ESO
23/06/2022

Nebulosa da Tarântula [1]

Os astrônomos revelaram detalhes intrincados da região de formação estelar 30 Doradus, também conhecida como Nebulosa da Tarântula, usando novas observações do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA). Em uma imagem de alta resolução divulgada hoje pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e incluindo dados do ALMA, vemos a nebulosa sob uma nova luz, com nuvens de gás finas que fornecem informações sobre como as estrelas massivas moldam essa região.

Estes fragmentos podem ser os restos de nuvens, anteriormente maiores e que foram despedaçadas pelas enormes energias emitidas por estrelas jovens massivas, num processo a que chamamos feedback”, disse Tony Wong, que liderou o trabalho de pesquisa sobre 30 Doradus apresentado hoje no Encontro da Sociedade Astronómica Americana (American Astronomical Society, AAS) e publicado na revista The Astrophysical Journal. Os astrônomos pensavam inicialmente que o gás existente nestas regiões estivesse demasiado disperso e sobrecarregado por este feedback turbulento para que a gravidade o reunisse para formar novas estrelas. No entanto, os novos dados revelaram também filamentos muito densos onde o papel da gravidade é significativo. “Os nossos resultados mostram que, até na presença de feedbacks muito fortes, a gravidade consegue exercer uma forte influência, permitindo a continuação da formação estelar”, acrescenta Wong, professor da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, EUA.

Localizada na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da nossa própria Via Láctea, a Nebulosa da Tarântula é uma das regiões de formação estelar mais brilhantes e ativas da nossa vizinhança galáctica, a cerca de 170 000 anos-luz de distância da Terra. No seu coração encontram-se algumas das estrelas mais massivas conhecidas, algumas com mais de 150 vezes a massa do nosso Sol, o que faz desta região o local ideal para se estudar como é que as nuvens de gás colapsam sob a ação da gravidade para formar novas estrelas.

O que torna 30 Doradus única é o fato de se encontrar suficientemente perto de nós para estudarmos em detalhes como as estrelas estão se formando e, no entanto, as suas propriedades são semelhantes àquelas encontradas em galáxias muito distantes, quando o Universo era jovem”, explica Guido De Marchi, cientista na Agência Espacial Europeia (ESA) e co-autor do artigo que apresenta estes resultados. “Graças a 30 Doradus, podemos estudar como é que as estrelas se formavam há 10 bilhões de anos, na época em que nasceram a maioria das estrelas do Universo”.

Apesar da maior parte dos estudos anteriores relativos à Nebulosa da Tarântula tenham se concentrado essencialmente em regiões do seu centro, os astrônomos sabem há muito tempo que a formação de estrelas massivas também está acontecendo em outros lugares. Para entender melhor esse processo, a equipe realizou observações de alta resolução cobrindo uma grande região da nebulosa. Com o auxílio do ALMA, os pesquisadores fizeram medições da emissão de monóxido de carbono gasoso, conseguindo assim mapear as enormes nuvens de gás frio da nebulosa que colapsam para dar origem a novas estrelas — e observar como é que se vão modificando à medida que enormes quantidades de energia vão sendo libertadas por essas novas estrelas.

Estávamos esperando descobrir que as partes da nuvem mais próximas das jovens estrelas massivas mostrariam os mais claros sinais de gravidade sendo dominadas pelo feedback”, disse Wong. “Em vez disso, descobrimos que a gravidade continua a desempenhar um papel importante mesmo nas regiões da nebulosa que estão muito expostas ao feedback — pelo menos nas partes suficientemente densas”.

Na imagem divulgada hoje pelo ESO, vemos os novos dados ALMA sobrepostos a uma imagem infravermelha da mesma região que mostra estrelas brilhantes e nuvens rosadas de gás quente, obtida anteriormente com o Very Large Telescope (VLT) e o Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (VISTA), ambos do ESO. A imagem composta mostra uma forma distinta de teia nas nuvens de gás da Nebulosa da Tarântula, o que deu precisamente origem ao seu nome. Os novos dados do ALMA compreendem as faixas vermelho-amarelas brilhantes na imagem: gás muito frio e denso que pode um dia entrar em colapso e formar estrelas.

A nova pesquisa nos dá pistas importantes sobre como é que a gravidade se comporta nas regiões de formação estelar da Nebulosa da Tarântula, no entanto o trabalho está longe de terminar. “Há ainda muito trabalho a fazer com este conjunto de dados e é por isso mesmo que estamos divulgando-o publicamente para incentivar outros pesquisadores a realizar novas investigações”, conclui Wong. [2], [3]

[1] Crédito: ESO, ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/Wong et al., ESO/M.-R. Cioni/VISTA Magellanic Cloud survey. Acknowledgment: Cambridge Astronomical Survey Unit

[2] A pesquisa foi apresentada no artigo “The 30 Doradus Molecular Cloud at 0.4 Parsec Resolution with ALMA: Physical Properties and the Boundedness of CO Emitting Structures” publicado na revista The Astrophysical Journal

[3] Este texto foi traduzido por Margarida Serote (Portugal) e adaptado para o português brasileiro por Eugênio Reis Neto

Como citar este texto: ESO. A teia cósmica da Tarântula: astrônomos mapeiam formação estelar em nebulosa fora da nossa Galáxia. Tradução de Margarida Serote e Eugênio Reis Neto. Saense. https://saense.com.br/2022/06/a-teia-cosmica-da-tarantula-astronomos-mapeiam-formacao-estelar-em-nebulosa-fora-da-nossa-galaxia/. Publicado em 23 de junho (2022).

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