Claudio Macedo
09/08/2016

Representação esquemática do campo magnético da Terra. [1]
Representação esquemática do campo magnético da Terra. [1]
Somos acostumados a associar a presença do campo magnético da Terra à imagem de um ímã gigante, orientado ao longo do eixo de rotação do nosso planeta, de tal forma que explica o funcionamento da bússola que aponta o polo norte da agulha magnética para o Norte da Terra. Na verdade, a bússola efetivamente aponta para um “polo sul magnético” que não coincide com o polo Norte geográfico. Este polo magnético dista, atualmente, cerca de 11,5o do polo Norte geográfico.

A teoria predominante é que o campo magnético terrestre é gerado pelo movimento de ligas de ferro e níquel fundidas em seu núcleo. Essa possível origem tem sido corroborada por simulações computacionais que reproduziram com sucesso características do campo da Terra [2].

Por outro lado, existem evidências que os polos magnéticos estão constantemente mudando de lugar e que, inclusive, por várias vezes no passado ocorreram inversões completas das polaridades. Nessas oportunidades, o polo magnético que se localizava no Norte geográfico mudou para o Sul geográfico e vice-versa.

O estudo da evolução do campo magnético terrestre em épocas passadas é feito com base nas rochas contendo minerais magnéticos.

Durante a formação de algumas rochas sedimentares, partículas magnéticas que fazem parte dessas rochas apresentam a propriedade de orientação com o campo magnético terrestre. Como esta orientação não é alterada com a consolidação da formação rochosa, a polaridade do campo magnético da Terra fica gravada em tais rocha e as reversões do campo terrestres são, portanto, detectáveis [3]. O problema, até o momento, é que pouco se entende sobre a formação destas rochas com orientação gravada, pois os processos de formação de rochas conhecidos não conseguem explicar adequadamente este fenômeno.

Pesquisadores russos e japoneses, em pesquisa recente, encontraram evidências de que esses minerais magnéticos podem ter sido produzidos por bactérias antigas, que viviam do mar. A equipe colocou bactérias comuns em uma jarra de vidro com água e sedimentos do tipo encontrado nos oceanos que cobriam a Terra antiga (ferro, nutrientes e areia). Após dois anos, foi observado que o lodo que se formou no fundo do frasco continha partículas magnéticas variadas e muitas delas com tamanhos superiores a 30 nanômetros de comprimento, que é grande o suficiente para manter a orientação do campo magnético [4].

O que foi confirmado com essa experiência é que, dado tempo suficiente, as bactérias podem produzir cristais magnéticos cada vez maiores. Isso significa que esses resíduos magnéticos das bactérias podem ter se estabelecido no fundo do mar e, assim, com a sedimentação, mantido um registro fiel de como era o campo magnético no momento da cristalização desses resíduos.

A confirmação desse achado permitirá a obtenção de uma visão sem precedentes do campo magnético da Terra ao longo da história. Será possível, por exemplo, se fazer uma estimativa da intensidade desse campo ao longo do tempo. O que for encontrado nesses novos estudos poderá dar uma melhor visão sobre o passado e, também, ensinar algumas lições valiosas sobre o que observar no futuro, quando o campo magnético da Terra deverá novamente inverter. Precisamos antever, por exemplo, como a mudança poderá afetar a vida no nosso planeta tendo em vista que o campo magnético nos protege da radiação espacial. [5]

[1] Crédito da imagem: Zureks (Own work) [CC0], via Wikimedia Commons. URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Earth%27s_magnetic_field,_schematic.png .

[2] M Kono and PH Roberts. Recent geodynamo simulations and observations of the geomagnetic field. Reviews of Geophysics 40, 1 (2002).

[3] Wikipedia. Earth’s magnetic field. URL: https://en.wikipedia.org/wiki/Earth%27s_magnetic_field.

[4] A Abrajevitch et al. Magnetic properties of iron minerals produced by natural iron- and manganese-reducing groundwater bacteria. Geophys J Int 206, 1340 (2016).

[5] Artigo relacionado: A importância do campo magnético terrestre para o surgimento da vida na Terra.

Como citar este artigo: Claudio Macedo. Quando o campo magnético da Terra gira. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/08/quando-o-campo-magnetico-da-terra-gira/. Publicado em 09 de agosto (2016).

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