Tábata Bergonci
09/01/2021

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Estima-se que aproximadamente 20% das pessoas que se envolvem de alguma forma (sendo vítimas ou presenciando outra vítima) em eventos violentos, como agressões físicas, assaltos, acidentes, catástrofes, sequestros, entre outros, desenvolvem um transtorno de ansiedade específico, chamado de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT). Esse transtorno pode se manifestar em qualquer faixa etária, podendo levar meses ou até anos após o evento traumático para se desenvolver.

Existem extensos estudos neurobiológicos relacionados ao TEPT, mas pouquíssimas pesquisas no âmbito dos determinantes moleculares da doença. Na verdade, a maioria dos transtornos psiquiátricos ainda é pouco estudado na área de genética (em 2016 eu tratei das primeiras descobertas de regiões genômicas e depressão nesse estudo aqui). Agora, um novo artigo publicado na revista Nature Neuroscience traz a descoberta de dois genes expressos no córtex pré-frontal que estão relacionados ao TEPT [2].

No estudo, os pesquisadores analisaram quatro regiões do córtex pré-frontal de tecidos post-mortem de pessoas com TEPT. Eles encontraram que existe uma extensa mudança na organização transcricional no córtex desses cérebros. Eles também encontraram dimorfismo sexual transcriptômico acentuado, o que poderia explicar os motivos das taxas mais altas de TEPT em mulheres. Outro dado interessante que eles encontraram foi que córtex de cérebros depressivos mostram organização transcricional bastante diferente de cérebros TEPT, apesar de muitas vezes as doenças se apresentarem juntas.

De todos os genes diferentemente expressos encontrados nos córtex de cérebros TEPT, o que mais chama atenção é o ELFN1. ELFN1 é um gene sináptico interneurônio, ou seja, um gene que é ativo nos interneurônios (neurônio que transmite impulso entre outros neurônios, possibilitando a comunicação entre esses). Nas mulheres, esse gene foi encontrado sendo mais expresso que em homens. A expressão desse gene também é alterada em pessoas com transtorno bipolar, autismo e esquizofrenia.

Como ELFN1 e outros genes encontrados nesse estudo são fatores importantes na regulação de inibição e excitação no cérebro, pode-se pensar em melhores tratamentos para pessoas que sofrem de TEPT. Hoje, o maior alvo no tratamento contra TEPT ainda é a serotonina. As descobertas em relação ao gene ELFN1 pode, em última análise, revelar novos alvos moleculares para o desenvolvimento de drogas. [3]

[1] Imagem: albastrica mititica, Flickr, CC BY 2.0.

[2] Girgenti, M.J., Wang, J., Ji, D. et al. Transcriptomic organization of the human brain in post-traumatic stress disorder. Nat Neurosci 24, 24–33 (2021). https://doi.org/10.1038/s41593-020-00748-7.

[3] Artigo relacionado: Tábata Bergonci. A genética da depressão: novo estudo identifica regiões do genoma associadas ao transtorno. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/08/a-genetica-da-depressao-novo-estudo-identifica-regioes-do-genoma-associadas-ao-transtorno/. Publicado em 10 de agosto (2016).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Transtorno do Estresse Pós-Traumático: como os genes se expressam no cérebro humano? Saense. https://saense.com.br/2021/01/transtorno-do-estresse-pos-traumatico-como-os-genes-se-expressam-no-cerebro-humano/. Publicado em 09 de janeiro (2021).

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