Luana Mendonça
22/04/2017

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Taxonomia é a ciência que busca conhecer e identificar os seres vivos a partir das suas diversas características externas e internas e também classificar esses seres e as relações entre eles. Em termos populares, são as pessoas que dão “nome aos bois” (ou cobras, plantas, peixes, aranhas etc).

Como há muito tempo o homem tem feito a nomeação e classificação dos seres vivos, cada pesquisador usando seu jeito, em 1735 Lineu criou um sistema para organizar e padronizar a nomeação de espécies. Esse sistema, conhecido como ‘Nomenclatura binomial’ é bem simples. Cada espécie deve ter um nome científico composto por duas palavras, primeiro o gênero, depois o epíteto. Estes devem ser escritos em itálico e o gênero sempre deve ter a primeira letra em maiúsculo, como por exemplo Canis familiaris (o conhecido melhor amigo do homem – cachorro).

Geralmente, quem primeiro descobre uma nova espécie descreve-a e dá nome. A escolha desse nome, por norma geral, deve levar em conta as características que fazem daquele ser vivo único, como por exemplo a água-viva Chiropsalmus quadrumanus que tem quatro projeções no corpo que lembram mãos (quadrumanus = quatro mãos).

Acontece que, alguns taxonomistas procuram inspiração bemmmm longe dos organismos que estão descrevendo. Um artigo que foi publicado no mês passado descreve 15 novas espécies de vespas parasitas para a região Neotropical [2]. Esses pesquisadores, além de zoólogos, provavelmente são bem nerds, pois usaram nomes de personagens da série de TV Star Trek, fizeram uma homenagem ao livro O Principe e o Mendigo (The Prince and the Pauper de Mark Twain) e algumas palavras que significam capacete (‘helmets’) no mundo Geek para dar nome as novas descobertas, resultando em, por exemplo: Phanuromyia odo, derivado de Odo, o personagem principal de Star Trek; Phanuromyia princeps do livro The Prince and the Pouper (mencionado acima) e Phanuromyia corys com ‘corys’ sendo uma das palavras que significam capacete utilizadas para designar cavaleiro usando capacete.

Mas outras inspirações podem acometer os taxonomistas, como uma homenagem a cerveja feita por Landry em 1995 ao nomear uma mariposa de La cerveza [3]; um agradecimento a Harrison Ford por narrar um documentário para um museu, dando à aranha o lindo nome Calponia harrisonfordi, dado pelo pesquisador Platnick em 1993 [4]; ou então uma merecida homenagem ao Google na forma da formiga Proceratium google, descoberta por Fisher em 2005 [5].

Pesquisadores brasileiros também usam bastante criatividade para dar nome a suas espécies. Por exemplo, o pesquisador Paulo Lana que nomeou duas espécies de poliquetos (vermes marinhos) a partir do nome dos seus cachorrinhos, gerando Neanthes bruaca e Nereis broa [6] (Bruaca e Broa são os nomes dos cachorros!!!). Já o pesquisador Silvio Lima usou um nome muito utilizado no Nordeste do Brasil para a nova espécie de gastrópode (molusco) descoberta, Anachis rechonchuda, o que, segundo o autor, faz jus a sua forma bem inflada [7].

Mas não podemos achar que essa criatividade toda é coisa de pesquisador atual, o próprio Lineu tinha uma inspiração bem particular para nomear as espécies que descobria, gerando uma série de organismos com nomes relacionados aos órgãos sexuais masculino e feminino, como por exemplo o percevejo Labia minor descrito em 1758 [8] e o molusco Penicillus penis descrito em 1758 [podem colocar o nome dessas espécies no Google e ver se parecem com os nomes que têm] [8].

Mas a melhor (ou pior, vocês decidem) é essa: o pesquisador Marcus descreveu e nomeou o molusco Piseinotecus divae em 1955 [9]. Segundo ele, “Piseinotecus” significa “eu pisei no Teco”. Esse pesquisador brasileiro tinha um cachorro chamado Teco e uma outra pesquisadora amiga chamada Diva pisou nele [Coitado do cachorro! Espero que tenha ficado bem!]. Dar esse nome ao molusco que ele estudava foi uma maneira engraçada de relatar o fato e talvez de aceitar as desculpas da Diva [Com certeza o Teco não perdoou assim tão fácil]. Excelente forma de aceitar uma desculpa não?

Caso vocês queiram conhecer mais nomes engraçados e diferentes acessem a lista “Funny or Curious Zoological Names” (não tão atual) do Sr. Menke (que deu o nome Aha para um gênero de vespas), mas já vou compartilhando que tem nomes na lista que são bem engraçados e outros que eu não sei nem como pronunciar; kkkk!!

[1] Crédito da imagem: Adaptação de Luana Mendonça a partir da imagem de Skara kommun (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/63794459@N07/6189127919/in/photolist-aqUU74-c2m9nf.

[2] KC Nesheim et al. The Phanuromyia galeata species group (Hymenoptera, Platygastridae, Telenominae): shining a lantern into an unexplored corner of Neotropical diversity. ZooKeys 663, 71 (2017).

[3] B Landry. A phylogenetic analysis of the major lineages of the Crambinae and of the genera of the Crambini of North America (Lepidoptera: Pyralidae). Associated Publishers (1995).

[4] NI Platnick. A New Genus of the Spider Family Caponiidae (Araneae, Haplogynae) from California. American Museum Novitates 3063 (1993).

[5] BL Fisher. A New Species of Discothyrea Roger from Mauritius and a New Species of Proceratium Roger from Madagascar (Hymenoptera: Formicidae). Proceedings of the California Academy of Sciences 56, 657 (2005).

[6] PC Lana & HH Sovierzoski. Neanthes bruaca sp. n. e Nereis broa sp. n. (Nereididae: Polychaeta) da costa sudeste do Brasil. Arq Biol Tecnol 30, 677 (1987).

[7] SF Lima & CR Guimarães. New bathyal Anachis (Neogastropoda: Buccinoidea: Columbellidae) from the Southwestern Atlantic, and the designation of a lectotype for A. stricta (Watson, 1882). Zootaxa 3949, 445 (2015).

[8] C Linnaeus. Systema Naturae per regna tria naturae, secundum classes, ordines, genera, species, cum characteribus, differentiis, synonymis, locis. Editio decima, reformata. Laurentius Salvius (1758).

[9] E Marcus. Opisthobranchia from Brazil. Bol Fac Fil Univ S Paulo, Zool 20, 86 (1955).

Como citar este artigo: Luana Mendonça. Taxonomistas também se divertem (e muito)!! Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/04/taxonomistas-tambem-se-divertem-e-muito/. Publicado em 22 de abril (2017).

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