UFRGS
07/03/2025

Trama Verde-Azul como resposta às mudanças climáticas
Ilustração: Ana Carnelossi/ Programa de Extensão Histórias e Práticas Artísticas, DAV-IA/UFRGS

A busca de soluções para a crise ambiental se constitui o grande desafio da nossa época. O entendimento das medidas de resiliência a serem adotadas deve compreender o modo como o ser humano percebe o ambiente natural e a maneira como com ele se relaciona. O ser humano abandonou o nomadismo no holoceno e adquiriu a capacidade de domesticar várias espécies de plantas e animais, instituindo leis à natureza. A partir desse período, a humanidade passa a constituir territórios e estabelecer relações entre os povos através da cultura, compreendendo o ambiente de forma prolongada no decurso do tempo pelo sentimento de pertencimento aos lugares. 

Os efeitos da ação antrópica sobre o meio ambiente se iniciaram há mais de 10 mil anos (antropoceno). A possibilidade de controle sobre a natureza levou à sedentarização do ser humano e marcou o início da emissão de carbono na atmosfera de forma desequilibrada. As sociedades humanas são fenômenos espaciais que se movimentam em busca de recursos materiais, constituindo sistemas de trocas e comunicação que promovem a transferência de recursos no âmbito local e que refletem no global por meio das vias de circulação.

As navegações dos séculos XV e XVI causaram grande impacto ambiental devido ao fluxo de plantas, animais, pessoas e doenças que provocou o desequilíbrio em ambientes antes equilibrados do ponto de vista ecológico. A partir da revolução industrial (segunda metade do século XVIII), entretanto, se acentua a emissão de gases na atmosfera decorrente da industrialização e sobretudo devido aos novos hábitos de consumo. Na segunda metade do século XX, a crise ambiental ganha relevância no debate político internacional, mobilizando governos e a sociedade na Conferência de Estocolmo (1972), que foi o primeiro grande encontro mundial para tratar das questões ambientais. Na Conferência do Rio de Janeiro em 1992 (Rio 92), foram estabelecidas as bases para promover na escala global um novo padrão de desenvolvimento, denominado “desenvolvimento sustentável”, que também integrou as pautas dos encontros subsequentes.

O cenário contemporâneo de alterações climáticas indica que as cidades devem estar preparadas para enfrentar a crise ambiental, compatibilizando pautas econômicas e ambientais com instrumentos normativos construídos de forma democrática com políticas públicas que proporcionem soluções espaciais e sociais.

Novas matrizes energéticas, a conservação das florestas tropicais, políticas públicas para a conservação da cultura dos povos originários, a manutenção das conquistas trabalhistas e as demais políticas sociais são os grandes desafios da atualidade.

A abordagem “Verde-Azul” é um conceito de interação no espaço que procura realizar intervenções com o mínimo de impacto no ambiente natural pela compreensão da dinâmica da fauna e da flora através dos corredores ecológicos. Existem experiências realizadas em várias partes do mundo que recebem o rótulo “Verde-Azul”, como o Centenary Riverside, que é um parque inundável (4,5 hectares) nas margens do rio Don, em Rotherham (Inglaterra), cuja função é proteger a cidade de inundações e que foi criado após as enchentes que ocorreram em 2007.

cidade de Emden (Alemanha) começou a substituir a matriz energética da cidade em 1980 e atualmente 117% da geração de energia é feita através de fontes renováveis, como parques eólicos e painéis fotovoltaicos. Os cidadãos também recebem incentivos para isolar termicamente os edifícios, utilizar aparelhos com eficiência energética, adquirir bombas de calor e coletores solares. Na França, a política pública denominada “Trama Verde-Azul” é uma estratégia nacional para conectar áreas naturais numa rede designada “reservatórios de biodiversidade” para a proteção de espécies ameaçadas de extinção pela integração de estratégias das cidades, das regionais e nacionais.

Porto Alegre está inserida num mosaico de paisagens que contempla os biomas Pampa e Mata Atlântica. O patrimônio natural da cidade possui os atributos necessários para a implantação de uma Trama Verde-Azul por meio de ações para diminuir o estresse térmico, realizar a drenagem urbana mais integrada com a natureza, gerir resíduos de modo eficiente, incentivar práticas de agricultura urbana sem defensivos agrícolas, gerar energia através da matriz eólica, biomassa ou solar, ampliar a infraestrutura de circulação por modais ativos, entre outras.

Conjuntamente com a infraestrutura de baixo impacto integrada com a natureza, também é fundamental a implementação de instrumentos urbanísticos que possibilitem conectar os ambientes naturais a fim de preservar os habitats das espécies nos moldes conceituais da experiência francesa.

Yi-Fu Tuan, na sua obra “Escapismo” (1998), ensina que por meio da cultura a humanidade estabelece ambientes artificiais onde as pessoas buscam harmonizar suas necessidades psicológicas; entretanto, muitas vezes também se comportam com indiferença com relação aos impactos que suas atividades causam ao ambiente natural. Tão importante quanto a utilização de tecnologias inovadoras ou políticas públicas de vanguarda é a conscientização de que os seres humanos são integrantes da natureza e devem sobretudo aprender com os povos originários a como se relacionar harmonicamente com ela, a fim de enfrentarmos de maneira eficaz o cenário adverso de mudanças climáticas. [1], [2]

[1] Texto de Paulo Lima Loge e André Luiz Lopes da Silveira

[2] Publicação original: https://www.ufrgs.br/jornal/trama-verde-azul-como-resposta-as-mudancas-climaticas/

Como citar esta notícia: UFRGS. Trama Verde-Azul como resposta às mudanças climáticas. Texto de Paulo Lima Loge e André Luiz Lopes da Silveira. Saense. https://saense.com.br/2025/03/trama-verde-azul-como-resposta-as-mudancas-climaticas/. Publicado em 03 de março (2025).

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