UFRGS
31/10/2024
O aumento da longevidade e o envelhecimento populacional brasileiros foram acompanhados do aumento do número de internações hospitalares, de morbidade, de mortalidade e de vultoso impacto econômico no sistema público de saúde em função de quedas em idosos. Por isso, o Ministério da Saúde adotou a data criada pela Organização Mundial da Saúde para colocar em pauta esse tema: 24 de junho.
Quedas nas pessoas idosas brasileiras representam a causa de mortalidade mais frequente após as doenças crônicas não transmissíveis (neoplasias, doenças respiratórias crônicas, diabetes e doenças cardiovasculares), passando ao primeiro lugar quando consideramos apenas as causas externas. A prevalência desse evento no Brasil é de 25% e aumenta com o avançar da idade.
Assim, tornam-se marcadores de saúde: um idoso que cai e tem lesão grave decorrente ou mesmo o faz mais de uma vez em curto espaço de tempo carece de avaliação, tratamento e reabilitação. As quedas podem causar lesões de pele, luxações, sangramentos nos mais diversos locais (incluindo no cérebro), fraturas (sendo a mais grave e onerosa a do colo de fêmur), dores crônicas, além de mais frequentemente a síndrome pós-queda.
Essa síndrome decorre da insegurança, do medo e da ansiedade de que novo evento aconteça, acarretando restrição da mobilidade e das atividades da vida diária desses indivíduos e impactando negativamente na qualidade de vida e na saúde mental. Esses eventos sinalizam, sobretudo, que dependência e vulnerabilidade são iminentes e requerem intervenções urgentes.
As quedas são problemas de saúde pública e eventos multifatoriais, resultando de uma combinação de fatores intrínsecos (relacionados ao próprio indivíduo) e extrínsecos (relacionados ao ambiente). Os fatores intrínsecos compreendem o sexo, o comportamento sedentário durante a vida, o uso de medicamentos e as alterações decorrentes do envelhecimento biológico: déficits sensoriais, como redução da visão e da audição, a perda de massa óssea e muscular, o desequilíbrio e as limitações da força muscular, da marcha e da mobilidade.
O risco de cair é maior no sexo feminino, naqueles que não praticam ou praticaram atividades físicas durante a vida (depreendendo-se, portanto, que têm uma massa muscular menor) e, proporcionalmente, ao aumento do número de medicamentos utilizados.
Vários medicamentos estão associados a um risco maior de quedas, dentre esses se destacam os indutores de sono, como os benzodiazepínicos (diazepam e clonazepam) e os não benzodiazepínicos (zolpidem); os neurolépticos, como o haloperidol, a levomepromazina e a clorpromazina; os relaxantes musculares, como a ciclobenzaprina e a orfenadrina e os anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, o diclofenaco e a nimesulida.
Da mesma forma, idosos que têm autopercepção de saúde ruim, depressão e múltiplas doenças crônicas, como diabetes, insuficiência cardíaca, asma, neoplasias e hipertensão arterial sistêmica (HAS), têm maior chance de cair.
Os fatores extrínsecos compreendem o ambiente em que a pessoa vive ou está, incluindo dificuldade no acesso (desníveis ou vários lances de escada); obstáculos, como mesas de centro, móveis irregulares ou mal ajustados ou ainda quaisquer objetos deixados no chão ou tapetes soltos; pisos/calçadas escorregadios ou irregulares; uso de calçados/chinelos inadequados; iluminação insuficiente e ausência de corrimão no corredor ou barras de apoio no banheiro. Destaca-se que a maioria das quedas acontece no domicílio.
Mas afinal, o que podemos fazer?
- MULTI-intervir na mudança de comportamentos, hábitos e atitudes frente à nossa saúde e combater os fatores de risco modificáveis para doenças e condições crônicas.
- Praticar atividades físicas moderadas (aquelas em que é difícil falar enquanto se pratica), aliando modalidades aeróbica e de força/resistência musculares por, no mínimo, 150 minutos por semana, mesmo que se inicie depois dos 60 anos de idade e após muito tempo de comportamento sedentário. Os exercícios domiciliares de Otago são também úteis na prevenção de quedas.
- Manter uma alimentação saudável, buscando o peso normal, aliada à atividade física podem reduzir a massa de gordura e fortalecer as massas óssea e muscular. Sabe-se que, beneficamente, a massa muscular exerce, além da motricidade, a função de glândula e de redução do estresse oxidativo e da inflamação no organismo. Manter-se longe do tabaco e do uso nocivo do álcool auxiliam nesse intuito.
- Corrigir precocemente déficits auditivos e visuais, rastrear doenças crônicas prevalentes nessa faixa etária, ter hábitos de sono e lazer adequados, valorizar o autoconhecimento, a participação social, a autoestima e a saúde mental no envelhecimento, assim como fazer uso racional e do mínimo possível de medicamentos, podem prevenir quedas.
- Da mesma forma, modificações ambientais, como a adequada iluminação, a supressão de obstáculos ou tapetes, a facilitação da acessibilidade e o uso de calçados adequados compõem o escopo das MULTI-intervenções com o mesmo propósito.
O envelhecimento é um processo dinâmico que acontece em todos nós desde que nascemos. Somos considerados pessoas idosas no Brasil ao completarmos 60 anos de idade. Quedas têm repercussão negativa na saúde e na qualidade de vida nessa faixa etária, sendo resultado do envelhecimento biológico individual somado aos comportamentos e hábitos que cultivamos ou deveríamos e das atitudes que tomamos ou não durante nossas vidas. Pensemos sobre isso! É o primeiro passo para se levantar. [1], [2]
[1] Texto de Milton Humberto Schanes dos Santos
[2] Publicação original: https://www.ufrgs.br/jornal/quedas-e-seus-significados-no-envelhecimento/
Como citar esta notícia: UFRGS. Quedas e seus significados no envelhecimento. Texto de Milton Humberto Schanes dos Santos. Saense. https://saense.com.br/2024/10/quedas-e-seus-significados-no-envelhecimento/. Publicado em 31 de outubro (2024).