UFRGS
21/02/2022

Estudo analisa os impactos relacionados ao lazer digital na saúde mental
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Logo no início da pandemia da covid-19, a então estudante de Psicologia da UFRGS Liriel Weinert Mezejewski começou a se questionar sobre o aumento do lazer praticado em ambientes digitais e procurou entender como ele estava impactando a saúde das pessoas. Foi assim que Liriel, que participava do Núcleo de Estudos em Psicologia Positiva (NEPP), desenvolveu o trabalho intitulado “A aceleração do lazer digital e seus impactos, considerando o tempo dedicado online”, apresentado no último Salão de Iniciação Científica (SIC). Orientado pela professora Claudia Giacomoni, o estudo buscou entender o que as produções científicas desenvolvidas antes e durante a pandemia tinham a dizer em relação ao tempo de lazer nas plataformas digitais. Um dos resultados encontrados é que usar telas para lazer por mais de três horas diárias tem impactos significativos na saúde mental, favorecendo, por exemplo, a diminuição de vínculos sociais e o aumento de comportamentos violentos e de sentimentos de solidão.

Foi a partir de uma observação pessoal, de ver as pessoas em distanciamento social procurando uma alternativa para lazer, que o tema surgiu na cabeça de Liriel. “Foi uma busca mais minha. Acho que veio primeiro uma sensação de notar a realidade, do que cada um estava vivendo em frente aos seus celulares, estando em distanciamento social, e também de ver a nostalgia de sair pra aproveitar a cultura da cidade”, explica a estudante. Liriel, atualmente formada no curso de Psicologia, entrou na Universidade em 2015 e desde essa época já tinha interesse em ingressar na pesquisa. O ano de 2020 foi, justamente, a época em que ela mais se dedicou ao campo da pesquisa, já que no início daquele ano passou a integrar a equipe do Núcleo.

Lazer dentro de casa

O aumento do uso das tecnologias no cotidiano vem mudando a relação das pessoas com a internet, e fica cada vez mais fácil fazer compras online, comunicar-se por redes sociais e trabalhar de forma remota. O lazer digital é uma área que ficou ainda mais em evidência durante a pandemia da covid-19, pois, devido ao isolamento social, as pessoas precisaram expandir ainda mais a sua criatividade para realizar atividades prazerosas, porém em casa. Nesse contexto, o aumento do uso das telas para lazer foi uma saída recorrente.

Pensando nisso, a pesquisa procurou entender como esse lazer impacta na saúde, conforme explica Liriel: “o que na saúde eu não sabia exatamente, mas eu queria saber. Se eu fico muito tempo nas telas, com um objetivo de lazer e não de trabalho, o que a literatura pode me dizer que impacta na saúde?”. A partir daí, foi realizada uma revisão narrativa de nove trabalhos científicos das plataformas PubMed e PsycInfo para avaliar os resultados em torno das palavras relacionadas ao lazer digital. 

Entre os resultados obtidos da pesquisa, verificou-se que utilizar as telas para lazer por mais de três horas diárias já é um indicativo de uso excessivo e apresenta riscos à saúde. Dentre eles, destacam-se a procrastinação de outras tarefas, o aumento de comportamentos violentos, o favorecimento de atividades somente digitais, ignorando outras formas de lazer, e o aumento de sentimentos depressivos e de solidão.

“Se tu ficares mais de três horas em frente a uma tela, tu não vais querer fazer outras tarefas, e provavelmente também não vais querer ter algum vínculo social ou vais diminuir ele drasticamente.”

Liriel Weinert Mezejewski

Também foi constatada uma maior probabilidade de desenvolvimento de obesidade e sedentarismo. Outros pontos revelados no estudo foram relacionados à personalidade dos indivíduos, como menor autoestima e maior instabilidade emocional.

Por que usamos a tela? 

Um questionamento levantado durante a pesquisa gira em torno de por que a tela é utilizada para lazer, ou seja, qual a real intenção da pessoa por trás do ato de praticar o lazer online. Conforme relata a pesquisadora, se a pessoa usa a tela com o objetivo de apreciar esse tempo e considerando as vantagens – como fazer conexões com as pessoas, consumir e conhecer produtos, sem precisar se deslocar – é benéfico. Se a pessoa, porém, utiliza o lazer digital com o objetivo de fuga, para se distrair, a saúde (física e mental) pode ser afetada. “Isso é um pouco ruim para a saúde porque a pessoa vai com o objetivo de ócio, e ela não quer fazer conexão com ninguém, o que ela quer fazer ali é exercer um olhar passivo sobre o que a tela apresenta, e isso pode ser ruim pra saúde”, explica a pesquisadora. 

De acordo com Liriel, o principal desafio na realização do trabalho foi encontrar as respostas mais específicas para o seu questionamento inicial. “Resultados relacionados ao nosso tempo de lazer nas mídias sociais ou em qualquer plataforma virtual ainda são muito estudados nas questões físicas e orgânicas, como prejuízos no sono. As questões mais psicológicas, como aquelas ligadas a autoestima e ao autocuidado, enfim, tudo que relaciona saúde mental e uso de telas ainda não é bem abordado na literatura”, avalia. Segundo a discente, esse é um campo que pode ser mais explorado em outras pesquisas no futuro. 

Devido ao forte interesse pelo assunto, Liriel expandiu a produção e realizou o seu TCC com um tema muito semelhante ao da pesquisa de iniciação científica. “Em vez de usar lazer digital, eu percebi que a literatura chama de tempo de tela, então eu mudei e vi as suas relações com o autocuidado, que pega um pouco do que eu fiz no SIC”, explica. A experiência de se aventurar no campo da ciência foi uma parte importante da trajetória de Liriel. Para ela, entrar para o NEPP foi muito proveitoso para a sua construção profissional. “Eu acho que o grupo de pesquisa é a união perfeita entre teoria e prática; é interessante pensar que o que as pessoas pesquisam será aplicado na prática”, diz. Para ela, foi uma experiência muito rica: “Tu aprendes a trabalhar em grupo e a valorizar a nossa universidade, é uma ótima experiência”, conclui. [2]

[1] Foto: Gustavo Diehl/Secom

[2] Texto de Geovana Benites

Como citar esta notícia: UFRGS. Estudo analisa os impactos relacionados ao lazer digital na saúde mental. Texto de Geovana Benites. Saense. https://saense.com.br/2022/02/estudo-analisa-os-impactos-relacionados-ao-lazer-digital-na-saude-mental/. Publicado em 21 de fevereiro (2022).

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