CCS/CAPES
27/04/2020

Pesquisador Vinicius Sortica estuda a evolução molecular do vírus SARS-COV-2 (Foto: arquivo pessoal)

Pesquisa recente do programa de pós-graduação em Genética e Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) sugere que o vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19, sofreu mudanças genéticas e se “especializou” em infectar pessoas. E mais: os diversos povos humanos têm chances semelhantes de sofrer contaminação.

No estudo, que aguarda publicação, pesquisadores compararam dados sobre 70 sequências de genes de mamíferos placentários – entre eles, morcegos e macacos – com relação à enzima ACE2. Presente na parte externa de células pulmonares, essa substância é o alvo do vírus para invasão. Os dados foram cotejados com variações encontradas em genes de humanos, incluindo nossos parentes antigos, Neandertal e Denisova.

Duas conclusões resultam do estudo comparado. Uma delas aponta que o novo coronavírus evoluiu, o que o torna mais apto no ataque a seres humanos e menos habilidoso contra outros mamíferos de placenta. A outra hipótese da pesquisa é a de que os diversos grupos étnicos humanos têm potencial equivalente para a contaminação.

“O SARS-CoV-2 é altamente ‘generalista’ em relação à sua capacidade de infectar seres humanos, quaisquer indivíduos de qualquer população; pelo menos considerando sua porta de entrada para a célula, a proteína ACE2. Por outro lado, não é um coronavírus do tipo ‘generalista’ com capacidade de infectar, natural e facilmente, uma variedade de outras espécies, incluindo animais de estimação”, explica a bióloga Maria Cátira Bortolini, coordenadora do estudo.

Uma possível afirmação decorrente dos dados é a de que diferenças na taxa de infecção e mortalidade do vírus entre os seres humanos esteja relacionada a outros fatores: práticas culturais, densidade demográfica, capacidade dos sistemas de saúde, medidas de supressão ou mitigação. Também integram a lista de elementos as comorbidades (doenças prévias) e a capacidade de defesa de cada pessoa, além das diferenças nas cepas (variações) de SARS-CoV-2.

Dos animais até o ser humano
Investigar a então epidemia foi uma decisão coletiva. “No início das pesquisas sobre o surto do SARS-CoV-2, muito foi debatido sobre os possíveis hospedeiros intermediários do novo coronavírus antes de ele ter iniciado a infecção em humanos. Durante uma reunião do nosso laboratório, conversamos sobre as notícias recentes do surto, que na época ainda estava restrito à Ásia”, conta Vinicius Sortica, bolsista de pós-doutorado da CAPES e integrante da pesquisa, que trabalhou em um projeto que estudou variantes genéticas do hospedeiro humano relacionadas com a pandemia de gripe aviária de 2009, o H1N1.

Por outro lado, Bortolini, que atuou na epidemia de Zika no Brasil e integrou uma pesquisa que investigou os padrões evolutivos de genes relacionados à infecção e sua resposta em outros primatas, valoriza o conhecimento prévio: “Temos muita experiência em análise de evolução molecular e de organismos em geral, de modo que a usamos para entender como o SARS-CoV-2 tem tamanha capacidade de infectar humanos”.

A cientista pretende seguir no estudo sobre o novo coronavírus. “Diariamente o volume de informações desta pandemia tem aumentado, e assim conseguimos compreender melhor as mutações do vírus à medida que a pandemia se expande. Ou seja, logo teremos mais dados sobre as diferentes linhagens do SARS-CoV-2, bem como o perfil genético dos pacientes – tanto aqueles com sintomas, quanto os assintomáticos”, completa Maria Cátira.

Como citar esta notícia: CCS/CAPES. Pesquisa sugere: coronavírus evoluiu para infectar pessoas. Saense. https://saense.com.br/2020/04/pesquisa-sugere-coronavirus-evoluiu-para-infectar-pessoas/. Publicado em 27 de abril (2020).

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