CCS/CAPES
01/11/2023

Estudo mostra a persistência dos trançados indígenas
Conjunto de trançados do Museu do Índio do Convento de Ipuarana (Foto: Arquivo pessoal)

O uso de trançados no artesanato é uma das características da produção cultural dos povos indígenas brasileiros. Feitos com materiais orgânicos, os itens são de difícil identificação em sítios arqueológicos, o que dificulta seu estudo. Segundo uma pesquisa recente, essa aparente fragilidade contrasta com a alta relevância da prática do trançado. Isso, porque as tramas, feitas com matéria vegetal, definem a identidade própria das comunidades, e persistem ao longo do tempo, convivendo com produtos industrializados.

Para chegar a essas conclusões, o pesquisador Igor Rodrigues estudou quinze coleções etnográficas, nacionais e internacionais, e realizou imersões etnográficas em onze aldeias. No total, analisou as continuidades e mudanças em vinte e nove classes de trançados produzidos ao longo de pouco mais de um século. O resultado foi a tese Tramas da tecnologia: etnoarqueologia da variabilidade dos trançados dos povos do Mapuera, vencedora do Prêmio CAPES de Tese na área de Antropologia/Arqueologia.

“Ao considerar as narrativas dos próprios povos, foi constatado que sem a existência dos trançados, esses povos sequer poderiam existir”, afirma Rodrigues. “Portanto, a partir de uma outra ótica, o trabalho realçou que os trançados são persistentes e seguem se diversificando ao longo do tempo, demonstrando ser um conjunto de artefatos bastante sustentável e central para a existência dos povos em questão”, completa o pesquisador.

Segundo o autor, o trabalho apresenta outras contribuições. “A tese visibiliza as tecnologias perecíveis dentro da arqueologia, corroborando percepções recentes de que arqueologia precisa olhar para a floresta com outros olhos”, diz o arqueólogo. Também as comunidades estudadas se beneficiaram, continua Rodrigues. “Levamos ao conhecimento das populações uma parte de seu patrimônio que está disperso por vários museus”, destaca.

Uma dificuldade central para o trabalho foi o acesso ao material, espalhado por diversos países. Rodrigues contornou o problema usando fotografias dos artefatos, conseguidas tanto por meio da observação direta nas galerias on-line que alguns museus possuem; seja pela colaboração de instituições que lhe enviaram imagens de qualidade por e-mail.

Pesquisadores do povo Waiwai ajudaram nas questões linguísticas. O povo Waiwai vive nas Terras Indígenas Waiwai e Trombetas/Mapuera, no sul de Roraima, Amazonas, norte do Pará e também no sul da Guiana. “Sou privilegiado em ter tido a oportunidade de fazer pesquisa em um momento no qual já existem bacharéis e mestres das áreas de arqueologia e antropologia do próprio povo Waiwai, graças às ações afirmativas no ensino superior brasileiro. Isso me proporcionou diversos momentos de aprendizado e troca de conhecimentos, além de contar com ótimas traduções linguísticas e conceituais”, completa Rodrigues.

Sobre o vencedor
Nascido em São José dos Campos (SP), Igor Morais Mariano Rodrigues se graduou na licenciatura em História em 2008, pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), quando conheceu a arqueologia. Durante a iniciação científica, estudou solos arqueológicos de sambaquis na região de Arraial do Cabo (RJ).

Em 2011, concluiu o mestrado em Antropologia com Concentração em Arqueologia, na UFMG. O estudo de Igor sobre o sítio arqueológico litocerâmico de Lagoa Santa (MG) identificou as primeiras espículas de esponjas de água doce, conhecidas como cauixi, em cerâmicas arqueológicas de Minas Gerais.

Após três anos de trabalho como arqueólogo no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em Minas Gerais, Igor ingressou no doutorado em Arqueologia da Universidade de São Paulo (USP), onde realizou a pesquisa vencedora do Prêmio CAPES de Tese, concluída em 2022. Em seguida, lecionou no Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia (UFRR) até o início de 2023.

No momento, o pesquisador está cursando pós-doutorado na Universidade de Bonn, na Alemanha, sob a supervisão da profa. Carla Jaimes Betancourt. Ele integra a equipe do projeto Heritage and Territoriality: Past, present, and future perceptions among the Tacana, Tsimane’, Mosetén and Waiwai. [1], [2]

[1] Redação: CGCOM/CAPES

[2] Publicação original: https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/noticias/estudo-mostra-a-persistencia-dos-trancados-indigenas

Como citar este texto: CCS/CAPES. Estudo mostra a persistência dos trançados indígenas. Saense. https://saense.com.br/2023/11/estudo-mostra-a-persistencia-dos-trancados-indigenas/. Publicado em 01 de novembro (2023).

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