Agência FAPESP
11/06/2019
Agência FAPESP – O Estado do Mato Grosso poderia substituir parcialmente o uso de eletricidade, diesel e óleo combustível por gás natural nos três setores que mais usam energia: agropecuária, transporte e indústria.
A conclusão é de um estudo feito no Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) financiado pela FAPESP em parceria com a empresa Shell.
Segundo a proposta do grupo coordenado pelo professor Edmilson Moutinho dos Santos, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), o gás natural teria de ser transportado na forma de gás natural liquefeito (GNL) e distribuído em pequena escala – de 320 mil m³ por dia até 3,2 milhões m³/dia.
“Concluímos que há um volume potencial de gás de 2,1 milhões de m3/dia para substituição de diesel, óleo e eletricidade nos setores econômicos estudados e a maior parte do volume potencial de substituição está na atividade agrícola. A eletricidade e o diesel são os mais propensos a serem substituídos, pois o consumo dessas fontes é bastante relevante e o custo do transporte de GNL se mostrou competitivo”, disse Dorival Santos Jr., um dos pesquisadores envolvidos no projeto, à assessoria de comunicação do RCGI.
Já a substituição do óleo combustível se mostrou menos competitiva, pois o preço e o volume consumido no Mato Grosso são inferiores aos outros dois energéticos avaliados, acrescentou Santos Jr.
A maior taxa de substituição encontrada foi a do óleo diesel no setor agrícola (potencial para absorver aproximadamente 1,2 milhão de m³ por dia, que poderia ser usado, entre outros, no processo de secagem dos grãos); seguida pelo óleo diesel no setor de transportes (500 mil m³/dia).
A ideia do estudo, segundo Santos Jr., era responder perguntas como: qual o tamanho dessa substituição? Onde ela poderia ocorrer e qual seu custo, que inclui não somente a compra do gás, mas também os processos de liquefação do gás natural, o transporte em caminhões, a estocagem e a regaseificação do GNL para consumo?
Os cientistas dividiram o estado em cinco mesorregiões, de acordo com o preconizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e imaginaram um ponto geocêntrico em cada uma delas, equidistante das unidades que representam as principais atividades econômicas locais e com acesso a rodovias.
“Trabalhamos como se todo o consumo energético acontecesse naqueles pontos, o que não é real, mas é uma estratégia para fazer uma estimativa”, disse Santos Jr.
Celeiro brasileiro
Segundo o pesquisador, o Mato Grosso foi escolhido porque tem algumas particularidades. É o maior produtor de soja, algodão, milho e carne bovina no Brasil. Tem o 13º maior Produto Interno Bruto (PIB) entre as unidades federativas. E há um gasoduto de aproximadamente 280 quilômetros (km), denominado Gasoduto Lateral-Cuiabá, conectando a Bolívia até a capital do estado, Cuiabá.
“É um ramal do Gasbol [Gasoduto Bolívia-Brasil], com capacidade de transporte de aproximadamente 4 milhões de m³/dia, que sai da Bolívia e vai até o City Gate de Cuiabá [local onde a Companhia Mato-Grossense de Gás recebe o gás vindo da Bolívia], onde existe uma usina termelétrica – a UTE Mário Covas, com capacidade de 400 MW”, disse Santos Jr.
Praticamente todo o gás que chega por esse ramal tem como finalidade abastecer a termelétrica, comprada em 2015 pelo grupo J&F e hoje em estado de hibernação, por conta de complicações judiciais.
A ideia do grupo do RCGI é que o gás natural chegue a Cuiabá pelo gasoduto, passe por processo de liquefação no City Gate e, de lá, siga por via rodoviária para os pontos escolhidos nas cinco grandes regiões do estado. Para ser consumido, o gás deve ser regaseificado.
“Essa regaseificação poderia acontecer tanto nos pontos centrais das cinco mesorregiões quanto diretamente nos estabelecimentos consumidores do gás”, disse Santos Jr.
Para estimar o potencial de substituição do uso do GNL em Mato Grosso, a equipe analisou o balanço energético do estado divulgado pela Secretaria de Planejamento.
“Hoje, aproximadamente 60% do combustível consumido no Mato Grosso é derivado do petróleo, adquirido de outras regiões produtoras. O fato de o estado ter uma relevante fronteira com a Bolívia, país com umas das maiores reservas de gás da América do Sul, e de já haver um gasoduto construído até a sua capital representa uma vantagem logística para o aumento local do consumo de gás natural. Lembrando que, além das prerrogativas logísticas, o GNL tem vantagens ambientais frente aos demais combustíveis fósseis”, disse Santos.
Mais informações: www.rcgi.poli.usp.br.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
Agência FAPESP – O Estado do Mato Grosso poderia substituir parcialmente o uso de eletricidade, diesel e óleo combustível por gás natural nos três setores que mais usam energia: agropecuária, transporte e indústria.
A conclusão é de um estudo feito no Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) financiado pela FAPESP em parceria com a empresa Shell.
Segundo a proposta do grupo coordenado pelo professor Edmilson Moutinho dos Santos, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), o gás natural teria de ser transportado na forma de gás natural liquefeito (GNL) e distribuído em pequena escala – de 320 mil m³ por dia até 3,2 milhões m³/dia.
“Concluímos que há um volume potencial de gás de 2,1 milhões de m3/dia para substituição de diesel, óleo e eletricidade nos setores econômicos estudados e a maior parte do volume potencial de substituição está na atividade agrícola. A eletricidade e o diesel são os mais propensos a serem substituídos, pois o consumo dessas fontes é bastante relevante e o custo do transporte de GNL se mostrou competitivo”, disse Dorival Santos Jr., um dos pesquisadores envolvidos no projeto, à assessoria de comunicação do RCGI.
Já a substituição do óleo combustível se mostrou menos competitiva, pois o preço e o volume consumido no Mato Grosso são inferiores aos outros dois energéticos avaliados, acrescentou Santos Jr.
A maior taxa de substituição encontrada foi a do óleo diesel no setor agrícola (potencial para absorver aproximadamente 1,2 milhão de m³ por dia, que poderia ser usado, entre outros, no processo de secagem dos grãos); seguida pelo óleo diesel no setor de transportes (500 mil m³/dia).
A ideia do estudo, segundo Santos Jr., era responder perguntas como: qual o tamanho dessa substituição? Onde ela poderia ocorrer e qual seu custo, que inclui não somente a compra do gás, mas também os processos de liquefação do gás natural, o transporte em caminhões, a estocagem e a regaseificação do GNL para consumo?
Os cientistas dividiram o estado em cinco mesorregiões, de acordo com o preconizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e imaginaram um ponto geocêntrico em cada uma delas, equidistante das unidades que representam as principais atividades econômicas locais e com acesso a rodovias.
“Trabalhamos como se todo o consumo energético acontecesse naqueles pontos, o que não é real, mas é uma estratégia para fazer uma estimativa”, disse Santos Jr.
Celeiro brasileiro
Segundo o pesquisador, o Mato Grosso foi escolhido porque tem algumas particularidades. É o maior produtor de soja, algodão, milho e carne bovina no Brasil. Tem o 13º maior Produto Interno Bruto (PIB) entre as unidades federativas. E há um gasoduto de aproximadamente 280 quilômetros (km), denominado Gasoduto Lateral-Cuiabá, conectando a Bolívia até a capital do estado, Cuiabá.
“É um ramal do Gasbol [Gasoduto Bolívia-Brasil], com capacidade de transporte de aproximadamente 4 milhões de m³/dia, que sai da Bolívia e vai até o City Gate de Cuiabá [local onde a Companhia Mato-Grossense de Gás recebe o gás vindo da Bolívia], onde existe uma usina termelétrica – a UTE Mário Covas, com capacidade de 400 MW”, disse Santos Jr.
Praticamente todo o gás que chega por esse ramal tem como finalidade abastecer a termelétrica, comprada em 2015 pelo grupo J&F e hoje em estado de hibernação, por conta de complicações judiciais.
A ideia do grupo do RCGI é que o gás natural chegue a Cuiabá pelo gasoduto, passe por processo de liquefação no City Gate e, de lá, siga por via rodoviária para os pontos escolhidos nas cinco grandes regiões do estado. Para ser consumido, o gás deve ser regaseificado.
“Essa regaseificação poderia acontecer tanto nos pontos centrais das cinco mesorregiões quanto diretamente nos estabelecimentos consumidores do gás”, disse Santos Jr.
Para estimar o potencial de substituição do uso do GNL em Mato Grosso, a equipe analisou o balanço energético do estado divulgado pela Secretaria de Planejamento.
“Hoje, aproximadamente 60% do combustível consumido no Mato Grosso é derivado do petróleo, adquirido de outras regiões produtoras. O fato de o estado ter uma relevante fronteira com a Bolívia, país com umas das maiores reservas de gás da América do Sul, e de já haver um gasoduto construído até a sua capital representa uma vantagem logística para o aumento local do consumo de gás natural. Lembrando que, além das prerrogativas logísticas, o GNL tem vantagens ambientais frente aos demais combustíveis fósseis”, disse Santos.
Mais informações: www.rcgi.poli.usp.br.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
Como citar esta notícia científica: Agência FAPESP. Pesquisa mostra potencial do gás natural no Mato Grosso. Saense. https://saense.com.br/2019/06/pesquisa-mostra-potencial-do-gas-natural-no-mato-grosso/. Publicado em 11 de junho (2019).