Fiocruz
22/11/2021
Cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, investigaram as ligações entre a pandemia Covid-19 e a deterioração dos ecossistemas mundiais e de sua biodiversidade, descobrindo ciclos de feedback que sugerem um aumento potencial em futuras pandemias. Odette Lawler, mestre em Biologia da Conservação da universidade, em colaboração com uma equipe do Grupo de Pesquisa em Biodiversidade do professor Salit Kark, coordenador do estudo, observou que as ligações entre a perda de biodiversidade, degradação do habitat e transferência de doenças zoonóticas há muito já haviam sido compreendidas, mas foi necessária uma pandemia internacional para trazer o problema à atenção do público. “A Covid-19 mostrou ao mundo que a saúde humana e a saúde ambiental estão intimamente ligadas”, destaca.
“Sabemos que questões como mudança no uso da terra, produção intensiva de gado, comércio de animais selvagens e mudanças climáticas impulsionam o surgimento de doenças zoonóticas, pois aumentam as interações entre humanos e animais selvagens”, observa. “Agora também descobrimos que esses problemas estão sendo agravados pelos resultados da pandemia, resultando em ciclos de feedback que, provavelmente, promoverão futuros surtos de doenças zoonóticas”.
Conforme relata a pesquisadora, a pesquisa descobriu, por exemplo, que as taxas de desmatamento aumentaram substancialmente em muitas regiões do mundo durante o curso da pandemia. “Isso, provavelmente, se deve a alguma combinação de fatores, incluindo diminuição da fiscalização das proteções florestais, relaxamento dos acordos de sustentabilidade e desregulamentação ambiental, aumento das pressões sobre as comunidades de baixa renda e ameaças aos gestores de terras indígenas”.
Para ela, isso significa que a pandemia de Covid-19 – deflagrada por um patógeno que se espalha de animais para populações humanas – tem relação com o aumento do desmatamento, que por sua vez aumenta o risco de surgimento de doenças zoonóticas no futuro, aumentando também as interações entre humanos e animais selvagens.
Os pesquisadores enfatizam que as respostas à Covid-19 devem incluir ações destinadas a salvaguardar a biodiversidade e os ecossistemas. Para o professor Salit Kark, essas respostas se beneficiariam da abordagem do que se chama hoje de saúde única [One health]. “É uma abordagem colaborativa transdisciplinar que visa otimizar os resultados de saúde para comunidades decorrentes de fatores que operam, por exemplo, nas interseções entre pessoas, animais e seu ambiente compartilhado”, explica. “É uma abordagem que pode ajudar a lidar de forma holística com os surtos antes que ocorram, em estreita colaboração com a comunidade, envolvendo as pessoas no ecossistema preventivo e na saúde humana”.
Kark pontua que, na Austrália, a ênfase deve se dar na colaboração de longo prazo com outras nações e parceiros, para lidar com os impulsionadores do surgimento de doenças zoonóticas. “É investir na proteção da biodiversidade e da saúde do ecossistema e lidar com as causas das doenças zoonóticas. Se não o fizermos, estaremos realmente aumentando a probabilidade do surgimento de novas pandemias, que agora, todos sabemos, podem ser capazes de alterar o mundo”. [2]
[1] Imagem de Alexandra_Koch por Pixabay.
[2] Fonte: CEE-FIOCRUZ. Do Ecodebate: Publicado em 18/11/2021. Tradução e edição de Henrique Cortez da pesquisa The Covid-19 pandemic is intricately linked to biodiversity loss and ecosystem health, publicada em The Lancet Planetary Health.
Como citar esta notícia: Fiocruz. COVID-19 mostrou que saúde humana e saúde ambiental estão intimamente ligadas. Saense. https://saense.com.br/2021/11/covid-19-mostrou-que-saude-humana-e-saude-ambiental-estao-intimamente-ligadas/. Publicado em 22 de novembro (2021).