ESO
01/10/2024

Telescópio do ESO captura o mapa infravermelho mais detalhado da Via Láctea
Destaques do mapa infravermelho mais detalhado da Via Láctea. Crédito: ESO/VVVX survey

Os astrónomos publicaram um gigantesco mapa infravermelho da Via Láctea com mais de 1,5 mil milhões de objectos — trata-se do mapa mais detalhado criado até à data. Utilizando o telescópio VISTA do Observatório Europeu do Sul, a equipa monitorizou as regiões centrais da nossa Galáxia durante mais de 13 anos. Com 500 terabytes de dados, este é o maior projeto de observação alguma vez realizado com um telescópio do ESO.

Fizemos tantas descobertas que mudámos para sempre a visão que tínhamos da nossa Galáxia”, disse Dante Minniti, um astrónomo da Universidade Andrés Bello, no Chile, que liderou todo o projeto.

Este mapa recorde inclui 200 000 imagens obtidas pelo telescópio VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy) do ESO. Localizado no Observatório do Paranal do ESO, no Chile, o foco principal deste telescópio é cartografar grandes áreas do céu. A equipa utilizou a câmara de infravermelhos do VISTA, a VIRCAM, que consegue observar para além da poeira e do gás que permeiam a nossa Galáxia. Por conseguinte, é capaz de capturar a radiação emitida nas regiões mais ocultas da Via Láctea, abrindo assim uma janela única para a nossa vizinhança galáctica.

Este gigantesco conjunto de dados [1] cobre uma área do céu equivalente a 8600 Luas Cheias e contém cerca de 10 vezes mais objetos do que o mapa publicado em 2012 pela mesma equipa. Os dados incluem estrelas recém nascidas, que se encontram frequentemente envolvidas por casulos de poeira, e enxames globulares — grupos densos de milhões das estrelas mais antigas da Via Láctea. Observar no infravermelho permite também ao VISTA detectar objetos muito frios, que brilham nestes comprimentos de onda, tais como anãs castanhas (estrelas “falhadas” que não têm fusão nuclear sustentada) ou planetas flutuantes que não orbitam nenhuma estrela.

As observações começaram em 2010 e terminaram na primeira metade de 2023, abrangendo um total de 420 noites. Ao observar cada área do céu muitas vezes, a equipa conseguiu não só determinar a localização destes objetos, mas também seguir o seu movimento e determinar se existem variações de brilho. A equipa registou ainda estrelas cuja luminosidade muda periodicamente e que podem ser usadas como réguas cósmicas para medir distâncias [2], dando-nos assim uma visão tridimensional exata das regiões mais interiores da Via Láctea, as quais se encontravam anteriormente escondidas pela poeira. Os investigadores seguiram também estrelas com hipervelocidade — estrelas em movimento rápido catapultadas da região central da Via Láctea após um encontro próximo com o buraco negro supermassivo que aí se enconde.

O novo mapa contém dados recolhidos no âmbito do rastreio VVV (VISTA Variables in the Vía Láctea) e do seu projeto complementar, o rastreio VVVX (VVV eXtended). “Este projeto constituiu um esforço monumental, apenas possível graças a uma grande equipa”, disse Roberto Saito, astrónomo da Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil, e autor principal do artigo publicado hoje sobre a conclusão do projeto na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.

Os rastreios VVV e VVVX já deram origem a mais de 300 artigos científicos. Com os rastreios agora concluídos, a exploração científica dos dados recolhidos continuará ainda durante as próximas décadas. Entretanto, o Observatório do Paranal do ESO está a ser preparado para o futuro: o VISTA será atualizado com o novo instrumento 4MOST e o Very Large Telescope (VLT) do ESO receberá o instrumento MOONS. Juntos, estes instrumentos fornecerão espectros de milhões dos objetos aqui estudados, sendo de esperar inúmeras descobertas. [3], [4], [5]

[1] O conjunto de dados é demasiado grande para ser divulgado como uma única imagem, mas os dados processados e o catálogo de objetos estão disponíveis através do Portal Científico do ESO.

[2] Uma forma de medir a distância a uma estrela é comparar o seu brilho visto a partir da Terra com o seu brilho intrínseco; no entanto, este último é muitas vezes desconhecido. Certos tipos de estrelas apresentam variações de brilho periódicas, e existe uma ligação muito forte entre a rapidez com que o fazem e a sua luminosidade intrínseca. A medição destas variações permite aos astrónomos determinar a luminosidade destas estrelas e, por conseguinte, a distância a que se encontram.

[3] Este trabalho de investigação foi apresentado num artigo científico intitulado “The VISTA Variables in the Vía Láctea eXtended (VVVX) ESO public survey: Completion of the observations and legacy”, publicado na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics (https://doi.org/10.1051/0004-6361/202450584).

[4] Este texto foi traduzido por Margarida Serote

[5] Publicação original: https://www.eso.org/public/portugal/news/eso2413/

Como citar este texto: ESO. Telescópio do ESO captura o mapa infravermelho mais detalhado da Via Láctea. Tradução de Margarida Serote. Saense. https://saense.com.br/2024/10/telescopio-do-eso-captura-o-mapa-infravermelho-mais-detalhado-da-via-lactea/. Publicado em 01 de outubro (2024).

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