Matheus Macedo-Lima
23/12/2015

Quebrando sob estresse. Crédito: Bernard Goldbach (Flickr) / Creative Commons.
Quebrando sob estresse. [1]
Estresse envelhece, cara! E dessa vez não é só alguém lhe dizendo isso numa tentativa ineficaz de lhe dar uma razão para não se estressar. O fato é que, por fim, pesquisadores estabeleceram uma correlação entre a “idade dos genes” e a intensidade do estresse experimentado ao longo da vida [2]. Preocupante, porém difícil de evitar.

A atividade dos genes não é a mesma ao longo de toda a vida. De fato, a sequência do DNA não muda, mas alguns genes são ligados e desligados de acordo com experiências e estímulos por quais passamos, num processo chamado epigenética. Fatores como dieta, exercício, hormônios, drogas, envelhecimento, estresse e até uma má noite de sono [3] podem causar mudanças epigenéticas [4].

Então, descobriu-se que a “idade” epigenética de vários genes prediz muito bem a idade real dos indivíduos. Junto com essa descoberta, foi criada uma escala do envelhecimento epigenético baseada em análises de DNA de milhares de pessoas – o relógio epigenético [5]. Utilizando essa escala, informações de bases de dados bastante detalhadas sobre a vida de centenas de indivíduos, e análises genéticas de amostras de sangue, os pesquisadores (mencionados no primeiro parágrafo) estabeleceram correlações entre a quantidade cumulativa de estresse ao longo da vida e o maior envelhecimento do relógio epigenético, ou seja, o DNA de pessoas cronicamente estressadas era mais “velho” do que o previsto pela escala [2]. O estudo também mostra que grande parte dos genes incluídos no relógio epigenético são provavelmente sensíveis ao hormônio do estresse – o cortisol – por conterem elementos responsivos a glicocorticoides. Nenhuma correlação foi encontrada entre o relógio epigenético e o estresse relatado no momento da coleta de sangue. Similarmente, correlações entre o relógio epigenético e doenças psiquiátricas, como depressão e estresse pós-traumático, não foram encontradas.

Por fim, esse estudo deve ser interpretado como um indicador de que envelhecimento epigenético e estresse crônico estão associados, e não como uma causa. Os autores salientam que os dados foram coletados de forma pontual. Portanto, apenas com um acompanhamento desses indivíduos e várias coletas de sangue poderia se ter mais confiança para indicar a relação de causa-efeito. Além disso, não se sabe exatamente o que tais mudanças epigenéticas causam ao indivíduo.

De qualquer forma, mantenha a calma, e evite a epigenética!

[1] Crédito da imagem: Bernard Goldbach (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/topgold/6273248505/.

[2] AS Zannas et al. Lifetime stress accelerates epigenetic aging in an urban, African American cohort: relevance of glucocorticoid signaling. Genome Biology 16, 266 (2015).

[3] A Azzi et al. Circadian behavior is light-reprogrammed by plastic DNA methylation. Nature Neuroscience 17, 377 (2014).

[4] O Aguilera et al. Epigenetics and environment: a complex relationship. J Appl Physiol 109, 243 (2010).

[5] S Horvath. DNA methylation age of human tissues and cell types. Genome Biol 14, R115 (2013).

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. Estresse envelhece os genes! Saense. URL: http://www.saense.com.br/2015/12/estresse-envelhece-os-genes/. Publicado em 23 de dezembro (2015).

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