UFMG
25/01/2021

Bonde virado no Rio de Janeiro durante a chamada Revolta da Vacina, em 1904 (Wikipedia / Domínio Público)

Um estudo inédito e abrangente sobre a trajetória da criação e do aperfeiçoamento da vacina antivariólica é tema do livro Corpos inscritos: vacina e biopoder. Londres e Rio de Janeiro, 1840-1904, de autoria da professora Myriam Bahia, da Escola de Arquitetura.

O assunto foi explorado, segundo a autora, sob múltiplas perspectivas, entre elas, a científica, pela qual se buscou descrever o processo secular de aprimoramento da vacinação, até que ela se tornasse uma medida segura.

“Também investiguei o episódio como linha divisória de nova espacialização da doença e da promoção da saúde e como o primeiro movimento de formação da opinião pública em escala planetária”, explica Myriam Bahia, ressalvando que o impacto da propaganda no aprimoramento técnico da vacinação foi, em alguns momentos, negativo.

A obra destrincha a dinâmica do lançamento e aplicação do imunizante e a polarização do debate sobre a vacinação, com base em ampla pesquisa documental em arquivos e bibliotecas brasileiros e europeus. “Procuro revelar as escolhas sociais e técnicas realizadas nesse processo”, afirma a autora.

O estudo revisita, de forma crítica, um debate que mobilizou vertentes científicas e políticas em um período de 64 anos – 1840 até 1904 –, adotando como polos as cidades de Londres e Rio de Janeiro, que abrigavam os principais portos dos respectivos países à época. “Eram territórios-chave para a compreensão do complexo processo que tornou a vacinação obrigatória e componente da política pública da intervenção sanitário-social apoiada com frequência na violência das palavras e/ou na força policial”, registrou, no prefácio da obra, a professora Maria Stella Martins Bresciani, do Departamento de História da Unicamp.

Aproximações
Myriam Bahia salienta que o objetivo do livro “é mostrar a complexidade de fatores que estão relacionados a uma epidemia ou pandemia”­. Ela faz aproximações entre os contextos da epidemia de varíola, ocorrida de meados do século 19 até o início do século 20, e da atual pandemia do coronavírus. “Ambos os surtos aconteceram em decorrência de aumento da circulação de pessoas e mercadorias pelo planeta, da densificação da população nas grandes cidades e da transferência de animais silvestres para perto do homem”, enumera.

A lição aprendida da epidemia que assolou o mundo por vários séculos é bastante atual, como define a historiadora. “Não adianta vacinar e continuar adensando a população ou deixá-la em condições precárias de moradia e alimentação, destruir os ecossistemas e favorecer o processo de transição climática”, argumenta a professora.

Corpos inscritos: vacina e biopoder. Londres e Rio de Janeiro, 1840-1904 é resultado da tese de doutorado em História defendida por Myriam Bahia na Universidade de Paris, em 1997. A obra foi editada pelo Laboratório do Núcleo de História da Ciência e da Técnica (Nehcit/UFMG), em parceria com o Centro Interdisciplinar de Estudos sobre Cidade (Ciec/Unicamp), e tem lançamento previsto para 3 de fevereiro. O livro será distribuído pelos correios ao preço de R$ 45. Pedidos podem ser feitos por meio do telefone (31) 98671-7303 e do e-mail marciamoreira1@hotmail.com.

Historiadora de formação, Myriam Bahia Lopes é coordenadora do Nehcit.

(Matheus Espíndola)

Como citar este texto: UFMG. História do movimento suscitado pela vacina antivariólica. Texto de Matheus Espíndola. Saense. https://saense.com.br/2021/01/historia-do-movimento-suscitado-pela-vacina-antivariolica/. Publicado em 25 de janeiro (2021).

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