Matheus Macedo-Lima
27/03/2019

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Na natureza encontramos animais com sentidos incríveis. Há camundongos que sentem cheiro de oxigênio (escrevi no Saense aqui); há a super-audição dos cachorros; os olhos das águias… Esses são exemplos de capacidades extremas de sentidos que nós humanos também possuímos.

Porém, alguns animais desenvolveram sentidos que são mais complicados de se imaginar. Por exemplo, há peixes que se comunicam por pulsos elétricos; e muitos animais conseguem detectar feromônios ou possuem órgãos que detectam diferenças em ondas infravermelhas (algumas serpentes).

Confesso que tenho inveja de alguns desses. Os nossos tradicionais cinco sentidos as vezes não dão conta… Por exemplo, eu provavelmente não sobreviveria numa cidade sem GPS no meu celular. Enquanto isso, há pássaros migratórios e tartarugas marinhas que viajam milhares de quilômetros para encontrar locais precisos na Terra, apenas usando uma bússola interna (chamada de biobússula), capaz de detectar o campo magnético gerado pelo planeta (escrevi no Saense sobre a biobússula aqui). De fato, muitos organismos possuem essa capacidade (até algumas bactérias).

E se eu te disser que essa bússola talvez exista em humanos? Após décadas de tentativas frustradas, cientistas sugerem que fizeram a primeira comprovação de que nós humanos também possuímos esse sentido [2], conseguindo pela primeira vez detectar atividade cerebral em resposta à campos magnéticos sutis, semelhantes aos emitidos pelo planeta. Interessante, não?

Os cientistas colocaram participantes em um cubículo com isolamento elétrico e com a capacidade de gerar campos magnéticos semelhantes aos da Terra. Esse cubículo foi construído para que se pudesse aplicar campos magnéticos em diferentes direções, para simular diferentes orientações dos participantes em relação ao campo sem que eles precisassem se movimentar, além de diferentes locais na Terra (a direção relativa do campo magnético muda caso você esteja no hemisfério Norte ou Sul). A atividade cerebral dos participantes foi monitorada utilizando eletroencefalograma durante a ativação dos campos magnéticos.

Os resultados foram surpreendentes. Houve mudança na atividade cerebral dos pacientes em resposta ao campo magnético, mas não a qualquer direção. A única resposta cerebral detectada foi em resposta ao campo magnético semelhante ao encontrado no hemisfério Norte, onde todos os participantes nasceram. Houve também bastante variação na intensidade das respostas cerebrais, o que indica que algumas pessoas respondem mais do que outras. Um outro detalhe: os participantes relataram não sentir qualquer efeito dos campos magnéticos após os testes.

Esse estudo sugere que a detecção de campos magnéticos é real em humanos e subconsciente. Pode ser (ou não) que ela auxilie o “senso” de navegação, juntamente com memórias espaciais e informações visuais. O fato de que apenas o campo característico do hemisfério Norte foi sentido sugere que há um componente que precisa ser “treinado” no corpo, por meio da permanência (nascer/crescer/morar) em um dos hemisférios.

Futuros estudos devem responder essas lacunas e uma mais importante: será que esse sentido realmente nos ajuda em algo?

[1] Crédito da imagem: Valentin Antonucci, Pexels License. https://www.pexels.com/photo/person-holding-compass-691637/.

[2] CX Wang et al. Transduction of the Geomagnetic Field as Evidenced from Alpha-band Activity in the Human Brain. eNeuro 10.1523/ENEURO.0483-18.2019 (2019).

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. Magnetismo: descoberto o sexto sentido humano? Saense. https://saense.com.br/2019/03/magnetismo-descoberto-o-sexto-sentido-humano/. Publicado em 27 de março (2019).

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