Luana Mendonça
17/10/2017

Imagem de uma área da região do rio São Francisco próxima ao seu encontro com o Oceano. [1]
Não é de hoje que nós sabemos que o rio São Francisco, um dos maiores rios do país, que tem nascente e foz dentro do território brasileiro, está gritando por socorro. Muitos são os recursos que a água do São Francisco nos proporciona, como o consumo direto, irrigação, pesca, e os usos não tão legais como o despejo de esgoto doméstico e rejeito das indústrias. Porém, o principal uso do rio São Francisco é gerar energia e, para isso, algumas barragens foram instaladas (uma na região superior, duas na região média e seis no baixo São Francisco), reduzindo MUITO a vazão do rio.

Energia elétrica é absurdamente importante e seria muito complicado viver sem ela (esse texto estaria sendo escrito à mão ou ‘pasmem’ em uma máquina de datilografar), mas as barragens prejudicaram, de maneira direta, os peixes do rio. Mas como assim? A maioria dos peixes pescados no São Francisco e comercializados são peixes migratórios, que sobem o rio, geralmente na época da chuva, para poder reproduzir, e, com as barragens, a migração foi prejudicada e várias dessas espécies de peixes começaram a desaparecer no São Francisco. E nós estamos falando apenas dos peixes comerciais, imaginem os outros!!

O artigo do qual falarei hoje é um relato do reaparecimento de um dos peixes comerciais que há 40 não vinha sendo capturado no baixo São Francisco [2]. O peixe em questão é conhecido como matrinxã (Brycon orthotaenia, Characiformes: Bryconidae) (Figura 2), uma espécie que faz longas migrações para as regiões superiores do rio para poder se reproduzir.

Espécime de matrinxã (Brycon orthotaenia) capturado no baixo São Francisco em 2015. [2]
Os autores mencionam que desde 2012 a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF) vem conduzindo um programa de peixamento (repovoamento do rio com os peixes nativos) do matrinxã no baixo rio São Francisco, já tendo liberando cerca de 50.000 alevinos (juvenis) de 10 cm de comprimento, mas não tendo capturado nenhum desde então. Os autores explicam que os procedimentos de peixamento são influenciados pelas restrições do ambiente e pelos requerimentos biológicos das espécies. Além desses fatores, no baixo São Francisco, a efetividade do peixamento também vem sendo influenciado pelo controle da vazão, poluição, remoção da vegetação da margem, introdução de espécies não nativas e outras problemáticas.

O reaparecimento do matrinxã mostra que apesar de todos os problemas que a espécie vem enfrentando, ela também é bastante resiliente, mas outros mecanismos sugeridos pelos autores podem aumentar a eficiência da criação e reinserção dos alevinos de espécies nativas, como: a escolha dos melhores locais para soltura, aumento da vasão do rio no período chuvoso, evitar ao máximo a liberação de esgoto doméstico e resíduo industrial no rio, envolver as comunidades que vivem nas margens do rio nos programas de proteção e restauração ambiental, a reflorestamento da margem e o monitoramento à longo prazo das espécies nativas.

Obviamente, o reaparecimento de uma espécie após 40 anos sem registrá-la é importantíssimo, pois mostra que atitudes, quando tomadas de maneira correta podem ajudar a restaurar o ambiente de que tanto usufruímos. Essa é uma boa notícia diante de tantas e tantas tristes relacionadas ao rio São Francisco, mas vamos manter a esperança e fazer nossa parte!

[1] Crédito da imagem: Roldão Lima Junior (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-SA-4.0). URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:S%C3%A3o_Francisco_River.jpg

[2] MFG Brito et al. Reappearance of matrinxã Brycon orthotaenia (Characiformes: Bryconidae) in the lower São Francisco river, Brazil. AACL Bioflux 9, 949 (2016).

Como citar este artigo: Luana Mendonça. Os peixes do São Francisco pedem socorro e tem gente ajudando! Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/10/os-peixes-do-sao-francisco-pedem-socorro-e-tem-gente-ajudando/. Publicado em 17 de outubro (2017).

Artigos de Luana Mendonça     Home