Portal de Periódicos da CAPES
24/04/2018

Cardisoma guanhumi.[1]
O Brasil é um país que apresenta variedade incalculável de categorias em sua fauna e flora. Talvez por isso seja tão difícil catalogar informações suficientes de todas as classes, como é o caso da espécie de caranguejo Cardisoma guanhumi. “Apesar de ele ser fonte de subsistência para muitas famílias brasileiras, faltam dados sobre sua biologia, aspectos populacionais e mortalidade”, conta o pesquisador Ralf Schwamborn, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Schwamborn e a cientista Denise Moraes-Costa, também da UFPE, são autores de um estudo sobre o assunto recém-publicado pela revista científica Helgoland Marine Research. O artigo Site fidelity and population structure of blue land crabs (Cardisoma guanhumi Latreille, 1825) in a restricted-access mangrove area, analyzed using PIT tags [2] está disponível em texto completo para os usuários do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

“No momento, o status do C. guanhumi junto ao Ministério do Meio Ambiente é ‘criticamente em perigo de extinção’, o que mostra que é extremamente vulnerável. Mesmo assim, continuam as buscas para comercialização. Essas capturas são o sustento de inúmeras famílias de pescadores artesanais, o que torna o assunto bastante complexo e controverso”, explica Schwamborn. “Entender os padrões de deslocamento e as variações sazonais da espécie contribui fortemente para o manejo adequado e a conservação”, avalia.

O trabalho foi realizado em uma área preservada de manguezal, inserida no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CMA/ICMBio), em Itamaracá (Pernambuco). De acordo com Schwamborn, na área de estudo foi estimada a média do tamanho da população da área de coleta – cerca de 1312 indivíduos – através dos dados de 291 indivíduos de C. guanhumi marcados com o Passive Integrated Transponder (PIT). Cabe destacar que este foi o primeiro estudo a utilizar o método de marcação com o PIT para mostrar mudanças sazonais no comportamento da espécie.

Os indivíduos estudados apresentaram em média largura da carapaça de 43,5 mm, bem abaixo do permitido para captura no Nordeste do Brasil, que é de 60,0 mm. “Foi observado em 77% dos indivíduos recapturados um comportamento de fidelidade à sua área de origem (local onde foram capturados pela primeira vez desde o início do estudo), mesmo que fossem soltos em áreas distantes”, conta. Manter-se fiel ao sítio pode ser uma estratégia para evitar predação natural e proteger suas tocas ou pode estar relacionado ao ciclo de reprodução. “Na prática, essa população poderia ser despescada em poucos dias se não estivesse em uma área fechada e protegida”, pontua o especialista.

Os machos demostraram ser mais ativos, enquanto as fêmeas apresentaram em média 96% de fidelidade à sua área. “Talvez os indivíduos machos se desloquem explorando novas áreas ou buscando as fêmeas. Neste estudo, pela primeira vez foram observadas migrações sazonais devido ao método utilizado de marcação e recaptura. O padrão sazonal observado em outubro como o de menor fidelidade à área pode estar relacionado com o início do período reprodutivo e as buscas por parceiros”, explica Schwamborn. Por esse motivo, o estudo sugere que a proibição da captura, ou seja, o período de defeso, tenha início no mês de outubro e não em dezembro, como exige a legislação atual, o que aumentaria a proteção da espécie.

Legislação brasileira
No Brasil, segundo Ralf Schwamborn, a legislação vigente indica o tamanho apropriado para a captura dos indivíduos machos de C. guanhumi em cada estado. A Instrução Normativa nº 90 de 02/02/06 estabeleceu para o estado de Pernambuco capturas de indivíduos a partir de 60,0 mm de largura do cefalotórax/carapaça, excluindo-se os meses de dezembro a março devido ao período reprodutivo da espécie. Desde 2002, foi proibida a captura das fêmeas nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

Em dezembro de 2014, o Ministério do Meio Ambiente, através da portaria nº 445, publicou a “Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção – Peixes e Invertebrados Aquáticos”. As espécies constantes na lista foram categorizadas e as medidas de proteção foram deliberadas. “O C. guanhumi foi classificado como criticamente em perigo de extinção e ficou protegido de modo integral, incluindo, entre outras medidas, a proibição de captura, transporte, armazenamento, guarda, manejo, beneficiamento e comercialização”, detalha o pesquisador.

Mas o documento já foi substituído pelas portarias 98/2015, 163/2015 e 161/2017, sendo que esta última informa que as restrições previstas no art. 2º da portaria 445/2014 entrarão em vigor em 30 de abril de 2018. “Até lá, as capturas e a comercialização devem seguir as normas vigentes de ordenamento. Os estoques deverão ser declarados até 5 de maio de 2018 e comercializados até 30 de junho de 2018”, explica. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a prorrogação das medidas de manejo publicadas na portaria 445/2014 devem ser estabelecidas de forma mais estruturada para um manejo adequado. [3]

[1] Crédito da imagem: Weimar Meneses (Flickr) / Creative Commons (CC BY 1.0). https://www.flickr.com/photos/weimar_meneses/33120748504.

[2] D Moraes-Costa, R Schwamborn. Site fidelity and population structure of blue land crabs (Cardisoma guanhumi Latreille, 1825) in a restricted-access mangrove area, analyzed using PIT tags. Helgoland Marine Research 10.1186/s10152-017-0504-0 (2017).

[3] Esta notícia científica foi escrita por Alice Oliveira dos Santos.

Como citar esta notícia científica: Portal de Periódicos da CAPES. Investigação pode ajudar a salvar espécie de caranguejo em extinção. Texto de Alice Oliveira dos Santos. Saense. http://www.saense.com.br/2018/04/investigacao-pode-ajudar-a-salvar-especie-de-caranguejo-em-extincao/. Publicado em 24 de abril de (2018).

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