Claudio Macedo
23/11/2017
Pesquisa realizada na Alemanha examinou a sensibilidade do clima da Terra à concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e às variações orbitais do nosso planeta em torno do Sol [2]. O trabalho utilizou uma combinação de simulações de modelos climáticos e as mais recentes estimativas de níveis de CO2 na atmosfera há cerca de 300 milhões de anos atrás (entre a parte final do período Carbonífero e a parte inicial do período Permiano).
Na época estudada, ocorreu o surgimento da maior parte dos depósitos de carvão mineral da Terra; carvão esse, formado a partir de detritos de plantas oriundas de vastas florestas que morreram nos períodos Carbonífero e Permiano. A alta taxa de enterramento do carbono orgânico se correlaciona com uma redução significativa do CO2 atmosférico naquele momento.
As estimativas baseadas no exame dos solos antigos, mostram que a concentração de CO2 atmosférico na época, chegou a níveis da ordem de 100 ppm (partes de CO2 por milhão de partes de todos os gases na atmosfera) e as simulações dos modelos climáticos indicam que a temperatura média da Terra no período foram inferiores a 1,4 oC, ou seja, quase ocorreu uma glaciação global. Por comparação, hoje, os níveis de CO2 na atmosfera são de 400 ppm e a temperatura média global atual é da ordem 14 oC.
Como indicamos no artigo “Adotaremos a energia sustentável a tempo?” a concentração de gás carbônico (CO2) na atmosfera subiu de 278 ppm no século 18 (início da Revolução Industrial) para 400 ppm hoje. A maior parte deste aumento foi devido às emissões originadas na queima de combustíveis fósseis, particularmente o carvão mineral. No mesmo período, a temperatura média da Terra subiu mais de 1 oC (ver figura acima). O que tem ocorrido, é o chamado efeito estufa. O sol aquece a superfície da Terra, a maior parte do calor irradiado pela superfície escapa para o espaço; o CO2 e outros gases de efeito estufa impedem que parte desse calor escape, e, portanto, aquece o planeta. Quanto maior a concentração de CO2 e desses outros gases, maior o aquecimento do planeta.
Diversos estudos têm estimado que o nosso limite de estabilidade climática é a concentração de CO2 atmosférico ficar abaixo de 450 ppm. É preciso urgentemente diminuir a queima de combustíveis fósseis em geral. No caso dos países que dependem da queima de carvão mineral para produção de energia, fica o alerta do potencial explosivo que é a liberação de CO2 por esse mineral; ao ser formado, há 300 milhões de anos atrás, o carvão mineral guardou tanto carbono retirado da atmosfera que quase levou a Terra a um período glacial. Sucessivos estudos têm mostrado que o uso pleno das reservas ainda existentes de carvão mineral e outros combustíveis fósseis pode nos levar a uma catástrofe climática (ver os artigos: Como reduzir o consumo de combustíveis fósseis e impedir o desastre ambiental? e Derretimento do gelo antártico).
[1] Crédito da imagem: NASA (Goddard Institute for Space Studies) / Domínio público. URL: http://data.giss.nasa.gov/gistemp/graphs/.
[2] G Feulner. Formation of most of our coal brought Earth close to global glaciation. PNAS 10.1073/pnas.1712062114 (2017).
Como citar este artigo: Claudio Macedo. O enorme poder do carvão mineral sobre o clima da Terra. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/11/o-enorme-poder-do-carvao-mineral-sobre-o-clima-da-terra/. Publicado em 23 de novembro (2017).