Jornal da USP
15/03/2022

Choro paulistano de Esmeraldino Salles é desvendado em pesquisa da USP
Esmeraldino Salles – Foto: Reprodução

Por Antonio Carlos Quinto

O nome Esmeraldino Salles, certamente, é desconhecido da maioria das pessoas que não têm uma ligação mais íntima com a música, mais especificamente o choro. E mesmo entre os que têm essa ligação, o nome pode não ser tão conhecido. “Este multi-instrumentista das cordas, negro, paulistano e autodidata, tem grande importância na música popular brasileira, principalmente no choro”, afirma o músico e pesquisador Felipe Siles de Castro. “Mas, por uma série de motivos, Esmeraldino ainda é um nome quase que totalmente desconhecido, mesmo tendo algumas de suas músicas gravadas por nomes como Canhoto, Dominguinhos e Yamandú Costa.”

A pesquisa Uma noite no Sumaré: o choro negro e paulistano de Esmeraldino Salles realizada por Felipe Siles, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, teve a orientação do professor Marcos Câmara de Castro. O título da dissertação, como descreve o músico popular formado pela Universidade de Campinas (Unicamp), traz o nome da música que é, provavelmente, a mais conhecida da obra de Esmeraldino: Uma noite no Sumaré, de 1958. “Como músico fui conhecendo as rodas de choro e as músicas de Esmeraldino me chamavam a atenção.”

Nascido em 1916, na cidade de São Paulo, Esmeraldino passou sua infância na zona leste da capital paulista.

Músico de rádio

Felipe Siles conta que Esmeraldino fez boa parte de sua carreira no rádio, em São Paulo. “Ele acompanhava cantores do rádio e, na década de 1970, foi o auge do choro, onde os músicos ganhavam algum destaque”, destaca o pesquisador. Mas o estilo (o choro) é anterior ao rádio, como conta Felipe Siles. “Era música tocada em bandas. Quando o choro chega ao rádio surge então a era dos grandes cantores.”

Felipe Siles conta que Esmeraldino fez boa parte de sua carreira no rádio, em São Paulo. “Ele acompanhava cantores do rádio e, na década de 1970, foi o auge do choro, onde os músicos ganhavam algum destaque”, destaca o pesquisador. Mas o estilo (o choro) é anterior ao rádio, como conta Felipe Siles. “Era música tocada em bandas. Quando o choro chega ao rádio surge então a era dos grandes cantores.”

“Esmeraldino não teve um disco com toda a sua obra ou parte dela”, conta o pesquisador, que, em seu estudo, levantou uma produção de cerca de 30 músicas. “Seria talvez por ser um músico negro e paulistano?”

Nascido em 1916, na cidade de São Paulo, Esmeraldino passou sua infância na zona leste da capital paulista. “Era o ano de 1942, quando ele foi convidado a tocar num conjunto regional da Rádio Tupi. Ele tocava cavaquinho no grupo regional de Antonio Rago”, conta o músico, lembrando que a música Uma noite no Sumaré foi composta em homenagem à Rádio Tupi.

Em meio a nomes como Garoto, Antonio D’Áuria, José Amaral Júnior, Pixinguinha e Radamés Gnattali, bem conhecidos do grande público, Esmeraldino continuava a ser um músico de rádio. “Com o declínio dos conjuntos regionais, ele passou a se destacar como músico da noite”, conta Felipe Siles.

Diálogo com o jazz

Uma característica marcante da obra de Esmeraldino, como destaca o músico e pesquisador, é o diálogo que sua música mantinha com o jazz. “Podemos dizer que alguns músicos americanos foram referência para Esmeraldino. Afinal, o choro e o jazz são de matrizes africanas”, analisa Felipe Siles.

Esta reflexão também levou o pesquisador a buscar melhor compreensão da obra do compositor em relação à sua época e ao contexto sociorracial em que estava inserido. “Esmeraldino não teve um disco com toda a sua obra ou parte dela”, conta o pesquisador, que, em seu estudo, levantou uma produção de cerca de 30 músicas. “Seria talvez por ser um músico negro e paulistano?”, questiona. Mas ele lembra que Pixinguinha, também negro e bastante conhecido à época, havia conseguido quebrar preconceitos. “O choro era muito mais popular na cidade do Rio de Janeiro”, destaca. “E além disso, Esmeraldino sempre foi reconhecido como um músico de rádio”, enfatiza. Felipe Siles também analisou em seu estudo todo o contexto da indústria cultural paulistana e seu impacto na produção de Esmeraldino.

Além de muitas músicas inéditas do grande público, o trabalho de Felipe Siles focou três composições de Esmeraldino, que ele considera as mais significantes: Arabiando (gravada em 1978) Perigoso (gravada em 1957)  e Uma noite no Sumaré (gravada em 1958). “Nessas obras procurei compreender as características do estilo composicional de Esmeraldino e, ao mesmo tempo, analisar em quê suas músicas diferem dos choros mais convencionais.”

Mesmo não sendo conhecido do grande público, Esmeraldino foi homenageado e celebrado por meio dos álbuns Ao nosso amigo Esmê (1980), Tributo a Esmeraldino Salles (2002) e Esmê (2017), e também por diversas composições de músicos relevantes como Izaías Bueno de Almeida, Maurício Carrilho e André Mehmari.

Mais informações: felipe.siles@gmail.com 

Como citar este texto: Jornal da USP. Choro paulistano de Esmeraldino Salles é desvendado em pesquisa da USP. Texto de Antonio Carlos Quinto. Saense. https://saense.com.br/2022/03/choro-paulistano-de-esmeraldino-salles-e-desvendado-em-pesquisa-da-usp/. Publicado em 15 de março (2022).

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