UFRGS
09/05/2023

Drones podem auxiliar na estimativa populacional e no monitoramento de animais ameaçados de extinção
Foto: Arquivo Pessoal

Estimar a abundância das populações de animais é um dos aspectos essenciais para a avaliação de riscos de extinção e detecção de declínios populacionais de espécies ameaçadas. Em sua tese de doutorado defendida no Programa de Pós-graduação em Ecologia, do Instituto de Biociências da UFRGS, o pesquisador Ismael Verrastro Brack estudou o uso de drones para estimar populações e monitorar animais, focando espécies ameaçadas de extinção. Além disso, a pesquisa avaliou os fatores que afetam a distribuição espacial do cervo-do-pantanal, o maior cervídeo da América do Sul.

A utilização dos drones na ecologia é uma nova possibilidade de amostragem e análise de dados de populações, surgindo como uma alternativa acessível e segura em comparação com investigações feitas com aviões tripulados, por exemplo. Realizada sob a orientação do professor Luiz Flamarion Barbosa de Oliveira, a tese de Ismael vem sendo publicada em artigos que demonstram como planejar uma amostragem com drones para estimar a abundância de animais silvestres e as aplicações dessas técnicas para avaliar fatores que afetam a distribuição espacial de cervos-do-pantanal

Observando de cima 

O uso de drones vem se tornando uma boa opção para o futuro dos estudos de monitoramento de vida silvestre, por permitirem amostragens com alta resolução espacial e alta frequência de voos. Além disso, a ferramenta possibilita que haja registros permanentes, no qual os pesquisadores podem revisar as imagens coletadas. “Os drones surgiram no início como uma ferramenta que poderia substituir os aviões para contagem, já que há muitas décadas eles eram usados para contagem de várias espécies animais, principalmente grandes mamíferos”, explica o pesquisador. 

No início do mestrado, em 2014, Ismael tinha a perspectiva de trabalhar com drones para amostragem e contagem de animais, porém a ferramenta ainda era nova no mercado e, por isso, tinha muitas limitações. “[No departamento de Ecologia] A gente teve muito problema com os drones, compramos um que era bem ruim, estragava muito fácil, a gente não conseguia fazer os voos longos com ele, o que dificultava o processo”, conta. Posteriormente, quando Ismael cursava o doutorado, o departamento adquiriu um drone de outra empresa, e assim o equipamento foi sendo mais utilizado, até que surgiu a possibilidade de o cientista trabalhar com a amostragem de cervídeos ameaçados de extinção em áreas abertas da América do Sul. 

Uma espécie em extinção 

Em 2017, o cervo-do-pantanal foi a espécie escolhida para estimar a abundância das populações dos bichos que habitavam o norte do Pantanal. O animal é o maior cervídeo da América do Sul, chegando a pesar até 150kg, e é uma espécie que costuma viver em áreas úmidas, que habita regiões de banhados, pântanos e planícies de inundação. O cervo-do-pantanal também pode ser encontrado em menores densidades em ambientes de campos e savanas, onde se alimenta de brotos, folhas novas e flores. 

Atualmente a espécie está classificada como ameaçada de extinção, devido às modificações do seu habitat – principalmente as alterações relacionadas a agricultura, barragens hidrelétricas, caça ilegal e doenças causadas pelo gado doméstico. Mesmo as maiores populações do cervo, localizadas no Pantanal, vêm sofrendo ameaças, também devido ao aumento da frequência de eventos climáticos extremos, como secas severas e grandes incêndios, como consequência das mudanças climáticas globais. 

“Estimar o tamanho populacional e entender como funciona a relação das populações de animais com o espaço é muito importante para prevermos possíveis declínios populacionais”

Ismael Verrastro Brack

Com o uso dos drones, o pesquisador analisou as imagens coletadas e demonstrou que a abundância local do cervo-do-pantanal apresentou forte relação com o que se espera serem as áreas de alta qualidade para a espécie: altos níveis de verdura da vegetação, ou seja, oferta de forragem para a espécie, e com os corpos d’água permanentes, mas não com a ocorrência do seu principal predador, a onça-pintada. Também foram identificadas áreas-chave para a população nos ambientes úmidos remanescentes e, na região mais seca, próxima a corpos d’água artificiais. 

Planejamento em primeiro lugar 

A partir do estudo com os cervos, foi constatado que as questões metodológicas sobre o planejamento de uma amostragem com drones para estimar abundância de animais são de grande importância para o resultado das pesquisas. “Como a gente pode usar essa ferramenta para contar os animais e, a partir dessas contagens, conseguir estimar o tamanho populacional? Como esse número de indivíduos varia no espaço e no tempo?”, questiona Ismael. “Por isso explorei bastante algumas ferramentas analíticas para tratarmos essas contagens de forma que se consiga estimar os erros que podem ocorrer nesse processo”, completa. 

No estudo, o pesquisador destacou que contagens feitas a partir de amostragens com drones podem sofrer alterações por quatro tipos principais de erro de detecção. O primeiro é o erro de disponibilidade, ou seja, quando há animais presentes na área de amostragem, mas indisponíveis para serem detectados por estarem escondidos. O segundo é o erro de percepção, já que as imagens coletadas são analisadas manualmente, ou com a ajuda de um algoritmo para detectar os animais, porém ambos podem falhar em detectar um indivíduo disponível nas imagens. Também pode ocorrer uma contagem dupla, devido à movimentação dos animais entre linhas de voo ou à sobreposição de imagens. Além disso, o erro de identificação também é comum no momento de análise, pois o observador pode confundir vegetação ou um animal de outra espécie com um indivíduo da espécie de interesse. Segundo Ismael, a otimização do desenho amostral, isto é, o planejamento de busca levando em contas essas variáveis é relevante e acabou vindo, depois do estudo com o cervo-do-pantanal, como uma necessidade de melhorar a precisão da estimativa.

Ismael explica que as ferramentas e técnicas exploradas já estão servindo de base para outros estudos no departamento, expandindo a pesquisa para outras populações e espécies. “Agora que a gente conseguiu criar mais ou menos um protocolo e uma ideia de como fazer essa amostragem, o monitoramento dessas espécies, a gente tem expandido para outras populações de cervídeos ameaçados na América do Sul”, completa. 

Além disso, um dos próximos passos relacionados ao estudo é o monitoramento dos cervos-do-pantanal, que vem sendo realizado na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, em Mato Grosso, após os grandes incêndios de 2020 no Pantanal, em que mais de 90% da área da reserva foi queimada. “Temos feito levantamentos anuais da população para comparar com as estimativas que temos anteriores ao fogo e avaliar o impacto desses incêndios catastróficos para essa espécie ameaçada de extinção”, afirma Ismael. [1], [2]

[1] Texto de Geovana Benites.

[2] Publicação original: https://www.ufrgs.br/ciencia/drones-podem-auxiliar-na-estimativa-populacional-e-no-monitoramento-de-animais-ameacados-de-extincao/.

Como citar esta notícia: UFRGS. Drones podem auxiliar na estimativa populacional e no monitoramento de animais ameaçados de extinção. Texto de Geovana Benites. Saense. https://saense.com.br/2023/05/drones-podem-auxiliar-na-estimativa-populacional-e-no-monitoramento-de-animais-ameacados-de-extincao/. Publicado em 09 de maio (2023).

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