Claudio Macedo
10/05/2016
Utilizando esses registros de observações diretas da sazonalidade do gelo em duas regiões bem distintas do mundo, e diversos outros registros climáticos do hemisfério Norte desde o início da Revolução Industrial, pesquisadores de quatro países analisaram as mudanças no clima ao longo de quase seis séculos [2]. Eles observaram uma rica variedade de mudanças na sazonalidade de gelo das duas regiões separadas por grande distância geográfica: uma mudança para a formação de gelo mais tarde em Suwa e o degelo antecipado em Torne, além do aumento das frequências de anos com eventos climáticos extremos. Os registros do lago Suwa, por exemplo, mostram que a data de congelamento atrasou a um ritmo de apenas 0,19 dias por década entre 1443 e 1683. Após o início da Revolução Industrial, a data do congelamento do lago passou a atrasar 4,6 dias por década, isto é, o ritmo do atraso passou a ser 24 vezes mais rápido do que no período pré-industrial. De forma semelhante, o lago Suwa costumava congelar em 99% dos invernos entre 1443 e 1700, atualmente, ele só faz isso em cerca de 50% dos anos.
Embora fatores locais, incluindo o crescimento da população, as alterações do uso do solo e a influência da gestão da água de Suwa e Torne, sejam muito importantes, os padrões gerais de sazonalidade do gelo são semelhantes para ambos os sistemas, o que sugere que os processos globais relacionados com as alterações climáticas estão provocando as mudanças da sazonalidade do gelo a longo prazo.
É fato que os mais diversos registros disponíveis têm indicado fortes correlações de sazonalidade do gelo (tendência de congelamento mais tarde, degelo mais cedo, e duração menor do período de congelamento) com a concentração atmosférica de dióxido de carbono (CO2) e a temperatura do ar, após o início da Revolução industrial, em todo o hemisfério Norte [2].
Esse novo trabalho [2] certamente contribui para reforçar as evidências que as mudanças climáticas associadas com o efeito estufa são os fatores mais importantes para explicar relevantes impactos no modo de vida das pessoas. Nos casos que foram objetos desse estudo, as regiões do lago Suwa e do rio Torne, ficam evidentes as perdas que as populações locais sofreram nas atividades típicas de inverno, tais como a pesca no gelo, o esqui e o transporte diferenciado. [3]
[1] Crédito da imagem: 663highland – Own work, CC BY 2.5. URL: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=26579932.
[2] S Sharma et al. Direct observations of ice seasonality reveal changes in climate over the past 320–570 years. Scientific Reports 6, 25061 (2016).
[3] Artigos relacionados: Aclimatação florestal pode amenizar efeitos do aquecimento global, A grande participação de pequenos lagos nos gases de efeito estufa, Impacto do aquecimento global na produção de energia elétrica, Como a temperatura afeta a economia? e Derretimento do gelo antártico.
Como citar este artigo: Claudio Macedo. Japoneses e finlandeses fizeram o mais impressionante registro de mudanças climáticas da história. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/05/japoneses-e-finlandeses-fizeram-o-mais-impressionante-registro-de-mudancas-climaticas-da-historia/. Publicado em 10 de maio (2016).