabalhadores e a população que reside no entorno. No Estado do Rio de Janeiro, de acordo com o artigo, 328 áreas contaminadas foram mapeadas no ano de 2015, sendo que, em 59% (192) dessas áreas, a atividade era de postos de revenda de combustíveis. Hidrocarbonetos totais de petróleo, compostos orgânicos voláteis e semivoláteis e BTEX respondem pelos maiores contaminantes nesse ramo de atividade. “Os BTEX são compostos altamente voláteis e similares entre si no que tange às suas características físico-químicas, como solubilidade e volatilidade, e também quanto às suas vias de dispersão no ambiente”.

Quanto aos danos toxicológicos, continua o artigo, o benzeno pode ter efeito deletério sobre os sistemas hematopoiético, central e reprodutor. Já a exposição ao tolueno está associada a danos sobre os sistemas hematopoiético e reprodutor. Níveis de exposição de etilbenzeno e xilenos estão associados a intercorrências sobre os sistemas respiratório e nervoso. Considerando esses efeitos causados pela exposição ao BTEX, o benzeno tem maior relevância toxicológica e está inserido na lista da Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC) como uma substância reconhecidamente carcinogênica (grupo 1A).

Foi observado pelo estudo que pessoas ocupacionalmente expostas apresentam aumento na incidência de leucemia, principalmente a leucemia mieloide aguda. “Com o uso de modelos matemáticos, baseados em estudos em humanos e animais, é possível estimar a probabilidade de uma pessoa vir a desenvolver um câncer por respirar ar contendo concentrações específicas de compostos químicos”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que a exposição a 1µg m-3 de benzeno por um período de quinze anos pode levar ao aparecimento de seis casos de leucemia em uma população de 1 milhão de habitantes, pois a intoxicação por BTEX, especialmente o benzeno, é gradativa e cumulativa, já que esses compostos são metabolizados e excretados lentamente pelo organismo. Segundo os pesquisadores, a exposição ocupacional de trabalhadores em relação ao BTEX pode ocorrer na manipulação direta do combustível, nos processos de síntese de derivados do petróleo e nas atividades que liberam gases e vapores.

Devido a isso, diversas estratégias são implantadas no sentido de diminuir a exposição e respectivo risco, de maneira a garantir o menor impacto à saúde desses trabalhadores. Uma dessas estratégias é medir a exposição ao BTEX por meio da avaliação ambiental, e de risco à saúde do indivíduo, monitorando a concentração de solventes na zona respiratória e comparando com os limites de exposição ocupacional preestabelecidos.

Os seis postos de revenda de combustíveis avaliados no estudo estão localizados nos bairros de Santa Cruz, Paciência e Sepetiba, inseridos na área de planejamento da Zona Oeste (AP 5.3), no extremo oeste do Município do Rio de Janeiro. A AP 5.3 é considerada a segunda mais populosa do município, com mais de 1,5 milhão de habitantes, que corresponde a 26,6% da população da cidade A região caracteriza-se por ser de clima quente e úmido, com temperaturas médias variando de 20ºC a 27ºC, sendo os meses mais quentes compreendidos entre novembro e abril, e os mais frios entre maio e outubro. As chuvas são mais frequentes entre os meses de dezembro e março, sendo janeiro o mais chuvoso, e o período mais seco de junho a setembro. O estudo contou com a participação de trabalhadores (frentistas) que atuavam no turno da manhã nos postos de revenda de combustíveis.

Os resultados de HQ (Quociente de perigo) para o benzeno foram elevados em três postos, mostrando que pode haver efeitos adversos à saúde dos trabalhadores nesses locais. Em relação ao CR (Risco de câncer) para o benzeno, os valores, em todos os postos e em ambas as amostragens, foram acima dos indicados pela Usepa (Agência Ambiental dos Estados Unidos).

Diante desses dados, os autores da pesquisa advertem que os trabalhadores de postos de revenda de combustíveis são uma população com riscos à saúde, indicando a necessidade de mudanças nesse processo e ambiente de trabalho, devido à exposição a compostos carcinogênicos, para os quais não deveriam existir limites considerados seguros nas legislações. [2]

[1] Imagem de andreas160578 por Pixabay.

[2] Informe Ensp.

Como citar esta notícia: Fiocruz. Concentração de benzeno em postos de combustíveis traz riscos à saúde do trabalhador. Saense. https://saense.com.br/2021/12/concentracao-de-benzeno-em-postos-de-combustiveis-traz-riscos-a-saude-do-trabalhador/. Publicado em 13 de dezembro (2021).

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