UFPR
30/07/2020

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Coronavírus sobrevive em ambiente externo? É verdade ou falso que a transmissão ocorre por objetos e superfícies? As dúvidas da estudante Aline Marcante, 32, de Curitiba, e do analista de testes Lenon de Souza, 28, de Santo Antônio da Platina (PR), respectivamente, e outras perguntas da sociedade foram respondidas por nove cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

De acordo com os pesquisadores, o vírus pode sobreviver em superfícies por período variável de tempo dependendo de diversos fatores. “Não há registro de quanto tempo o vírus continua viável no ar na forma de aerossol (partículas virais liberadas junto à saliva que permanecem flutuando no ar). Mas é muito provável que mesmo que o vírus sobreviva por longo período, o ar se torne seguro em minutos se estiver em ambiente aberto por causa da dispersão. Por isso arejar os ambientes é tão importante para o combate ao contágio pelo SARS-CoV-2”.

As perguntas da população sobre contaminação e prevenção à Covid-19 ainda envolvem uso de máscaras, limpeza de embalagens e alimentos, testes, medicamentos, mensagens que circulam no WhatsApp e grupos de risco. As dúvidas integram a campanha “Pergunte aos Cientistas”, da Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR. Para participar, basta enviar a pergunta ao e-mail agenciacomunicacaoufpr@gmail.com ou no direct do perfil @agenciaescolaufpr no Instagram, com nome completo, idade, profissão e cidade onde reside.

As explicações abaixo foram feitas pelos cientistas Alexandra Acco, Juliana Geremias Chichorro, Cristina Jark Stern e Janaina Menezes Zanoveli, professoras do Departamento de Farmacologia; Maria Carolina Stipp, doutoranda do mesmo departamento; e Álvaro Henrique de Lima Silva, Daiane Momo Daneluz e Vanessa Pereira Lejeune, mestrandos também em Farmacologia. Ainda participou o presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR, Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular. Confira:

Contaminação

“Posso visitar outras pessoas que também estão em isolamento ou é arriscado? O vírus sobrevive em ambiente externo? Qual é o risco do coronavírus causar a morte de uma pessoa saudável?” (Aline Andressa Marcante, 32 anos, estudante, Curitiba-PR)

Cientistas UFPR – Olá, Aline. Você não deve visitar pessoas comprovadamente com Covid-19 em isolamento. O risco é muito alto. O vírus pode sobreviver em superfícies por período variável de tempo dependendo de diversos fatores. Em algumas superfícies, como metal, pode sobreviver por dias e até semanas. Em materiais porosos, como papel e tecido, sobrevive por horas. Não há registro de quanto tempo o vírus continua viável no ar na forma de aerossol (partículas virais liberadas junto à saliva que permanecem flutuando no ar). Mas é muito provável que mesmo que o vírus sobreviva por longo período, o ar se torne seguro em minutos se estiver em ambiente aberto por causa da dispersão. Por isso arejar os ambientes é tão importante para o combate ao contágio pelo SARS-CoV-2.

O risco para uma pessoa sem comorbidade (que você chamou de saudável) é muito menor, mas é importante considerar a idade também. Por exemplo no estado do Paraná, 64% das mortes foram de pacientes que tinham alguma outra doença, principalmente doenças cardiovasculares. Esse número pode ser maior ainda: em Nova York chega a 75%. Por outro lado, a maioria das mortes é de pessoas acima de 60 anos. No Paraná, aproximadamente 70% das mortes foram de pessoas acima de 60 anos, sendo a grande maioria de pacientes com comorbidade. Da mesma forma, até maio, em Nova York, cerca de 75% das mortes foram de pacientes com mais de 65 anos de idade. Por outro lado, apenas 4% das mortes foram de pacientes com menos de 45 anos de idade. Outro fator é o sexo: a cada oito mortes, cinco são de homens e três de mulheres.

Neste link eu li que um cientista alemão afirmou que o coronavírus não é transmitido através de objetos, que o vírus é encontrado nas superfícies porém já está morto. Por outro lado vejo várias outras notícias dizendo que a transmissão acontece sim através de objetos ou superfícies. Por isso gostaria de um esclarecimento” (Lenon Cristiano de Souza, 28 anos, analista de testes, Santo Antônio da Platina-PR)
Cientistas UFPR – De fato, Lenon, essa notícia foi divulgada em vários sites no início de abril. Em uma entrevista, o cientista alemão Dr. Hendrik Streeck, virologista da Universidade de Bonn, afirmou: “Encontramos o vírus em vários objetos e maçanetas, bem como na água do vaso sanitário, se o paciente tiver diarreia. No entanto, não conseguimos cultivar vírus intactos. Isso indica, no mínimo, que a maioria das pessoas não é infectada pelo contato com superfícies. Nossos dados preliminares contêm sinais de que o vírus não é transmitido pela superfície, mas por contato próximo. Agora aprimoramos a metodologia e obteremos dados ainda mais precisos graças a isso”. No entanto, não houve divulgação de mais dados dessa pesquisa, seja em sites de notícias ou em sites científicos.

Outro estudo desse grupo alemão afirma que pessoas que vivem no mesmo local apresentam um risco muito maior de infecção. Assim, o que ele afirma é o que já sabemos: a transmissão ocorre essencialmente por gotículas respiratórias contendo o vírus, pela proximidade entre as pessoas. Daí os cuidados de distanciamento social e uso de máscaras para evitar a contaminação.

Por outro lado, outros estudos mostram que o vírus SARS-CoV-2 permanece viável em superfícies. O SARS-CoV-2 é mais estável em plástico e aço inoxidável do que em cobre e papelão. O vírus viável foi detectado até 72 horas após a aplicação em diferentes superfícies, embora também tenha sido observado declínio na infectividade. Em concordância, outras pesquisas mostram a probabilidade de que os resíduos gerados por pacientes afetados pela Covid-19 ou por indivíduos em quarentena tratados em casa possam ser contaminados pelo SARS-CoV-2. Consequentemente, os fluxos de resíduos/lixos podem representar uma rota para a disseminação viral. O perigo então é o contato das mãos com superfícies contaminadas por gotículas infecciosas, e que posteriormente tocam a boca, o nariz ou os olhos, sendo uma via de transmissão indireta. Daí os cuidados da lavagem e uso de álcool 70% nas mãos para evitar contaminação.

Vale lembrar que as pessoas que entram em contato com superfícies potencialmente infectadas geralmente têm contato próximo com uma pessoa infectada, dificultando discernir se a transmissão ocorreu pelas gotículas respiratórias ou pelo contato com objetos. Enquanto não há uma definição exata sobre a capacidade infectante do vírus em superfícies, o ideal é seguir as recomendações das autoridades de saúde: lavar mãos com água e sabão, usar álcool 70% nas mãos, bem como usar e descartar corretamente as máscaras.

“Faz sentido usar máscaras em casa para lavar as compras, conforme mensagem adiante? Recebi essa mensagem: ‘Houve uma reunião do trabalho com equipe de médicos que estão assessorando o Cesar. Eles avisam que muita gente está pegando Covid da seguinte forma: quando recebe a feira em casa ou mesmo quando compra no mercado e chega em casa retira a máscara antes de ir limpar os produtos. Aí o vírus que está nos produtos contamina você. Então a partir de agora lembre de fazer a limpeza dos produtos com a máscara e só retirá-la quando terminar a higienização’” (J.M., 66 anos, engenheiro, Rio de Janeiro-RJ)

Cientistas UFPR – É importante que você retire a máscara que usou no mercado ao chegar em casa e coloque de molho para a higienização correta. Não é necessário o uso da máscara durante a higienização dos produtos, pois caso estivessem contaminados o vírus permaneceria nas embalagens.

Porém, é fundamental que você evite levar as mãos ao rosto e boca durante o procedimento de limpeza, pois esse ato poderia, em teoria, levar à infecção indireta pelo SARS-CoV-2. Assim, o uso de máscara não é obrigatório nessa tarefa, apenas se você se sentir mais seguro. Sobre a higienização dos produtos e embalagens, é importante que seja feita, pois as partículas virais podem permanecer dispersas no ar por aproximadamente de 40 minutos a duas horas e 30 minutos nos mercados e lojas, por exemplo, conforme estudos recentes publicados no New England Journal of Medicine.

Outras análises mostraram que o coronavírus é capaz de se manter viável em superfícies por horas ou até mesmo dias, conforme as características dessa superfície. Permanece viável por 72 horas em plásticos e aço inoxidável, 24 horas em papelão e quatro horas em cobre, materiais comuns em embalagens de diversos produtos. Além disso, esses produtos estão expostos à circulação de pessoas que podem espirrar, tossir, expelir saliva ou tocá-los com as mãos contaminadas enquanto estão nas prateleiras, antes de chegar em sua casa. A quantidade de vírus diminui com o passar das horas, reduzindo o risco de contaminação. No entanto a prevenção é necessária. Lembre-se sempre de lavar bem as mãos quando terminar a higienização dos produtos.

“Corro risco ao fazer a lavagem das máscaras de tecido caseiras de outras pessoas? Ao lavá-las, para não perderem a cor, em vez de água sanitária posso utilizar sabão em pó desses comumente usados para lavar roupas?” (André Costa, 47 anos, auxiliar administrativo, Maceió-AL)
“Sou alérgica à água sanitária. Quais são os outros métodos seguros para higienização das máscaras?” (Fabiane Della Giustina Soares, 39 anos, psicóloga, Curitiba-PR)

Cientistas UFPR – Você pode fazer a higienização da máscara de outras pessoas desde que tome os devidos cuidados, como evitar tocar na parte que fica em contato com o rosto. Prefira pegá-la pelos elásticos laterais e lave bem as mãos após a manipulação. Veja como lavar a sua máscara de tecido de forma segura e eficaz, sem riscos à saúde:

1) Assim que removê-la, coloque a máscara em um balde com água e água sanitária e deixe por 30 minutos – a proporção é de uma colher de sobremesa de água sanitária para cada meio litro de água potável. Essa proporção não causa manchas nos tecidos.
2) Depois, lave a máscara sem misturar com outras roupas, usando o sabão de sua preferência.
Em caso de alergia ao hipoclorito de sódio, o componente da água sanitária, pode lavar apenas com sabão neutro, sabão de coco ou detergentes neutros para evitar que outros componentes dos demais produtos causem alergia também.
3) Enxágue bem, pois o cheiro forte dos produtos de limpeza pode irritar o nariz e dessa forma também elimina resíduos da água sanitária e evita a alergia ao mesmo.
4) Coloque para secar no sol.
5) Quando estiver bem seca, passe a ferro.
Não utilize produtos que possam danificar a máscara.

“Tenho que usar várias máscaras durante o dia e não tenho condições de deixar de molho e de passar a ferro. Algumas vezes higienizei com álcool líquido 70% e enquanto secava, usava outra. Como proceder nesse caso?” (Antonio Marcio Junqueira Reis, 65 anos, técnico em segurança do trabalho, Campinas-SP)

Cientistas UFPR – O ideal seria ter várias máscaras para que você possa fazer as trocas necessárias durante o dia e dessa forma fazer a higienização correta, sugerida e padronizada pelos órgãos competentes. Você poderia fazer os procedimentos de higienização quando estiver em casa e levar com você a quantidade de máscaras necessárias para uso e troca ao longo do seu turno de trabalho. É importante que armazene as máscaras utilizadas durante o dia em plásticos descartáveis e individuais para lavagem posterior.

Mesmo na concentração de 70%, o álcool é uma substância inflamável, ou seja, ao ser borrifado sob as máscaras, aumenta as chances de queimaduras na face. Além disso, para se obter uma assepsia eficaz, você precisaria borrifar uma grande quantidade de álcool sob toda máscara, deixando-a úmida. Esse fator é problemático, principalmente porque a máscara estará posicionada diretamente sob o nariz e a boca e você estará respirando o álcool borrifado, que é rapidamente absorvido e vai para o sangue. O resultado seria o mesmo que a ingestão de álcool. Dependendo da concentração de etanol inalado, você poderá apresentar um quadro de intoxicação por álcool, com sintomas que variam entre irritação das vias aéreas superiores, dores de cabeça, cansaço e sonolência. Os efeitos adversos observados irão depender de quanto álcool for inalado.

“Vi perguntas e respostas neste link da UFPR. Porém, há no site da Anvisa a indicação de duas colheres de sopa e a UFPR diz ser de três a quatro colheres de sopa de água sanitária para cada litro de água. Em outro lugar, não lembro, vi para lavar máscara caseira a proporção de um copo para cara três copos totalizando um litro da solução. A costureira que fez minhas máscaras (tricoline em duas camadas com um pedacinho de TFT) me recomendou uma colher de sopa. Disse ter visto na televisão. Qual é o ideal?” (Humberto Pereira Cavalcanti, 63 anos, fotógrafo, Recife-PE)

Cientistas UFPR – Existem duas diluições recomendadas para uso da água sanitária com eficácia e segurança. Uma delas, para uso na desinfecção de objetos e superfícies e que também pode ser utilizada em tecidos, é a diluição a 0,5% que consiste em adicionar 250 ml de água sanitária (comercializada com cloro ativo de 2 a 2,5%) em um litro de água potável. Outra diluição recomendada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é 0,05% para higienização das mãos (quando não tem o álcool gel 70% disponível). Nesse caso, a diluição é de duas colheres de sopa para cada litro de água. Após esse molho, enxague bem sua máscara para remoção dos agentes desinfetantes e lave normalmente com água e sabão.

“Com o conceito de máscaras duplas mais independentes e complementares – protetor facial (policarbonato ou outro material) junto à máscara convencional ou de pano -, é impossível tocar no rosto com essa estrutura. Mesmo assim ter a consciência disso: a contaminação pelo ar reduzida pela máscara convencional ou de pano e na rua com o álcool gel em caso de eventualidades. Com todas essas informações que temos estou 100% seguro de viver com esse procedimento. Mas tenho que confirmar com os médicos e infectologistas. Está correto o entendimento das máscaras duplas? Claro também o isolamento necessário. Os valores de contaminação de 1,5% quando duas pessoas usam máscara de pano são verdadeiros? E quais seriam os valores (possibilidades de contaminação) usando o kit com máscaras duplas (protetor e normal) independentes e complementares?” (J.M., 66 anos, engenheiro, Rio de Janeiro-RJ)

Cientistas UFPR – Realmente, o uso de máscaras associado a medidas de higiene e distanciamento social são as melhores maneiras de prevenir o contágio da Covid-19. Mas quantificar com precisão o risco de contágio com essas medidas é um pouco mais difícil. Então, o valor de 1,5% é mais uma estimativa do que um valor absoluto já que não há evidências científicas suficientes para quantificar o risco de contágio com precisão quando duas pessoas usam máscaras. Dessa forma, mesmo que duas pessoas ou mais estejam de máscara, é necessário ainda o distanciamento social. Temos que ter cautela com esses valores absolutos já que eles podem levar a uma falsa crença de proteção apenas pelo uso de máscara.

Há vários estudos já publicados e muitos ainda em andamento avaliando a efetividade do uso de máscaras e protetores faciais para evitar contaminação por Covid-19. Entretanto ainda não há um consenso quanto aos valores exatos para risco de contaminação em diversos contextos. Vale lembrar que muitos desses estudos são feitos em ambientes controlados e que é muito difícil transpor os valores encontrados em laboratório para a vida real, onde há muitas outras variáveis que podem interferir nos níveis de proteção.

Dos estudos mais recentes, uma revisão publicada pela The Lancet de junho deste ano avalia o distanciamento físico, máscaras faciais e proteção ocular para impedir a transmissão de SARS-CoV-2 e Covid-19 de pessoa para pessoa. Essa revisão avaliou 172 estudos e mostra que a distância de pelo menos um metro reduz significativamente o risco de contaminação e distâncias de dois metros ou mais são mais efetivas. Além disso, indica que o uso de máscaras e proteção ocular reduzem fortemente o risco de contaminação. As máscaras do tipo N95 ou similares se mostram as mais efetivas, mas seu uso deve ser reservado aos profissionais de saúde. Para a população geral é recomendado o uso de máscaras de pano, devendo-se levar em conta o bom encaixe da máscara, camadas de tecido e se ele é resistente à água.

“Existem embalagens que compramos no mercado que não podem sofrer o processo de higienização por álcool gel ou água sanitária, pois as embalagens podem sofrer alterações pelos produtos químicos, tornando-se fragilizadas e impedindo o ataque de insetos, fungos etc.? Algumas embalagens podem ter algum caráter permeável e que aí ao ser aplicado álcool gel ou água sanitária esses produtos podem entrar em contato com o alimento?” (Rogério Tarnowski, 55 anos, instrutor no programa Menor Aprendiz, Curitiba-PR)
“Se eu deixar os alimentos que chegam do mercado separados (alimentos que vêm em embalagens plásticas), quantos dias depois posso pegar neles com segurança sem ter que higienizá-los?” (Simone Sobrinho, 50 anos, arquiteta, Rio de Janeiro-RJ)

Cientistas UFPR – Oi, Rogério e Simone! De acordo com um estudo recente, publicado no New England Journal of Medicine, o vírus pode sobreviver em aço inoxidável e em plástico por 72 horas (três dias), em papelão por 24 horas (um dia), em cobre por quatro horas e em aerossol (partículas virais liberadas junto à saliva que permanecem flutuando no ar) pode permanecer no ar de 40 minutos a duas horas e meia. A quantidade de vírus vai diminuindo com o passar das horas. Porém, ainda não há evidências suficientes para apontar quanto tempo o vírus sobrevive em outras superfícies mais difíceis de higienizar, como tecidos, embora os pesquisadores acreditem que fibras naturais que são absorventes podem fazer com que o vírus resseque depressa.

Dessa forma, se não for possível fazer a higienização de algum produto por risco de deterioração da embalagem, é necessário observar o tempo de permanência do vírus na determinada superfície e evitar o contato com o produto por esse tempo. Caso não seja possível esperar para manipular essas embalagens, lembre-se de evitar colocar as mãos no rosto sem antes lavá-las com água e sabão ou utilizar álcool 70%. E nos demais casos, sempre que possível utilizar desinfetantes contendo cloro, álcool ou água e sabão para higienizar embalagens e produtos que você leva ou que chegam à sua casa por delivery.

“Moro em uma casa de esquina na qual a cozinha, a sala de jantar, a sala de TV e um quarto possuem as janelas para a rua. A distância das janelas até a calçada é de três metros. O muro é baixo e vazado. Por ser uma rua movimentada de carros, o vento produzido por eles ou até mesmo o vento natural poderão trazer o vírus para dentro de casa? Com essa dúvida, realizo duas vezes por dia a limpeza diária de casa” (Maria Fátima Baldasso Ramos, professora aposentada, Amparo-SP)

Cientistas UFPR – Olá, Maria! Segundo essa notícia publicada pela revista científica Nature, o SARS-CoV-2, o coronavírus responsável pela pandemia de Covid-19, pode passar de pessoa para pessoa em pequenas gotículas (aerossóis) que flutuam no ar e se acumulam com o tempo. Após meses de debate sobre se as pessoas podem transmitir o vírus pelo ar expirado, existe uma crescente preocupação entre os cientistas sobre essa rota de transmissão. Um cientista especialista em aerossóis, Donald Milton, da Universidade de Maryland (EUA), apoiado por um grupo internacional de 237 outros médicos de doenças infecciosas, epidemiologistas e engenheiros, publicou um comentário na revista Clinical Infectious Diseases estimulando a comunidade médica e as autoridades de saúde pública a reconhecerem o potencial de transmissão aérea. Eles também pediram medidas preventivas para reduzir esse tipo de risco. Em resposta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) suavizou sua posição, dizendo em uma entrevista coletiva em 7 de julho que emitiria novas diretrizes sobre transmissão em locais com contato próximo e pouca ventilação. A OMS está seguindo as evidências disponíveis e embora reconheça que a transmissão aérea é plausível, as evidências atuais não são suficientes para provar isto. Assim, as recomendações para distanciamento físico, quarentena e uso de máscaras na comunidade provavelmente vão de alguma maneira controlar a transmissão de aerossóis, se estiver ocorrendo.

Entendemos que as chances de contrair o vírus em ambientes com ar circular é muito menor do que em ambientes fechados. Dessa forma, seu procedimento está correto ao abrir as janelas e deixar o vento correr, mesmo que isso traga mais poeira e, infelizmente, aumente seu trabalho na limpeza da casa.

“É verdade que o coronavírus não pode ser transmitido por bebidas? Por exemplo, se uma pessoa acidentalmente põe o dedo contaminado em minha bebida (como água, refrigerante ou bebida alcoólica), eu corro o risco de contrair o vírus caso beba essa bebida? E em relação à ingestão de alimentos contaminados?” (João Noé Alves de Carvalho, 35 anos, pesquisador, Portugal)

Cientistas UFPR – Olá, João! Até o momento, não há evidências de que as pessoas possam pegar o coronavírus por bebidas, alimentos/embalagens de alimentos. Com relação a bebidas, até o momento apenas a presença de vírus em leite materno foi reportada, sendo o leite proveniente de mulheres diagnosticadas com Covid-19. Nesse caso, os bebês podem ser contaminados pela ingestão do leite com SARS-CoV-2. Embora os vírus possam sobreviver em alguns materiais e superfícies (aço inoxidável, papel e cobre), eles não se multiplicam nestes locais, necessitando de um organismo vivo para promover a sua multiplicação.

A transmissão ocorre principalmente por contato direto ou por gotículas espalhadas pela tosse ou espirro de um indivíduo infectado. Sendo assim, se o indivíduo infectado tossir e levar as mãos à boca, as partículas podem ser transmitidas para os dedos. Dessa forma, ao colocar o dedo contaminado na sua bebida e/ou alimento, existe um risco de que você contraia o vírus, caso consuma essas bebidas ou alimentos. Por esse motivo, os órgãos de saúde sugerem que seja evitado o compartilhamento de alimentos, bebidas, utensílios domésticos e itens de higiene pessoal entre indivíduos infectados e saudáveis, buscando evitar a propagação do vírus, assim como uma nova infecção de um indivíduo saudável.

Portanto, é essencial:

1) Manter a etiqueta ao tossir/espirrar: cobrir o rosto com os braços, evitando levar as mãos à boca.
2) Manter o distanciamento em locais de convívio social: distância de cerca de um metro de outros indivíduos, evitando contato com possíveis gotículas contaminadas, bem como usar máscaras ao se aproximar de outras pessoas.
3) Realizar a lavagem de alimentos com água potável e higienização com desinfetantes.
4) Sempre lavar as mãos após manusear alimentos cujas embalagens/superfícies não foram limpas.

“Meu marido testou positivo para Covid-19, após ter tido contato com uma pessoa infectada. Porém, já tinha 19 dias desde o contato com essa pessoa e 18 dias desde o aparecimento dos sintomas. Teve tosse por dois dias, cansaço extremo e muita coriza. Só soubemos que o rapaz estava positivo 10 dias depois do encontro (ele veio prestar um serviço relacionado à internet. Meu marido está trabalhando home office). Quando fez o teste não estava com praticamente nenhum sintoma. Fez o teste rápido no posto de família de nossa cidade. Por orientação da médica, também fiz e deu negativo. Gostaria de ter alguma orientação, se devo considerar mesmo o negativo ou refazer o exame já que tive contato direto sem nenhuma proteção, pois não imaginávamos que eram sintomas mesmo. Seguimos os protocolos de distanciamento social, de higiene e tudo que se refere à proteção, mas em casa convivemos normalmente. Moramos eu, meu marido e minha filha de um ano e quatro meses. Nesse período só apresentei dor de cabeça por uns três dias e garganta irritada. Peço, por gentileza, uma orientação” (Ingrid Barbosa da Cruz, 30 anos, vendedora, Niterói-RJ)

Cientistas UFPR – Olá, Ingrid! Esperamos que todos estejam bem na sua casa! O teste rápido é um exame que avalia a possibilidade de contato com o vírus por meio da detecção de imunoglobulinas (anticorpos) chamadas IgM, que demonstra se o contato foi recente (aparece após o sétimo dia do contágio), e IgG, que demonstra se o contato foi há mais tempo (produzindo imunidade futura para novas infecções do coronavírus). Assim, a interpretação desses resultados vai depender do momento imunológico de cada paciente e de sua resposta ao vírus, sendo possíveis resultados falso positivos ou falso negativos dependendo do momento da coleta do sangue. No caso do seu marido, dependendo de qual imunoglobulina (IgG ou IgM) estava alterada pode-se ter uma ideia do tempo em que ocorreu o contato com o vírus. Lembrando que os testes rápidos sozinhos não são diagnósticos, apenas o exame RT-PCR feito com secreção nasal efetivamente detecta a presença do vírus no organismo e confirma o diagnóstico de Covid-19.

No seu caso, o resultado negativo no teste rápido indica que você não tinha anticorpos contra o SARS-CoV-2 no momento que o sangue foi coletado.

Considerando que esses anticorpos somente surgem em quantidade detectáveis pelo menos sete dias depois da infecção, o teste tem significância após esse período. Se sua carga imunológica (quantidade de anticorpos) for baixa, o teste pode ter um falso negativo. Assim, os resultados dos testes rápidos devem ser interpretados por um profissional de saúde, considerando informações clínicas, sinais e sintomas do paciente, além de outros exames confirmatórios. Somente com esse conjunto de dados é possível fazer a avaliação e o diagnóstico ou descarte da doença.

A prevenção da transmissão a outras pessoas ocorre isolando os casos infecciosos. É também fundamental identificar todos os contatos próximos da pessoa infectada para que sejam colocados em quarentena para limitar a propagação e quebrar as cadeias de transmissão. Assim, se seu marido teve contato com outras pessoas além de você, é importante avisá-las, mesmo que ele não tenha feito o teste de RT-PCR para confirmar a Covid-19. Ao colocar em quarentena os contatos próximos, os casos secundários em potencial já serão separados dos outros antes de desenvolverem sintomas ou começarem a liberar vírus se estiverem infectados, impedindo a disseminação. Então vocês agiram corretamente, se isolando em casa e seguindo as recomendações de higiene. O período de incubação da Covid-19, que é o tempo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas, é de cinco a seis dias, mas pode durar até 14 dias. Portanto, o isolamento deve estar em vigor por 14 dias a partir da exposição a um caso confirmado. Acreditamos que agora vocês já tenham ultrapassado esse período.

É importante destacar que os pacientes, mesmo quando testados positivos para Covid-19, como o caso do seu marido, não devem procurar hospitais ou ambulatórios, devendo permanecer em suas casas por duas semanas até a remissão da infecção, exceto se estiverem com sintomas graves, como dificuldade de respirar. No caso de sua família, manter o isolamento e monitorizar os sinais da doença em casa é o melhor a fazer, e procurar atendimento médico somente se houver agravamento e/ou dificuldade respiratória.

Prevenção

“Comprei um galão de um litro de álcool 70% líquido. Porém, depois percebi que não havia nenhum selo das agências de regulamentação na embalagem, embora haja os dados da empresa e do responsável técnico. Há alguma forma ou teste para saber se o álcool está na dosagem correta (70%), haja vista os casos de álcool em gel adulterado sendo vendidos?” (Tairon Villi, 29 anos, professor, Curitiba-PR)

Cientistas UFPR – Olá, Tairon! Sua pergunta é bem relevante. Pela necessidade de disponibilidade de antissépticos para higienização de mãos e ambientes em decorrência da Covid-19, a Anvisa liberou temporariamente as empresas fabricantes de medicamentos, cosméticos e saneantes a produzirem álcool 70%. A Resolução RDC nº 350, de 19 março 2020, definiu os critérios e os procedimentos extraordinários para a fabricação e comercialização de preparações antissépticas ou sanitizantes oficinais sem prévia autorização da Anvisa. Por isso, você não encontrou selo de inspeção de agências regulatórias. No entanto, o nome da empresa, responsável técnico, número do lote e data de validade devem estar evidentes na embalagem ou no rótulo, indicando a procedência do produto.
Infelizmente já foram noticiadas adulterações em produtos contendo álcool, que estavam com concentração bem mais baixa (16%, 28%, 35%) do que o recomendado e, portanto, sem atividade sobre o vírus SARS-CoV-2. Pela legislação, a concentração nos produtos deve ficar entre 60% e 80% para álcool líquido, e 70% para álcool gel. Mas a conferência do grau de álcool do produto só pode ser feita em laboratório de análises químicas ou farmacêuticas, por profissionais e com métodos precisos de detecção, como a cromatografia gasosa. Não há métodos adequados para conferir o grau alcoólico desses produtos em casa, como se propaga em redes sociais. Essas notícias são perigosas, pois disseminam o uso de fogo, com riscos de explosão. O melhor a fazer é checar as informações do rótulo e o aspecto do produto (cor, textura e odor), e se tiver algo diferente do habitual não deve mais utilizá-lo, e pode fazer denúncia à ouvidoria da Anvisa.

“Como transformar álcool líquido 92,8% em 70%? Procurando no Google fiquei em dúvida, pois alguns falam na proporção de 80% álcool e 20% água e outros em 70% álcool e 30% água” (Angela Trece, 70 anos, aposentada, Belo Horizonte-MG)

Cientistas UFPR – Angela, sua dúvida sobre a diluição do álcool mais concentrado é certamente compartilhada por outras pessoas. Os trabalhos científicos mostram que o etanol em concentração de 70%, 75% e 85% é eficiente para inativar o vírus SARS-CoV-2. Concentração mais baixa, de 62% a 65%, tem menor efeito antiviral. Então o melhor é usar álcool 70% ou 75%, pois concentrações mais elevadas do que essas podem ser irritantes para a pele.

Assim, para obter álcool 70% a partir de álcool concentrado é preciso levar em conta dois fatores: concentração e volume da solução. A proporção que você comentou de 70% álcool e 30% água é adequada se você estiver usando álcool puro (100%). Como você tem álcool 92,8% (vamos considerar 93%), para fazer um litro de álcool 70% você deve usar 750 ml do álcool 93% e 250 ml de água. Se você usar a outra proporção que comentou, de 80% álcool e 20% água (ou seja, 800 ml de álcool 93% e 200 ml de água) obterá uma solução de álcool 74%, que também tem efeito contra o vírus.

“Nas famílias em que uma ou duas pessoas necessitam continuar trabalhando fora de casa (em locais com contato com maior quantidade de pessoas), quais os cuidados necessários ao retornar para casa para proteger os demais membros da família que estão mantendo o isolamento dentro da residência (especialmente se há alguém do grupo de risco)? Gostaria de dicas sobre o distanciamento necessário entre essas pessoas dentro de casa, se há necessidade ou não de uso de máscara dentro de casa, horário de refeições (se podem sentar-se juntos à mesa ou não), entre outros cuidados. Tenho visto isso acontecer em várias famílias e vejo as pessoas perdidas quanto aos procedimentos necessários” (Ana Paula Viezzer Salvador, 39 anos, psicóloga e professora do curso de Psicologia da UFPR, Curitiba-PR)

Cientistas UFPR – A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendam os mesmos cuidados que devemos ter dentro e fora de casa. É importante também perceber se algum morador apresenta um ou mais sintomas da Covid-19 para as notificações e cuidados necessários. Como forma de prevenção é importante o uso de máscaras e a higienização correta e frequente das mãos com água e sabão complementando com o álcool gel 70%. Ao retornar para casa após o trabalho, é importante que seja feita a troca de roupas e retirada de calçados, uma vez que estudos recentes apresentados na New England Journal of Medicine mostraram a permanência do vírus em superfícies por horas ou dias. A SBI também sugere a criação de uma “área suja” isolada onde o morador possa retirar suas roupas e calçados ao chegar em casa. Além disso, lavar as roupas e tomar banho sempre que chegar é o ideal para prevenir a contaminação daqueles que permanecem em casa, especialmente se estiverem enquadrados nos grupos de risco. As refeições podem ser feitas juntos, mas como forma de prevenção, é importante respeitar o distanciamento de pelo menos um metro, embora nem sempre seja possível dependendo do número de pessoas na família e tamanho dos cômodos ou mesa. Importante não compartilhar copos, talheres, pratos, toalhas e objetos pessoais. Evite beijos e abraços.

Recebi por meio de grupo de família no WhatsApp a seguinte mensagem, sem fonte, que tem alguns dados que parecem coerentes, mas como não tem fonte, pode ser fake news. O que tem de verdadeiro e o que tem de falso? 

Cópia da mensagem: “Covid. Devido ao colapso no Sistema de Saúde do Brasil, nós, profissionais da Saúde, preparamos esse texto para a população, caso não queiram logo arriscar ir a um hospital. Sintomas aparecem a partir 3 dias depois do contágio (sintomas de virose). 1ª fase: Dor no corpo, Dor nos olhos, Dor de cabeça, Vômito, Diarreia, Coriza ou congestão nasal, Moleza, Ardor nos olhos, Ardor ao urinar, Sensação febril, Garganta arranhada; importantíssimo contar os dias de sintomas 1º 2º 3º; Medicação: Azitromicina – tomar 1 por dia a partir do 3º dia para diminuir o contágio, diminuição dos sintomas e prevenir pneumonia. Agora também tem para ser mais rápido na cura o ivermectina ou Anitta. É necessário agir antes da febre. Não esperar a febre chegar para tomar antibiótico. Atenção, é muito importante a ingestão de bastante líquido, em especial a água, beba bastante água para não deixar a garganta seca e para ajudar a limpar os pulmões. 2ª fase (4º ao 8º dia) Inflamatória: Perda do paladar ou olfato, Cansaço aos mínimos esforços, Dor no tórax (caixa torácica), Aperto no peito, Dor na região lombar (na região dos rins), O vírus ataca as terminações nervosas, Diferença de cansaço/falta de ar, (falta de ar é quando a pessoa está sentada, sem fazer nenhum esforço e falta ar, cansaço é quando ela se movimenta de pra fazer algo simples e se sente cansada); Precisa de muita hidratação e vitamina C. (O vírus 🦠 se liga ao oxigênio, a qualidade do sangue fica ruim, com menos oxigênio). Se tiverem com tosse tomem algum xarope para tosse. (Eu tomei o acetilcisteína xarope e envelope). 3ª fase – cura. 9º dia entra na fase de cura, até o 14º dia (convalescença). Não atrasar o tratamento, quanto mais cedo melhor’” (Luana Veiga, 40 anos, professora do Departamento de Artes da UFPR, Curitiba-PR)

Cientistas UFPR – Olá, Luana! Essa é uma ótima questão. Vamos elencar os pontos verdadeiros e falsos em tópicos, para facilitar o entendimento.

Verdadeiro: a azitromicina realmente é utilizada como forma de prevenção a infecções secundárias, como uma pneumonia, mas a sua venda só é realizada sob prescrição médica. Então você não pode (e não deve) adquiri-la por conta própria. Além disso, é importante manter-se hidratada.

Falso: Não existem medicações, atualmente, para diminuir o contágio ou os sintomas da Covid-19. A azitromicina (antibiótico), a ivermectina (antiparasitário), nitazoxanida (Anitta, antiparasitário), vitamina C ou xaropes para tosse, embora estejam em estudos, não têm eficácia comprovada contra o coronavírus. Por isso, não se deve automedicar, muito menos para evitar a febre. Além disso, alguns xaropes podem ter efeito contrário, uma vez que podem evitar a expectoração de secreções pulmonares e piorar o quadro clínico do paciente.

Verdadeiro: Os sintomas relatados pelo autor são reais. No entanto, a divisão de fases não ocorre necessariamente na ordem relatada. Alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves em pouco tempo e outros sintomas leves até a cura da doença, sem necessariamente evoluir para um quadro clínico mais grave. Os estágios (fases) da doença são: estágio I (infecção leve); estágio II (moderado com envolvimento pulmonar com ou sem hipóxia – diminuição dos níveis de oxigênio no sangue); estágio III (severo, com hiper inflamação sistêmica).

Por fim, ressaltamos que a automedicação pode ser perigosa e levar a uma série de efeitos colaterais. Não existem dados concretos a respeito de uma medicação que possa ser a cura “mais rápida”, nem mesmo que possa diminuir o contágio. Um tratamento precoce não necessariamente irá promover uma melhora no quadro clínico do paciente.

“Costumamos comprar alimentos a granel que são consumidos crus, como castanhas, amaranto em pipoca, levedura de cerveja. Nesta página há uma orientação para que eles sejam levados ao forno. Essa orientação (publicada em 24 de março) continua válida? A que temperatura tais alimentos devem ser aquecidos e por quanto tempo, a fim de inativar o SARS-CoV-2? Encontramos o dado 63°C, quatro minutos, com data de 27 de março passado. Essa informação continua válida? Há algum estudo ou indicação sobre quanto tempo o coronavírus permanece ativo caso esteja nos cereais ou nas castanhas? Pensamos que uma solução para o uso de cereais e grãos poderia ser uma “quarentena” a partir da data em que foram embalados” (Ivan Eidt Colling, 51 anos, professor universitário UFPR, Curitiba-PR)

Cientistas UFPR – Olá, Ivan! A sensibilidade do vírus a altas temperaturas é fundamentada a partir de alguns estudos que analisaram outros tipos de vírus. Segundo essas análises, é provável que o SARS-Cov-2 não deva resistir a uma temperatura acima de 70°C. O tempo de exposição necessário para inativar o SARS-Cov-2 pode variar a depender da temperatura e da umidade do ambiente. Quanto maior a temperatura e menor a umidade, menor o tempo necessário para eliminação do vírus. Em temperatura ambiente, vários estudos relataram que ele pode sobreviver em metais, vidro, plástico e fibras por até nove dias. O SARS-Cov-2 é viável entre 40 minutos a duas horas e meia na forma de aerossol (partículas presentes no ar), por até 72 horas em plásticos e aço inoxidável, 24 horas em papelão e as superfícies de cobre tendem a inativar o vírus em cerca de quatro horas.

Não existem estudos específicos sobre a permanência do vírus em cereais e de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), não há relatos de casos de transmissão diretamente através da ingestão de comida. Mas a OMS também enfatiza que é importante ter o máximo de cautela para evitar a contaminação cruzada (quando alguém contaminado manuseia o alimento). Se o indivíduo infectado tossir e levar as mãos à boca, as partículas podem ser transmitidas para os dedos. Dessa forma, ao colocar o dedo contaminado em algum alimento, existe um risco de contaminá-lo. Por esse motivo, os órgãos de saúde sugerem que seja evitado o compartilhamento de alimentos, bebidas, utensílios domésticos e itens de higiene pessoal entre indivíduos infectados e saudáveis.

A sua solução de fazer uma “quarentena” com os alimentos é uma forma possível e interessante, quando não é viável fazer a higienização do alimento ou da embalagem. Além disso, a exposição a altas temperaturas também é um mecanismo eficaz contra o vírus, mas como o tempo exato necessário dessa exposição ainda não está esclarecido em estudos científicos, especialmente para cada tipo de alimento, é importante manter a cautela.

“Sofri dois infartos considerados leves, em 2012 e 2014. Coloquei três stents. Segundo o médico, o comprometimento cardíaco foi pequeno, sem insuficiência cardíaca nem outras sequelas. A partir de então tenho levado vida normal, sem restrições rígidas, apenas os cuidados normais na alimentação e tomo medicamentos para a pressão que é normal, mas o médico quer mais baixa ainda, remédio para manter o colesterol baixo e aspirina infantil para prevenir. Meu perfil me inclui severamente no grupo de risco? Se encaixa no conceito de comorbidade? Estou em isolamento total, mas quero evitar continuar dependendo de outras pessoas para farmácia e supermercado” (Antonio Claret Röcker, 67 anos, advogado, Curitiba-PR)

Cientistas UFPR – Olá, Antonio! Pacientes com doenças crônicas, hipertensão, diabetes e que já tiveram alguma doença cardíaca como infarto ou passaram por alguma cirurgia cardiovascular ou que têm insuficiência cardíaca são um grupo de maior risco. Nesse grupo existe predisposição para desenvolver a forma grave da doença. Por isso é preciso redobrar os cuidados.

Um grande estudo publicado recentemente sobre a mortalidade de pacientes com doenças cardiovasculares mostrou que a idade também é outro agravante. Entre pessoas com idade maior que 65 anos, a taxa de mortalidade foi de 10%, enquanto para pessoas abaixo de 65 anos, o índice foi de 4,9%. O estudo também mostra outros parâmetros importantes de risco: entre os que possuem alguma doença arterial coronariana a mortalidade é 10,2% versus 5,2% entre aqueles sem doença, 15,3% versus 5,6% entre aqueles com e sem insuficiência cardíaca, 11,5% versus 5,6% entre os que têm e não têm arritmia, respectivamente. Ou seja, várias doenças cardíacas agravam o quadro da Covid-19.

Como a doença é nova, muito ainda precisa ser estudado, e mesmo que esteja bem de saúde, não é possível garantir que em caso de infecção o quadro não se agrave. Além disso, diante dos fatores que apontou em seu questionamento, infelizmente se enquadra nos casos de alto risco. Como ainda não possuímos uma vacina ou um medicamento para o tratamento com eficácia comprovada cientificamente, a cautela e a prevenção são as melhores indicações. Portanto, está agindo corretamente ao se expor o menos possível.

“Ano passado descobri um adenoma de hipófise e hiperplasia nodular hepático. Ambos estavam tão pequenos que os médicos falaram para parar de tomar o anticoncepcional e voltar em um ano. Além disso, no meu último exame de rotina, deu que eu estava com baixa vitamina D e o médico me mandou tomar remédio por seis meses. Estou no quinto mês agora. Por conta dessas coisas, sou enquadrada como grupo de risco?” (Taci Bom, 30 anos, radialista, São Paulo-SP)

Cientistas UFPR – Olá, Taci! Esperamos que esteja bem. A diminuição de vitamina D é comum na população principalmente pela ausência de exposição solar de ao menos 15 minutos nos horários recomendados (10h-16h). A reposição dessa vitamina é realmente muito importante, pois ela faz parte de funções fisiológicas vitais ao organismo, deve continuar repondo-a conforme a recomendação médica. Além disso, há estudos publicados propondo efeitos benéficos da vitamina D contra complicações presentes na Covid-19.

Relacionado ao adenoma de hipófise e hiperplasia nodular hepática, é pouco provável que lhe comprometam funções imunológicas, porque você não se encontra em tratamento quimioterápico, considerando a benignidade das doenças. Portanto, não se enquadra em grupos de risco. Apesar disso, é impossível prever os efeitos do vírus no seu organismo. Mesmo em pacientes saudáveis, o vírus pode ser muito prejudicial e, em alguns casos, pode ser fatal. Por esse motivo, é importante ressaltar que os mesmos cuidados de higiene preventiva e uso de máscaras devem ser mantidos e, quando possível, manter-se em isolamento social.

“Sou hipertensa, tenho 62 anos, tive trombose venosa profunda em 1977 causada pelo anticoncepcional Diane 35, uso meia de alta compressão, tomo aspirina de 100 mg e Daflon desde então. Para hipertensão faço uso de Losartana. Ouvi algum médico dizer que inibidores da ECA (angiotensina 2) e Losartana (angiotensina 1) fazem o vírus replicar no organismo. É verdade? É por isso que os hipertensos são do grupo de risco? A minha pressão é bem controlada com esse remédio, mas queria trocar esse remédio por um diurético. É possível? E quanto à sequela da trombose, com uso de meia o risco é maior? Também moro com dois filhos adultos que trabalham fora e um neto de oito anos. Não tenho como morar em outro lugar. O que fazer? Estou em pânico, me sentindo no corredor da morte” (Gislaine Silva de Oliveira, 62 anos, aposentada, Caldas Novas-GO)

Cientistas UFPR – Oi, Gislaine! Não entre em pânico! Pela urgência que a pandemia trouxe para termos medicamentos eficazes e vacina contra o vírus, há muitas informações por aí, mas nem tudo é verdade. Então vamos lá, não é verdade que os inibidores da ECA e os antagonistas dos receptores AT1 como a losartana fazem o vírus replicar mais no organismo. No início da pandemia foi levantada a pergunta se quem usa esse tipo de medicamento poderia ser mais propenso a ter a Covid-19 porque é através do receptor ECA2 que o coronavírus SARS-CoV-2 entra nas células, e alguns estudos sugerem que inibidores da ECA e antagonistas AT1 aumentam a expressão de receptores ECA2. Felizmente, não foi comprovada a relação entre o uso desses remédios a uma maior susceptibilidade à Covid-19. Um trabalho feito com pacientes da Coreia do Sul mostrou que dos 16.281 pacientes com hipertensão analisados, 950 tiveram Covid-19, e não houve relação com o uso de inibidores da ECA ou antagonistas AT1. Ou seja, tanto pessoas que usam esses anti-hipertensivos quanto pessoas que usam outros anti-hipertensivos tiveram o mesmo índice da doença. Outro estudo feito com 12.594 pessoas hipertensas de Nova York chegou à mesma conclusão. E veja, são grupos étnicos bem distintos, ou seja, tanto em asiáticos quanto em não asiáticos não houve relação entre o uso de anti-hipertensivos e ocorrência de Covid-19. Não é por isso que hipertensos são considerados grupos de risco. O risco existe porque pessoas com pressão arterial elevada podem ter um dano nos cardiomiócitos (células do coração) e nos rins, o que pode ser agravado pelo coronavírus; além de poderem apresentar um desbalanço no sistema imunológico quando a pressão não estiver bem controlada. Por exemplo, foi mostrado que a hipertensão em humanos está associada a linfócitos circulantes e disfunção de células T CD8+, fator que contribui para a grande produção de citocinas, substâncias que contribuem para o quadro inflamatório.

Você não deve trocar os seus remédios por um diurético. Existem razões muito importantes para isso. Os diuréticos usados no tratamento da hipertensão são menos potentes que os inibidores da ECA ou antagonistas AT1. Então, dependendo do nível de hipertensão, os diuréticos podem não reduzir a PA como desejado. Os inibidores da ECA e antagonistas AT1 apresentam outros efeitos protetores ao sistema cardiovascular, como a redução da liberação de aldosterona, um hormônio que em longo prazo contribui para o dano no tecido cardíaco e retenção de líquidos e protege de danos renais principalmente quando o hipertenso também é diabético. E veja só, os inibidores da ECA e antagonistas AT1 aumentam o potássio no sangue, o que no caso da Covid-19 é bom já que um dos problemas associados à essa doença é perda de potássio, que pode ter consequências gravíssimas e está relacionada com a gravidade da Covid-19.

Sobre a meia e a trombose, é importante que você continue a usar a meia e a tomar a aspirina de 100 mg. A meia de alta compressão ajuda no retorno do sangue venoso para o coração e é recomendada para pessoas que já tiveram trombose e têm problemas circulatórios. E a aspirina atua prevenindo a formação de trombos. Existe uma relação estabelecida da Covid-19 com a coagulação disseminada, então é muito importante que você continue com essas medidas de prevenção de formação de trombos, pois isso é um grande fator de risco para Covid-19.

Com relação aos seus filhos, é importante que cada vez que retornarem do trabalho façam imediatamente as medidas de higiene, desde deixar os sapatos fora de casa, ou se isso não for possível, limpá-los assim que chegarem; colocar as roupas para lavar; trocar a máscara que estavam usando na rua ou no trabalho por uma máscara limpa; e, se possível, tentar manter a distância de pelo menos 1,5 metro. Quanto ao seu neto, o ideal é mantê-lo no isolamento também, evitando ao máximo o contato com outras pessoas, e quando isso não for possível, ele deve usar sempre máscara e lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool 70% com frequência. E a qualquer sinal de gripe ou febre devem procurar os serviços de saúde e fazer um isolamento mais rigoroso dentro de casa, o que significa não compartilhar banheiro, talheres, pratos, copos etc.

Clique aqui e confira outras matérias com perguntas da sociedade sobre Covid-19 respondidas por cientistas da UFPR

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Por Chirlei Kohls
Parceria Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom) e Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR

[1] Imagem de NickyPe por Pixabay.

Como citar esta notícia: UFPR. “Coronavírus sobrevive em ambiente externo e superfícies?”: cientistas respondem a novas dúvidas da sociedade. Texto de Chirlei Kohls. Saense. https://saense.com.br/2020/07/coronavirus-sobrevive-em-ambiente-externo-e-superficies-cientistas-respondem-a-novas-duvidas-da-sociedade/. Publicado em 30 de julho (2020).

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