Marcelo M. Guimaraes
10/04/2016

Imagem produzida pelo ALMA do disco protoplanetário ao redor da estrela jovem, análoga ao Sol, TW Hydrae. O quadro em destaque dentro da imagem mostra uma “falha” no disco localizada a 1UA, mesma distância da Terra ao Sol, onde provavelmente um exoplaneta está se formando. Outras falhas são visíveis na image a distância maiores da estrela. [1]
Imagem produzida pelo ALMA do disco protoplanetário ao redor da estrela jovem, análoga ao Sol, TW Hydrae. O quadro em destaque dentro da imagem mostra uma “falha” no disco localizada a 1UA, mesma distância da Terra ao Sol, onde provavelmente um exoplaneta está se formando. Outras falhas são visíveis na image a distância maiores da estrela. [1]
Localizado a 5.000 metros de altitude, no norte do deserto do Atacama no Chile, em um dos locais mais secos da Terra, o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) [2] observa o Universo em ondas de rádio. Recentemente um grupo de astrônomos, liderados por Sean Andrews do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, utilizou o ALMA em sua configuração mais estendida para obter a imagem com a maior resolução espacial de um disco protoplanetário de uma estrela jovem [3]. O disco protoplanetário é o material remanescente da formação da estrela, que a continua orbitando e é o local onde os planetas se formam.

A estrela em questão é a jovem (10 milhões de anos) TW Hydrae, uma análoga ao Sol e distante apenas 175 anos-luz. TW Hydrae é uma estrela jovem muito estudada devido à sua proximidade e pelo fato de apresentar um disco protoplanetário rico em gás mas com indícios de segregação de partículas que vão de micrômetros a centímetros. Além disso, como vemos na belíssima imagem feita pelo ALMA, a orientação de TW Hydrae com relação à nossa linha de visada é polar, ou seja, vemos o disco em toda a sua extensão. É o disco protoplanetário mais próximo ao Sistema Solar e portanto o que conseguimos ver em mais detalhes.

O que mais chamou a atenção nos resultados obtidos com o ALMA foram as “falhas” no disco. Na imagem, o que brilha é a poeira e o gás, o que significa que existe algum processo físico ocorrendo no disco e dando origem a essas falhas. A aposta é que esses são locais de aglomeração de partículas, que eventualmente darão origem a planetas. Existem 3 “falhas” principais, duas localizadas a cerca de 3 e 6 bilhões de quilômetros da estrela, correspondendo a posições no nosso Sistema Solar às órbitas de Urano e Plutão. A falha mais interna, mostrada em detalhe na figura, está a apenas 1 Unidade Astronômica da estrela (1UA = 150 milhões de km). Essa é a distância da Terra ao Sol!

A cada dia acrescentamos mais uma peça no mosaico que chamamos de ciência e que nos ajuda a entender nossa posição no Universo. Estamos um passo mais próximos de entender a formação do nosso Sistema Solar, mas a caminhada ainda é longa.

[1] Crédito da imagem: Sean Andrews (Harvard-Smithsonian CfA) / ALMA (ESO/NAOJ/NRAO).

[2] ALMA. URL: http://www.almaobservatory.org.

[3] SM Andrews et al. Ringed Substructure and a gap at 1 AU in the nearest protoplanetary disk. The Astrophysical Journal Letters 820, L40 (2016).

Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. Onde os planetas nascem. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/04/onde-os-planetas-nascem/. Publicado em 10 de abril (2016).

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