Ana Maia
19/02/2018
Tumores sólidos de rápido crescimento comumente possuem regiões de baixa oxigenação (hipóxia tumoral [2]) que apresentam alta resistência aos tratamentos convencionais, de quimio e radioterapia. Romper esta resistência tem sido um grande desafio para a oncologia, mas que parece estar perto de ser vencido.
Microbolhas sensíveis ao ultrassom foram desenvolvidas em primeiro momento para uso como agentes de contraste em técnicas de imagem [3], mas vários grupos de pesquisa têm enxergado nelas muitas outras potencialidades, como, por exemplo, para entrega segura de medicação [4]. Em um estudo recente, liderado por John Eisenbrey, da Thomas Jefferson University (EUA), a grande sacada foi considerar que as microbolhas poderiam ser úteis também para aumentar a oxigenação de tumores e, assim, a eficiência do tratamento radioterápico [5].
As microbolhas, sensíveis ao ultrassom, foram administradas intravenosamente e a entrega do seu conteúdo, neste caso O2, foi desencadeada localmente por meio de uso de ultrassom focalizado na região tumoral. Os níveis de oxigenação nos tumores dos modelos animais foram monitorados e foi possível aumentar em até 20 mmHg a pressão parcial de 02 (p02). Em tecidos sadios, os níveis de p02 variam entre 40 e 60 mmHg e em tumores de mama estima-se um valor médio de p02 de 10 mmHg. Portanto, foi possível aumentar de forma muito significativa a oxigenação do tumor.
Além disso, os pesquisadores analisaram a ação da radioterapia, após aumento da oxigenação, por meio de comparação de controle tumoral e sobrevida de 51 ratos divididos aleatoriamente em 5 grupos. O grupo experimental fez uso de microbolhas preenchidas com oxigênio, de ultrassom e recebeu tratamento de radioterapia. Os demais grupos tiveram variação de procedimento: ora sem o gatilho do ultrassom, ora sem a radioterapia, ora com as bolhas preenchidas por nitrogênio, ora sem o uso de microbolhas. Os resultados foram muito animadores e concordam com as previsões teóricas e de resultados in vitro que estimam um aumento de 3X na radiossensibilidade do tumor para o ganho de oxigenação obtido neste estudo.
É difícil saber quanto das terapias convencionais contra o câncer sobreviverá às novas descobertas que surgem velozmente na área da imunoterapia [6]. Mas, enquanto a cura não vem de uma forma melhor, o tratamento com radiação deve continuar forte e crescente, e técnicas que aumentem o seu poder de ação são sempre ótima notícia.
[1] Crédito da imagem: Spiff [Public domain], via Wikimedia Commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Soda_bubbles_macro.jpg.
[2] Wikipedia. Tumor hypoxia. https://en.wikipedia.org/wiki/Tumor_hypoxia. Acesso em 18 de fevereiro (2018).
[3] MJ Blomley et al. Microbubble contrast agents: a new era in ultrasound. BMJ 322, 1222 (2001).
[4] Ana Maia. Técnica não invasiva com ultrassom promete entrega precisa de medicação no cérebro. Saense. http://www.saense.com.br/2017/02/tecnica-nao-invasiva-com-ultrassom-promete-entrega-precisa-de-medicacao-no-cerebro/. Publicado em 20 de fevereiro (2017).
[5] JR Eisenbrey et al. Sensitization of hypoxic tumors to radiation therapy using ultrasound sensitive oxygen microbubbles. International Journal of Radiation Oncology 10.1016/j.ijrobp.2018.01.042 (2018).
[6] Ana Maia. Nanopartículas melhoram o efeito da imunoterapia no tratamento do câncer metastático. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/08/nanoparticulas-melhoram-o-efeito-da-imunoterapia-no-tratamento-do-cancer-metastatico/. Publicado em 21 de agosto (2017).
Como citar este artigo: Ana Maia. Oxigenar o tumor para destruí-lo. Saense. http://www.saense.com.br/2018/02/oxigenar-o-tumor-para-destrui-lo/. Publicado em 19 de fevereiro (2018).