Embrapa
18/03/2021

Equipe da Força-Tarefa no laboratório da Embrapa onde foram realizadas mais de sete mil análises (Foto: Arquivo Embrapa)

*Lenita Ramires dos Santos
**Alexsandra Favacho

O ano de 2019 estava terminando quando os primeiros casos de infecção pelo novo vírus denominado SARS-Cov-2 foram noticiados. Naquele momento, estava limitado à província de Wuhan – China, mas em poucos meses tornou-se uma pandemia. No Brasil, a repatriação de brasileiros que viviam em Wuhan foi uma das primeiras medidas tomadas em função da pandemia. Tendo passado alguns dias, foram registrados os primeiros casos e medidas tiveram que ser adotadas.

Com a rápida disseminação no país, o diagnóstico para covid-19 foi iniciado pelos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACEN) que em pouco tempo precisou se adequar à nova situação. Neste contexto, a Embrapa Gado de Corte e a Fiocruz-MS, juntamente com a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), iniciaram ações de apoio ao LACEN-MS no combate ao coronavírus na realização de exames e entrega de resultados. As padronizações foram realizadas para os testes de RT-PCR em tempo real para arboviroses. Dessa forma, o LACEN-MS pôde se dedicar aos testes de covid-19. No entanto, com o aumento no número de casos, passamos a   realizar também testes moleculares para Covid-19.

A Embrapa Gado de Corte passou a utilizar sua infraestrutura de laboratórios no diagnóstico de arboviroses e de covid-19, nos meses de abril e maio de 2020, respectivamente. E assim, o Laboratório Multiusuário de Biossegurança para a Pecuária (Biopec) foi inserido no processo. 

O laboratório é coordenado por profissional treinado e assessorado por um Comitê Interno e acompanhamento de funcionamento técnico diário e ininterrupto realizado por empresa terceirizada. Sua infraestrutura contempla os principais requisitos de proteção e de segurança, tais como: sistema de ar condicionado com fluxo de ar unidirecional com sistema de tratamento para a descontaminação ou remoção do ar liberado por meio de filtros, ausência de janelas externas nas áreas onde o grau de risco biológico é classificado com nível 2 ou 3 (NB2, NB3), apenas visores internos de vidro duplo hermeticamente selados; zonas de acesso controlado; saída de materiais somente após descontaminação por autoclavagem ou por tratamento químico; manipulação de materiais contaminados ou agentes infecciosos realizada apenas dentro de cabines de segurança biológica própria para os níveis de segurança exigidos; sistema de termodesinfecção de efluentes; superfície de paredes internas, pisos e tetos impermeáveis e resistentes a substâncias químicas, com toda a superfície selada e sem reentrâncias; bancadas de aço inox; O Biopec conta ainda com um conjunto de sistemas de segurança, como: controle de acesso biométrico e intertravamento de portas; circuito fechado de televisão para monitoramento em tempo real; redundância de geradores de energia e exaustores para troca de ar; detecção e alarme de incêndio; e supervisão e controle predial. 

Todas as questões de biossegurança já praticadas nos laboratórios da Embrapa foram revisadas e enfatizadas para as situações que seriam encontradas em ambiente de pesquisa NB2 e NB3 – do Biopec, considerando também as particularidades envolvidas para a manipulação de amostras biológicas de casos suspeitos com o vírus SARS-CoV-2. Assim, a elaboração de Protocolos Operacionais Padrão (POPs) para as persas etapas do processo e um conjunto de normas para minimização dos riscos biológicos foram repassados a cada um dos profissionais envolvidos. Ocorreram treinamentos para reduzir os riscos no local de trabalho, iniciando com teste de vedação dos protetores respiratórios a cada integrante da equipe. O uso adequado de equipamentos de proteção inpidual (EPI) como luvas, gorro, óculos ou protetor facial, para que os profissionais de saúde pudessem se proteger e impedir a transmissão do vírus no ambiente de trabalho, sabendo selecionar o EPI durante a realização de procedimentos geradores de aerossóis; sendo capacitado para o uso correto do mesmo e sua retirada, observando o descarte de acordo com as normas de segurança estabelecidas. Vestimentas adequadas como jaleco, macacão, luvas, sapatos e sapatilhas descartáveis foram fornecidas para uso exclusivo em laboratório, com desinfecção no próprio local de trabalho. 

Com a emergência da pandemia os laboratórios tiveram que se adaptar na mesma rapidez que o vírus se espalhava para atender com segurança à crescente demanda dos testes diagnósticos. Sabendo que o SARS-CoV-2 está classificado como microrganismos de classe de risco 3 (alto risco inpidual) e que os procedimentos a serem desenvolvidos exigiam um maior ou menor grau de contenção, decidimos em realizar as atividades de testes de diagnóstico molecular (amplificação de ácidos nucleicos) e manipulação de amostras biológicas suspeitas ou confirmadas de infecção por SARS-CoV-2 em laboratório de NB3 com uma estrutura de laboratório de apoio equivalente ao NB2. Todos os procedimentos com amostras clinicamente suspeitas ou confirmadas com SARS-CoV-2 foram realizados em cabines de segurança biológica (CSB) Classe II tipo A2. Pisos foram limpos diariamente com hipoclorito 1%, iniciando da área considerada mais limpa para mais suja, e álcool 70% era utilizado para limpeza dos equipamentos e outras superfícies. O descarte seguro de sobras de amostras (a partir de coleta de secreção da região nasal e faríngea realizada com um tipo de cotonete longo e estéril), bem como os materiais descartáveis utilizados nos procedimentos, foi tratado ainda dentro da unidade geradora, acondicionados em sacos brancos leitosos e autoclavados antes do destino final, seguindo as normas disponíveis. 

A Embrapa e a Fiocruz são conhecidas pela excelência na condução de pesquisa científica básica e aplicada. O diagnóstico de rotina não é atividade fim, mas pode facilmente ser incorporada, com apoio técnico/administrativo e científico de modo a atender neste momento de pandemia. Nesse contexto, integrantes da força tarefa da Fiocruz foram treinados no gerenciador de ambiente laboratorial (GAL), o que  agilizou a pulgação dos resultados e possibilitou a integração com outros sistemas nacionais de saúde.

As interações ocorridas reforçam as ações adotadas com vistas a minimizar os impactos causados pela pandemia da Covid-19. Desde o início dos trabalhos, foram realizadas 2.800 análises de arbovírus (dengue, zika e chikungunya) e 7.144 análises de coronavírus. A força-tarefa contou com a participação de mais de 15 profissionais das EMBRAPA, FIOCRUZ/MS e UEMS, que contribuíram direta ou indiretamente para o sucesso dessa parceria. Nesse aspecto, a ação da força tarefa foi realizada em benefício da sociedade brasileira, reafirmando os valores da Embrapa, Fiocruz e UEMS, competências e compromisso no fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). [1]

[1] Texto de Lenita Ramires dos Santos (Pesquisadora da Embrapa e Presidente da CIBio da Embrapa Gado de Corte) e Alexsandra Favacho (Pesquisadora da Fiocruz Mato Grosso do Sul e Coordenadora da Qualidade e Biossegurança).

Como citar este artigo: Embrapa. Os desafios da biossegurança no diagnóstico de covid-19 e o envolvimento de laboratórios de pesquisa.  Texto de Lenita Ramires dos Santos e Alexsandra Favacho. Saense. https://saense.com.br/2021/03/os-desafios-da-biosseguranca-no-diagnostico-de-covid-19-e-o-envolvimento-de-laboratorios-de-pesquisa/. Publicado em 18 de março (2021).

Notícias da Embrapa     Home