UFRGS
11/12/2019

Foto: Secom/UFRGS

A última campanha eleitoral foi marcada pela larga utilização do Facebook como meio de veiculação de propaganda, chegando a ultrapassar, na maioria dos casos, o tempo previsto para o programa dos candidatos na televisão. Foi pensando na importância do conteúdo divulgado que a arquivista Lisiane Braga escolheu abordar o arquivamento da web em sua dissertação de mestrado, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. A temática é centrada na preservação digital dos vídeos produzidos pelos candidatos à Presidência nas eleições de 2018. A pesquisa foi orientada pelo professor do Departamento de Ciências da Informação da UFRGS Moisés Rockembach e integrou os projetos do Núcleo de Pesquisa em Arquivamento da Web e Preservação Digital (Nuaweb).

Lisiane comenta que a escolha do tema foi influenciada pelo pós-doutorado de seu orientador e pelo fato de já estarem trabalhando com o assunto no grupo de pesquisa. “As eleições eram um evento público, todas as publicações ali acabam sendo de interesse público, e é um evento que impacta toda a sociedade tanto aqui, no país, como também no exterior. Então foi mais para fazer algo que fosse útil”, afirma. A escolha do Facebook como objeto de análise se deu porque todos os candidatos possuíam uma fanpage na plataforma, e tudo publicado ali era considerado livre para uso.

O arquivamento da web consiste em baixar todo o conteúdo disponível em uma página com o auxílio de um software ou salvar por meio de uma captura da tela. Esses processos costumam ser realizados, em outros países, por iniciativas independentes originadas dentro de universidades e bibliotecas com o intuito de preservar material para futuros estudos. Alguns exemplos são as plataformas Internet Archive dos Estados Unidos, Arquivo.pt de Portugal e Library and Archives of Canada. É de importância universal que os conteúdos postados somente na web e nas mídias sociais sejam preservados, pois são uma parte fundamental da história da sociedade atual, que pode ser modificada ou excluída como se nunca tivesse existido.

Segundo a pesquisadora, a opção dos candidatos de fazer uso massivo das mídias digitais mostra uma tendência de personalização dos políticos a partir da tentativa de buscar uma aproximação com o público. Dessa forma, buscam demonstrar que são pessoas “comuns” como os seus eleitores.

No Brasil, não existem políticas de preservação digital que possibilitem buscar e recuperar os conteúdos publicados apenas online. O ideal, para Lisiane, seria uma iniciativa independente, que recebesse um auxílio governamental, mas possuísse autonomia para realizar o trabalho. Para tanto, é preciso existir uma legislação que dê respaldo para, por exemplo, as universidades conseguirem financiamento para esses projetos”, esclarece. A realização do arquivamento da web depende de recursos para custear as máquinas, os softwares e os funcionários envolvidos no trabalho. Cabe ressaltar, no entanto, que os arquivos coletados são públicos e disponibilizados gratuitamente.

Desenvolvimento da pesquisa

Na primeira etapa do projeto, foi realizada a verificação da lista dos candidatos oficiais aprovados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Devido a um atraso na análise dos pedidos de candidatura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) até 17 de setembro e, por isso, consta na pesquisa. Posteriormente, foi analisado se todos os concorrentes ao pleito possuíam uma fanpage oficial no Facebook e qual era o registro de identificação (ID) da página de cada um. O passo seguinte consistiu na montagem dos scripts e no desenvolvimento de uma base de dados onde foram armazenados os materiais.

Os scripts são trechos de códigos de programação que transmitem instruções a serem executadas dentro de um aplicativo ou de um site, como nesse caso. A arquivista conta que uma parte dos códigos foi retirada de sites online, que disponibilizam esse conteúdo gratuitamente, e adaptada de acordo com as necessidades do projeto. Os scripts foram, então, utilizados para fazer a varredura das páginas, identificando as postagens compostas por vídeos gravados e ao vivo (lives), descartando as demais publicações. Depois era feito o download do conteúdo selecionado utilizando a página de arquivamento Archive.is.

Também foi criado um protótipo de software, editado para trabalhar de acordo com as políticas de privacidade do Facebook, que funcionou por um curto período de tempo coletando as interações e as informações das páginas públicas. O acompanhamento das fanpages era realizado pelo menos três vezes por dia para que não houvesse perda de algum material adicionado e logo depois excluído.

A metodologia escolhida foi definida como uma abordagem exploratório-descritiva num estudo quanti-qualitativo. “Exploratória porque isso nunca foi feito, tanto que eu tive que mudar muito no início, em parte por causa do Facebook [que fez modificações em suas políticas de privacidade devido a um vazamento de dados anunciado em 2018] e também porque eu tive que me readaptar porque não ia dar conta. E descritiva porque tudo que eu fui fazendo, eu fui descrevendo. O trabalho expõe passo a passo tudo o que foi feito, justamente para mostrar como é difícil de fazer. E, para quem quiser aplicar um trabalho similar, ele pode até servir como um guia”, explica Lisiane.

A pesquisa foi finalizada e aprovada no primeiro semestre deste ano, mas a autora conta que estão previstos três desdobramentos ainda para 2019. Haverá uma verificação dos vídeos para ver se continuam disponíveis ou não. Lisiane vai participar do XX Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (Enancib) apresentando um trabalho derivado da sua dissertação. Além disso, está produzindo um artigo sobre o tema para publicação em uma revista científica.

Todos os dados coletados encontram-se disponíveis gratuitamente em uma plataforma de pesquisa criada pela arquivista e também serão migrados para a base de dados do projeto Arquivamento das Eleições Brasileiras (Aweb).

Dissertação

Título: Arquivamento da web e mídias sociais: preservação digital de vídeos da campanha presidencial brasileira de 2018
Autora: 
Lisiane Braga Ferreira
Orientador: 
Moisés Rockembach
Unidade: 
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação. [1]

[1] Texto de Thauane Silva.

Como citar esta notícia científica: UFRGS. Pesquisa sobre arquivamento da web discute a necessidade de preservação de conteúdos digitais. Texto de Thauane Silva. Saense. https://saense.com.br/2019/12/pesquisa-sobre-arquivamento-da-web-discute-a-necessidade-de-preservacao-de-conteudos-digitais/. Publicado em 11 de dezembro (2019).

Notícias científicas da UFRGS Home