UFRGS
25/06/2019
Pesquisadores procuram encontrar alternativas terapêuticas para diminuir as consequências da hipóxia-isquemia em bebês
A hipóxia-isquemia neonatal é um fenômeno que afeta aproximadamente 1,5 a cada mil partos no mundo. Ela é definida como um transtorno que produz lesões no sistema nervoso central e ocorre quando há uma redução de oferta de oxigênio para o cérebro. Em mais da metade dos casos, o prejuízo causado pode levar a deficiências crônicas e a danos cerebrais permanentes, como paralisia cerebral, déficit de atenção e hiperatividade. Segundo um estudo realizado pelo Departamento de Fisiologia da UFRGS, o enriquecimento ambiental nos estágios iniciais do neurodesenvolvimento pode atenuar alguns dos danos induzidos pela hipóxia-isquemia. O estudo, que faz parte da tese de doutorado de Luz Elena Durán-Carabali, procura entender os efeitos da exposição ao estímulo ambiental durante o período de gravidez ou no pós-parto precoce.
O enriquecimento ambiental consiste em melhorar o bem-estar tanto físico como psicológico de indivíduos, identificando e lhes proporcionando os estímulos ambientais necessários para otimizar sua qualidade de vida. No caso dos animais, os estímulos podem ser sensoriais, de alimentação, de elementos manipuláveis, sociais (com outros animais no mesmo ambiente), de treinamento ou de melhoras no habitat, aumentando a complexidade do ambiente.
Para a realização do estudo, 24 ratas foram aleatoriamente colocadas em condições-padrão ou de enriquecimento ambiental e foram acasaladas durante o ciclo reprodutivo. As ratas grávidas foram mantidas em gaiolas individuais, conforme o grupo em que haviam sido alocadas, até o parto. Os filhotes foram submetidos ao protocolo de hipóxia-isquemia nos primeiros dias de nascimento.
Após o parto, as mães e os filhotes foram divididos novamente, formando quatro grupos. Os dois primeiros foram compostos por animais que foram mantidos, até o período de desmame, no mesmo tipo de ambiente em que as mães foram alocadas inicialmente. Os demais trocaram de ambiente após o nascimento dos filhotes: animais que estavam em condições-padrão durante a gravidez passaram para o ambiente enriquecido e vice-versa.
Os ratos na condição de enriquecimento ambiental foram alojados em gaiolas que incluíam uma roda de corrida, brinquedos, bolas, tubos de plástico, estímulos visuais contrastantes e rampas. Os itens foram rearranjados todos os dias, e novos objetos eram introduzidos duas vezes por semana. Os ratos na condição-padrão foram alojados em gaiolas com cama de serra e estímulos mínimos. Posteriormente, os filhotes foram eutanasiados para análise bioquímica.
“Uma coisa interessante que nós observamos foi que os ratos machos que eram expostos à estimulação ambiental eram favorecidos independentemente do tipo de estimulação pré-natal ou pós-natal, apresentando melhoras sociais e cognitivas em testes de memória e redução do volume da lesão, etc.”, comenta Luz Elena. Segundo a cientista, o estudo revela também, entre outros resultados, que o ambiente enriquecido atenuou o comportamento de baixa ansiedade (quando o animal prefere ficar nas áreas protegidas da gaiola durante testes) induzido pela hipóxia-isquemia em ratos de ambos os sexos e diminuiu a hiperlocomoção (quando o animal cruza muitas vezes diversas regiões da gaiola durante os testes) em fêmeas com hipóxia-isquemia.
Ainda não existem alternativas terapêuticas 100% efetivas que consigam salvar a vida dos bebês que sofrem dessa condição e ao mesmo tempo evitar os danos cerebrais em longo prazo. A proposta do estudo de Luz Elena procura encontrar alternativas terapêuticas para tentar diminuir essas consequências com outras estratégias não farmacológicas que possam ser facilmente aplicáveis. A novidade que traz essa pesquisa é que nela se estudam os animais nos períodos pré e pós-natal, junto com as diferenças de resultados em função do sexo.
Artigo científico
DURÁN-CARABALI, L. E. et al. Preventive and therapeutic effects of environmental enrichment in Wistar rats submitted to neonatal hypoxia-ischemia. Behavioural Brain Research, fev. 2019. [1]
[1] Esta notícia científica foi escrita por Jorge C. Carrasco.
Como citar esta notícia científica: UFRGS. Efeitos do estímulo ambiental sobre lesões cerebrais ocasionadas por falta de oxigênio. Texto de Jorge C. Carrasco. Saense. https://saense.com.br/2019/06/efeitos-do-estimulo-ambiental-sobre-lesoes-cerebrais-ocasionadas-por-falta-de-oxigenio/. Publicado em 25 de junho (2019).